sábado, 27 de dezembro de 2014

A “FBP” (m/948) E O MALINOIS

Se entendermos os cães como armas, então o Malinois será uma “FBP m/948”, o Rottweiler uma “Mauser m/937” e o Pastor Alemão uma “G3 m/63”, considerando a segurança, o tipo e a eficácia dos seus ataques. A “FBP” é uma arma de fabrico nacional, obra do então Major de Artilharia Gonçalves Cardoso, que a elaborou na década de 40 do século passado. A sua patente acabou por ser mal vendida aos americanos, onde veio a ganhar o nome de “Lusa”. Trata-se de uma pistola-metralhadora, de calibre 9mm Parabellum, com um alcance eficaz de 100m, com um alcance útil de 25 a 50m, com um comprimento 805mm, de 4.020kg com o carregador municiado, com munição 9X19 Parabellum a 8g, com uma velocidade de saída do projéctil de 360m/s, alimentada por um carregador metálico unifilar de 32 munições, cuja segurança acontece por imobilização da culatra e que a partir do modelo m/963, juntou ao tiro automático o semi-automático, funcionando por inércia da culatra, na posição aberta, com uma cadência de tiro de 500 tpm, cujo fabrico inicial remonta a 1961, na Fábrica de Braço de Prata, donde lhe adveio a sigla “FBP”. No modelo seguinte (m/976), desenvolvido em 1976, a adição de uma manga de refrigeração, acidentalmente, veio a melhorar a sua precisão.
De qualquer modo, esta arma nunca foi fiável, devido à posição de soltura da mola do carregador, que diante da aflição e embaraço do atirador ao empunhá-la, poderia soltar-se, inviabilizando assim qualquer disparo. E como se isto não bastasse, o seu sistema de segurança não era famoso, porque caso caísse ou batesse no chão com mais força, podia disparar-se acidentalmente. Por tudo isto, foi considerada obsoleta, apesar de destinada às tropas de combate portuguesas na Guerra Colonial, que pouco a utilizaram em termos operacionais. É grande a analogia entre a velha “FBP” e o Malinois, porque este cão confunde alvos e dispara quando menos se espera, ensurdece-se perante as ordens, tarda na cessação das acções e não escolhe inimigos, desgastando-se inutilmente e denunciando a sua posição antes das perseguições ou capturas (a “FBP” original desperdiçava munição), invalidando o efeito surpresa e sujeitando-se aos contra-ataques, embalado que vai pelo impulso à luta e pelo instinto de presa, predicados que em demasia, irão impedir os ataques cirúrgicos. Apesar de não lhe faltar fixação, falta-lhe a concentração que possibilita o estudo pormenorizado da presa e a sua posterior neutralização. O desfasamento entre os impulsos ao movimento e ao conhecimento é deveras acentuado, o que o induz a ataques instintivos sobre o que mexe e não sobre o que é passível de lhe causar dano.
A demora no retorno, pela cegueira na captura, vulnerabiliza os seus condutores pela ausência de pronto auxílio, o que poderá ser resolvido pela mecanicidade das acções, destes que estas não obstem à tenacidade pretendida, uma vez que o Malinois acusa de sobremaneira a sobrecarga e não dispensa uma dose maciça de ânimo. Tal qual a “FBP”, este cão belga é uma arma ligeira, como tal de tiro tenso, que junta ao pronto disparo um travamento periclitante. Naturalmente ansioso e excitado, desnecessita de ordem e provocação para o despoletar das suas acções, dispensando os seus condutores de maior empenho no treino das induções defensivas e ofensivas, o que o torna desejável para qualquer um, ainda que instável e por isso mesmo problemático, vantagens e impropriedades ligadas à sua morfologia e peso. Será que também precisa de uma manga de refrigeração para ser mais certeiro ou necessitará de outras mãos para o controlar? Pô-lo a morder é fácil, difícil é segurá-lo. O que é certo é que os Malinois acima dos 30kg já emprestam à sua prestação maior segurança, apesar de raros e atípicos segundo os critérios actuais. Voltaremos a este assunto oportunamente, aquando duma edição dedicada aos cães de guerra e policiais, onde compararemos os mais usados e aquilataremos das vantagens e desvantagens duns e doutros.

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