Numa
tarde fria de Domingo, num lugar inóspito mas nem por isso menos concorrido,
deparámo-nos com um mestiço de Serra de Aires, activo, brincalhão e bem
disposto, que nasceu sem uma pata traseira, contratempo que não o impedia de
correr e saltar por toda a parte, apesar de sobrecarregar o outro flanco. Em
vão tentaram os donos colocar-lhe uma prótese, porque sentindo-se incomodado,
depressa a arrancava. A diferença de massa muscular das coxas era por demais
evidente, porque apenas usava o coto quando se encontrava parado, recolhendo o
membro amputado tanto a passo como a galope. Metemos conversa com os donos e
sentimo-los preocupados com a saúde do animal, já que temiam que a deficiência
levasse à alteração do esqueleto e viesse, por via da sobrecarga, a produzir
displasia. Neste casos e dizemos isto pela experiência, a maneira mais profícua
e menos dolorosa para vencer a atrofia muscular, é o exercício da natação,
porque não causa impacto e a ausência da pata não impedirá o movimento que induz
ao desenvolvimento da coxa. É evidente que o cão irá precisar de estímulo e
ajuda para aprender a nadar e que só o deverá fazer quando a temperatura da água
se encontrar acima dos 15º célsius, porque doutro modo, mais agravaria a sua
saúde articular. E como são raríssimas as piscinas caninas de água aquecida em
Portugal, os seus donos terão que esperar pela generosidade dos dias da
Primavera e do Verão.
A
hidroterapia canina, que também se presta à resolução de problemas neurológicos
e comportamentais, encontra-se pouco divulgada em Portugal, por ausência de
responsáveis, técnicos e meios, não obstante produzirmos veterinários em bardo
e sermos dos países europeus com mais cães de companhia. Oxalá alguns jovens
clínicos se lembrem dela, porque dos adestradores já pouco se espera, uma vez
que há muito varreram as piscinas das suas pistas e centros de treino. Há que
inovar e trabalhar pela recuperação dos cães, fazer constar a hidroterapia da
fisioterapia veterinária, à qual pertence apesar de esquecida.
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