Durante
anos montei a cavalo por devoção, obrigação, prazer e desporto, emocionando-me
ainda hoje quando vejo uma prova de hipismo ou sinto o cheiro dum cavalo por
perto. Mas o pobre do solípede vai para onde o levam, ignora para onde vai,
porque foi previamente dominado e age segundo o esperado, de acordo com a
preparação que recebeu, muito embora conheça o calção que o monta, tenha ginete
e tente por vezes impor a sua vontade. Ainda hoje me dedico aos cães e não me
sinto arrependido, porque não param de me surpreender pela sua lealdade,
cumplicidade e abnegação, entendendo os donos como o melhor dos seus bens e
tudo fazendo pela sua protecção, mesmo arriscando a própria vida. O cão da foto
acima é exemplo disso e ficou famoso como cão de motim, ao tomar como suas as
reivindicações daqueles manifestantes, sujeitando-se a umas quantas bastonadas
e à intoxicação por gases.
O caso passou-se na Grécia em 2008 e as fotos do “Kanellos”
(Canela em português) correram mundo, por ser pouco comum ver um cão de rua em
tais assados. Por ter tomado parte nas lutas estudantis, ao chegar a velho e
ser acossado de artrite, ganhou uma cadeira de rodas e morreu dentro de casa,
rodeado dos estudantes com quem marchou lado a lado. É verdade: os cães vivem,
lutam e morrem ao nosso lado, mesmo aqueles que foram maltratados e
posteriormente resgatados do abandono, porque são gratos por muito pouco,
ignoram o politicamente correcto e não se prendem a conveniências.
PS: o cão da 2ª foto é o
Loukanikos, tratado carinhosamente por “Louk”, que se crê ser filho do
Kanellos, vindo a rendê-lo nas manifestações de 2010.
Sem comentários:
Enviar um comentário