Nos tempos de Salazar, os que acusavam o
regime de promover a ignorância e a estagnação cultural, tinham uma frase jocosa
para dizê-lo: o fado é qu’induca e o futebol é qu’instrói! Hoje, volvidos 46
anos após a queda desse regime, os mesmos que leva a II República Portuguesa, a
frase não passou à história e o seu princípio nunca foi tão actual,
considerando o que badalam as televisões e o que aumenta o seu nível de
audiências, num retorno à “política de pão e circo” que leva milhares de anos e
que entre nós está longe da falência. O exemplo mais descarado desta ignorância
milenar e possivelmente ad eternum, é
o destaque dado à infecção de Cristiano Ronaldo pelo Covid-19. Ainda que o
futebolista esteja assintomático, a exagerada mediatização de que tem sido alvo
é sintomática do poucochinho que somos e justifica o modo como temos sido
tratados ao longo de décadas. E quando assim é, Brito Camacho(1)
parece levar de vencida Camões, porque o grande poeta dizia que “mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades” e o político aljustrelense, sem qualquer pejo,
profetizou que “as moscas mudam, mas a merda é a mesma”. Eu quero que o
futebolista madeirense se recupere o mais rápido possível por três razões:
porque não desejo ver ninguém doente, já estou farto de ouvir falar dele e
quero ver o meu País a andar para a frente!
(1) Manuel de Brito Camacho (1862-1934), Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, médico militar (Coronel), escritor, publicista e político que, entre outros cargos de relevo, exerceu as funções de Ministro do Fomento e de Alto-comissário da República em Moçambique durante a I República Portuguesa, sendo também fundador e líder do Partido Unionista.
Sem comentários:
Enviar um comentário