quarta-feira, 14 de outubro de 2020

NÓS POR CÁ: O FADO É QU’INDUCA E O FUTEBOL É QU’INSTRÓI

 

Nos tempos de Salazar, os que acusavam o regime de promover a ignorância e a estagnação cultural, tinham uma frase jocosa para dizê-lo: o fado é qu’induca e o futebol é qu’instrói! Hoje, volvidos 46 anos após a queda desse regime, os mesmos que leva a II República Portuguesa, a frase não passou à história e o seu princípio nunca foi tão actual, considerando o que badalam as televisões e o que aumenta o seu nível de audiências, num retorno à “política de pão e circo” que leva milhares de anos e que entre nós está longe da falência. O exemplo mais descarado desta ignorância milenar e possivelmente ad eternum, é o destaque dado à infecção de Cristiano Ronaldo pelo Covid-19. Ainda que o futebolista esteja assintomático, a exagerada mediatização de que tem sido alvo é sintomática do poucochinho que somos e justifica o modo como temos sido tratados ao longo de décadas. E quando assim é, Brito Camacho(1) parece levar de vencida Camões, porque o grande poeta dizia que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e o político aljustrelense, sem qualquer pejo, profetizou que “as moscas mudam, mas a merda é a mesma”. Eu quero que o futebolista madeirense se recupere o mais rápido possível por três razões: porque não desejo ver ninguém doente, já estou farto de ouvir falar dele e quero ver o meu País a andar para a frente!

(1) Manuel de Brito Camacho (1862-1934), Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, médico militar (Coronel), escritor, publicista e político que, entre outros cargos de relevo, exerceu as funções de Ministro do Fomento e de Alto-comissário da República em Moçambique durante a I República Portuguesa, sendo também fundador e líder do Partido Unionista.

Sem comentários:

Enviar um comentário