Se entendermos os cães como armas, então
o Malinois será uma “FBP m/948”, o Rottweiler uma “Mauser m/937” e o Pastor Alemão uma “G3 m/63”, considerando a
segurança, o tipo e a eficácia dos seus ataques. A “FBP” é uma arma de fabrico
nacional, obra do então Major de Artilharia Gonçalves Cardoso, que a elaborou
na década de 40 do século passado. A sua patente acabou por ser mal vendida aos
americanos, onde veio a ganhar o nome de “Lusa”. Trata-se de uma
pistola-metralhadora, de calibre 9mm Parabellum, com um alcance eficaz de 100m,
com um alcance útil de 25 a
50m, com um comprimento 805mm, de 4.020kg com o carregador municiado, com
munição 9X19 Parabellum a 8g, com uma velocidade de saída do projéctil de 360m/s,
alimentada por um carregador metálico unifilar de 32 munições, cuja segurança
acontece por imobilização da culatra e que a partir do modelo m/963, juntou ao
tiro automático o semi-automático, funcionando por inércia da culatra, na
posição aberta, com uma cadência de tiro de 500 tpm, cujo fabrico inicial
remonta a 1961, na Fábrica de Braço de Prata, donde lhe adveio a sigla “FBP”.
No modelo seguinte (m/976), desenvolvido em 1976, a adição de uma manga
de refrigeração, acidentalmente, veio a melhorar a sua precisão.
De qualquer modo, esta arma nunca foi fiável,
devido à posição de soltura da mola do carregador, que diante da aflição e
embaraço do atirador ao empunhá-la, poderia soltar-se, inviabilizando assim
qualquer disparo. E como se isto não bastasse, o seu sistema de segurança não
era famoso, porque caso caísse ou batesse no chão com mais força, podia
disparar-se acidentalmente. Por tudo isto, foi considerada obsoleta, apesar de destinada
às tropas de combate portuguesas na Guerra Colonial, que pouco a utilizaram em
termos operacionais. É grande a analogia entre a velha “FBP” e o Malinois, porque
este cão confunde alvos e dispara quando menos se espera, ensurdece-se perante
as ordens, tarda na cessação das acções e não escolhe inimigos, desgastando-se
inutilmente e denunciando a sua posição antes das perseguições ou capturas (a
“FBP” original desperdiçava munição), invalidando o efeito surpresa e
sujeitando-se aos contra-ataques, embalado que vai pelo impulso à luta e pelo
instinto de presa, predicados que em demasia, irão impedir os ataques
cirúrgicos. Apesar de não lhe faltar fixação, falta-lhe a concentração que possibilita
o estudo pormenorizado da presa e a sua posterior neutralização. O desfasamento
entre os impulsos ao movimento e ao conhecimento é deveras acentuado, o que o induz
a ataques instintivos sobre o que mexe e não sobre o que é passível de lhe causar
dano.
A demora
no retorno, pela cegueira na captura, vulnerabiliza os seus condutores pela
ausência de pronto auxílio, o que poderá ser resolvido pela mecanicidade das
acções, destes que estas não obstem à tenacidade pretendida, uma vez que o
Malinois acusa de sobremaneira a sobrecarga e não dispensa uma dose maciça de
ânimo. Tal qual a “FBP”, este cão belga é uma arma ligeira, como tal de tiro
tenso, que junta ao pronto disparo um travamento periclitante. Naturalmente
ansioso e excitado, desnecessita de ordem e provocação para o despoletar das
suas acções, dispensando os seus condutores de maior empenho no treino das
induções defensivas e ofensivas, o que o torna desejável para qualquer um,
ainda que instável e por isso mesmo problemático, vantagens e impropriedades
ligadas à sua morfologia e peso. Será que também precisa de uma manga de
refrigeração para ser mais certeiro ou necessitará de outras mãos para o
controlar? Pô-lo a morder é fácil, difícil é segurá-lo. O que é certo é que os
Malinois acima dos 30kg já emprestam à sua prestação maior segurança, apesar de
raros e atípicos segundo os critérios actuais. Voltaremos a este assunto
oportunamente, aquando duma edição dedicada aos cães de guerra e policiais,
onde compararemos os mais usados e aquilataremos das vantagens e desvantagens
duns e doutros.
Sem comentários:
Enviar um comentário