quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

ELES VIVEM, LUTAM E MORREM AO NOSSO LADO

Durante anos montei a cavalo por devoção, obrigação, prazer e desporto, emocionando-me ainda hoje quando vejo uma prova de hipismo ou sinto o cheiro dum cavalo por perto. Mas o pobre do solípede vai para onde o levam, ignora para onde vai, porque foi previamente dominado e age segundo o esperado, de acordo com a preparação que recebeu, muito embora conheça o calção que o monta, tenha ginete e tente por vezes impor a sua vontade. Ainda hoje me dedico aos cães e não me sinto arrependido, porque não param de me surpreender pela sua lealdade, cumplicidade e abnegação, entendendo os donos como o melhor dos seus bens e tudo fazendo pela sua protecção, mesmo arriscando a própria vida. O cão da foto acima é exemplo disso e ficou famoso como cão de motim, ao tomar como suas as reivindicações daqueles manifestantes, sujeitando-se a umas quantas bastonadas e à intoxicação por gases.
O caso passou-se na Grécia em 2008 e as fotos do “Kanellos” (Canela em português) correram mundo, por ser pouco comum ver um cão de rua em tais assados. Por ter tomado parte nas lutas estudantis, ao chegar a velho e ser acossado de artrite, ganhou uma cadeira de rodas e morreu dentro de casa, rodeado dos estudantes com quem marchou lado a lado. É verdade: os cães vivem, lutam e morrem ao nosso lado, mesmo aqueles que foram maltratados e posteriormente resgatados do abandono, porque são gratos por muito pouco, ignoram o politicamente correcto e não se prendem a conveniências.
PS: o cão da 2ª foto é o Loukanikos, tratado carinhosamente por “Louk”, que se crê ser filho do Kanellos, vindo a rendê-lo nas manifestações de 2010.

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