A Ilha de
Bali é um destino turístico de eleição, daqueles que quem pode, não desperdiça.
Território e Província da Indonésia, é uma das suas 13.667 ilhas e o último
bastião hindu naquelas paragens. Parte integrante das Pequenas Ilhas de Sonda, faz
parte dum arquipélago com 547 ilhas. Situa-se entre as Ilhas de Java e Lombok,
a sua capital é Dempassar e é o maior destino turístico da República Indonésia.
Para além das paisagens e praias paradisíacas, da riqueza e carácter único da
sua cultura, da afabilidade das suas gentes, dos seus templos, danças e
pinturas, que fascinam, Bali também tem um cão autóctone, a aguardar o reconhecimento
da FCI: o Kintamani, muito pelo esforço da equipa comandada pelo Sr.
Hartaningsih.
A
Eurásia, a Ásia, o Sudoeste Asiático e a Oceânia, são fartas em cães
primitivos, em pequenos lobos familiares, tipo pária e semi-selvagens, que
nalguns casos supriram e continuam a suprir as necessidades de proteína animal
das populações, ainda que no passado tenham desempenhado outro tipo de parceria
pela domesticação operada, sobressaindo os molossos de montanha e um largo número
de variedades de spitz, homogeneidade alcançada mais tarde, pela mistura dos
cães nativos com outros que acompanharam as sucessivas migrações humanas, tanto
de cariz político como religioso, como foi o caso do Império Mongol, das
viagens marítimas chinesas e da expansão do budismo e do islamismo, que no seu
todo fizeram proliferar do médio-oriente à Oceânia cães muito idênticos, dos
pontos de vista morfológico, psicológico e social. Neste grupo podemos inserir
o Kintamani, ainda que menos sujeito a influências exteriores e por isso mesmo
totalmente arredado do contributo das actuais raças europeias, embrionárias ou
modernas. Uma vez padronizado, o Kintamani, considerando as suas
características atávicas, saúde e performances atléticas, tanto poderá
contribuir para a formação de novas raças como para o melhoramento das actuais,
dependendo isso da utilidade canina procurada.
Como já
se disse atrás, o Kintamani é um cão tipo spitz, natural da Ilha de Bali e da
Cidade de que lhe deu o nome, que pode ser também encontrado em Sukawana. Ganha crédito
a possibilidade de descender do Chow-Chow, que há 600 anos atrás foi
introduzido na Ilha por chineses, como a tradição oral sempre disse e agora
comprovada por exames genéticos recentes, deitando por terra a hipótese de ter
resultado da mistura “lobo-raposa-cão”, alvitrada por alguns. Apesar de ter sempre
convivido com os restantes cães semi-selvagens (cães de rua) e de terem uma
origem comum, as diferenças morfológicas entre ambos são por demais evidentes,
sendo aparentado com o Dingo e com outras raças asiáticas, o que lhe garante a
origem nos cães selvagens de Bali e não dos provenientes da eurásia. As fêmeas
ainda conservam o hábito de cavarem e parirem num covil, marca indubitável do
seu atavismo e ancestralidade. Há quem diga, por analogia, que o Kintamani
lembra a mistura entre um Malamute e um Samoiedo.
Estamos
na presença de um cão médio, de orelhas erectas, olhos amendoados e castanhos,
testa larga, de eixos craniofaciais superiores paralelos, com 50% de crânio e
focinho, rectangular, de dorso paralelo ao solo (nalguns casos com a garupa
ligeiramente mais alta do que a cernelha), de peito pouco profundo, recto ou
pouco angulado de angulações traseiras, de cauda dobrada a partir da linha
média, de fácil transição para o galope e de pele negra, de pêlo longo e ainda
mais comprido e intenso do pescoço para o peito. A cor preferida é o branco,
com um tom mais avermelhado na parte superior do revestimento e com orelhas cor
de damasco, apesar de subsistirem exemplares unicolores brancos, pretos e
beges, e bicolores castanho e branco, dourado e preto e preto e branco, estes
últimos mais próximos dos cães de rua presentes em Bali. A altura dos machos vai
dos 45 para 55cm e a das fêmeas dos 40 para os 50cm.
Segundo
as informações que nos chegam, provenientes dos seus criadores e de quem o
conhece, o Kintamani é um cão muito independente, territorial, agressivo dentro
do seu espaço, inteligente, resistente e suave, leal e amigo do dono, com um
raro sentido de alerta, sendo muito procurado como animal de estimação,
passando a vida empoleirado em muros e telhados, graças à ligeireza de pés e a
uma agilidade acima da média. Diante desta descrição, porque escrever
apaixonadamente sobre cães é fazê-lo por amor à verdade, podemos concluir que é
mais um cão de alarme do que um típico cão de guarda, um cão mais para ser
apreciado do que para ser usado, que devidamente acompanhado nos seus ciclos
infantis, poderá ser usado na detecção de explosivos e de estupefacientes, como
cão de show e de agility. A tremenda independência que patenteia, comum à
maioria dos spitzs, irá obrigar a um treino afectuoso e persistente, melhor
conseguido a partir dos brinquedos e por uma liderança mais suave ou
dissimulada, pois quem já se dedicou ao treino de cães primitivos e viveu a seu
lado, sabe que a inteligência humana tem que se sobrepor à sua astúcia, para
que imposição não inviabilize a parceria desejada. À parte disto, porque lhes é
contranatura, quando verdadeiramente condicionados, saturam-se e alcançam a
senilidade mais cedo, ainda que fisicamente não denotem qualquer fragilidade.
Há que
louvar e incentivar o esforço dos balineses pela selecção, divulgação e
exaltação do Kintamani, caso único na Indonésia e que só dignifica quem abraçou
essa aposta. Para nós, que nos dedicamos ao trabalho, ele não é um produto
acabado, mas poderá ser, como atrás já o dissemos, um melhorador de raças
fustigadas por impropriedades de vária ordem. Elevar o Kintamani é salvá-lo da
extinção e dotar a cinotecnia intercontinental de uma raça pouco vista, que
melhor ajudará à compreensão do lobo familiar como um todo. Para nós há uma
raça oriental incontornável: o Chow-Chow, um melhorador de raças por
excelência, que transmite resistência, carácter e maior impulso ao
conhecimento, quando combinado com a maioria dos lupinos, independentemente de
serem primitivos e sem fim à vista ou objecto de selecção continuada com
objectivos específicos.
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