Quando
os seus donos a trouxeram para casa chamaram-lhe “STEA MICĂ” (Pequena Estrela),
quando se tornou a mascote da casa passou a chamar-se somente de “Mică” e cresceu
feliz no seio de uma família que a amava (o amor era recíproco) e ao lado de um
menino que guardava diligentemente. Estamos a falar de uma cadela meiga e
dedicada cuja histórica verídica vamos agora contar, muito embora o seu nome tenha
sido alterado por razões de privacidade ligadas às pessoas à sua volta.
Passados alguns anos, os cães não têm muitos pela frente, nos encontros e
desencontros em que a vida é fértil, com ela já a caminhar para a velhice,
viu-se obrigada a abandonar o seu território, a aceitar outra liderança e a
adaptar-se a um novo grupo familiar, pródigo em cães que a atacavam
impiedosamente. Contudo, a dona e o menino, que eram o melhor dos seus bens,
continuavam a seu lado e por eles tudo suportava, demonstrando-lhes sempre a
mesma lealdade e carinho.
Quando
menos esperava, por razões de quase nada, foi desterrada para um monte
distante, para o meio de gente estranha e de outros cães, longe da família e do
território que entretanto já considerava seu. Certo dia, na companhia de mais
dois cães, aproveitando-se de uma porta mal fechada, pôs-se em fuga. Os outros
voltaram, mas ela não! Decidida a reencontrar quem tanto amava, pôs-se à estrada
e deixou de ser vista, empenhada em fazer uma caminhada com mais de 100 km. Já
lá vai uma semana e não há notícia dela, conseguirá retornar a casa?
Gostaríamos que sim, os milagres acontecem, mas atendendo à sua idade, à
grandeza do esforço e aos perigos que terá pela frente, dificilmente será bem-sucedida.
Se não for acolhida por alguém, lamentavelmente, acabará por sucumbir de exaustão,
ser atropelada, electrocutada ou rasgada de morte em cerca de arame farpado.
Esta história verídica, cujo final é ainda desconhecido, é o relato dos infortúnios de uma cadela a quem sucessivamente foram tirando tudo, apesar da sua nobreza e lealdade, a narrativa de um animal que não se dá por vencido, que luta desesperadamente e até ao último momento pela sua sobrevivência, enquanto ser social e carente de bem-estar. Os seus donos não sairão desta história incólumes ou desculpabilizados caso a cadela morra, carregarão para sempre a dura pena de a terem desterrado e condenado à morte gratuitamente, mercê da indiferença e cobardia que tendem a vencer qualquer compromisso. Mais tarde, com peso dos anos e o avolumar da culpa, quererão encontrá-la e jamais a verão. Eu bem sei que os humanos tendem a desconsiderar, a desprezar e a afastar os mais velhos do seu quotidiano, mas se você for diferente e tiver um cão idoso, conserve-o no seu território de sempre, não o prive da sua presença e cuide dele até ao seu último suspiro. Se conseguir fazer isso, receba deste já o nosso muito obrigado.
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