quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O ESTRANHO MAS IMPORTANTE OFÍCIO DE EBA

 

EBA é uma cadela de conservação, uma rafeira de 5 anos que foi abandonada à porta de um abrigo na Califórnia. Quando foi encontrada, estava húmida e com tanto frio que pensaram que não sobreviveria. Hoje, vive na Ilha de San Juan, no Estado de Washington, (USA) e foi adoptada em 2017 pela bióloga Deborah Giles que se dedica ao estudo das Orcas. Ela não é só especial para a Dr.ª Giles, é também importante para as ameaçadas baleias que ajuda a salvar, uma vez que foi treinada para isso pela Conservation Canines em 2019. O trabalho de Eba consiste em farejar cocó flutuante de Orca. Em junho de 2019, ela foi previamente treinada em terra durante 5 dias através de amostras fecais de baleia que foram congeladas para preservação e descongeladas para o seu treino.

Uma vez na água, depois das baleias passarem, o barco de Eba é posicionado a favor do vento e onde os cientistas esperam encontrar matéria fecal. Depois aguardam as reacções da cadela e guiam o barco na direcção em que a cadela fareja. No início da detecção, o corpo do animal fica rígido e assim que atinge o centro do cone de cheiro, ela começa a ganir incessantemente e, ao passar por ele, a Eba começará a correr lateralmente pelo barco, indicação suficiente para virá-lo contra o vento e ir em direcção à amostra. Logo que os dejectos são recolhidos, a prestimosa cadela é convidada para brincar com o seu brinquedo predilecto (recompensa).

Monitorar a saúde de baleias selvagens é desafiador e arriscado para baleias e pessoas, particularmente quando se um dardo de biópsia para recolher uma amostra de gordura. A detecção canina das fezes de baleia não é invasiva, não fere estes grandes mamíferos aquáticos e permite aos investigadores ficar mais longe deles. Através da recolha de fezes podemos saber o ADN de uma orca em particular, distinguir refeições recentes por espécie, identificar uma gravidez, medir os níveis de stress e detectar produtos químicos e outros poluentes, como é o caso dos plásticos. Neste caso concreto, não é só a saúde das baleias que está a ser monitorada, mas também a saúde do seu meio ambiente, do salmão, dos rios e riachos que desaguam no Mar Salish.

O controlo da saúde das orcas é também importante para se saber se estão famintas e stressadas por viverem em águas poluídas sem salmão selvagem suficiente para se manterem saudáveis. Ao identificar as causas da fome e das doenças das baleias, poder-se-á trabalhar com os responsáveis do sector de pesca para se encontrar novas maneiras de aumentar as populações do salmão selvagem de que dependem e melhorar a saúde de todo o ecossistema em que vivem, o que não apenas é apenas bom para as orcas, mas também para a população humana que com elas coabita. Quem diria que uma cadela rafeira, ao cheirar cocó de orca, está a contribuir para a salvação de uma espécie e a melhorar o ecossistema para onde foi destacada!

Eba é uma variação latina de “Eva” e o nome assenta-lhe na perfeição, porque esta cadela poderá ser a primeira de muitas que poderão ajudar na recuperação dos nossos ecossistemas aquáticos (lagos, rios e mares). Desconheço se os golfinhos do Sado são também objecto de um monitoramento algo semelhante, o que a existir, contribuirá definitivamente para um rio mais limpo e para o bem-estar das populações ao seu redor. Estranhamente, mal oiço falar destes golfinhos-roazes, o que tanto pode ser muito bom como muito mau, muito bom se está tudo de acordo com o seu bem-estar, não havendo por isso necessidade de falar deles e muito mau caso estejam abandonados à sua sorte, sem que ninguém se preocupe com eles. De qualquer modo, gostaria de ter notícias suas antes de nos dizerem adeus.

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