quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

UM HERÓI SÓ COM 3 PATAS

Numa tarde fria de Domingo, num lugar inóspito mas nem por isso menos concorrido, deparámo-nos com um mestiço de Serra de Aires, activo, brincalhão e bem disposto, que nasceu sem uma pata traseira, contratempo que não o impedia de correr e saltar por toda a parte, apesar de sobrecarregar o outro flanco. Em vão tentaram os donos colocar-lhe uma prótese, porque sentindo-se incomodado, depressa a arrancava. A diferença de massa muscular das coxas era por demais evidente, porque apenas usava o coto quando se encontrava parado, recolhendo o membro amputado tanto a passo como a galope. Metemos conversa com os donos e sentimo-los preocupados com a saúde do animal, já que temiam que a deficiência levasse à alteração do esqueleto e viesse, por via da sobrecarga, a produzir displasia. Neste casos e dizemos isto pela experiência, a maneira mais profícua e menos dolorosa para vencer a atrofia muscular, é o exercício da natação, porque não causa impacto e a ausência da pata não impedirá o movimento que induz ao desenvolvimento da coxa. É evidente que o cão irá precisar de estímulo e ajuda para aprender a nadar e que só o deverá fazer quando a temperatura da água se encontrar acima dos 15º célsius, porque doutro modo, mais agravaria a sua saúde articular. E como são raríssimas as piscinas caninas de água aquecida em Portugal, os seus donos terão que esperar pela generosidade dos dias da Primavera e do Verão.
A hidroterapia canina, que também se presta à resolução de problemas neurológicos e comportamentais, encontra-se pouco divulgada em Portugal, por ausência de responsáveis, técnicos e meios, não obstante produzirmos veterinários em bardo e sermos dos países europeus com mais cães de companhia. Oxalá alguns jovens clínicos se lembrem dela, porque dos adestradores já pouco se espera, uma vez que há muito varreram as piscinas das suas pistas e centros de treino. Há que inovar e trabalhar pela recuperação dos cães, fazer constar a hidroterapia da fisioterapia veterinária, à qual pertence apesar de esquecida.

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