A história do Canaan Dog prende-se com
o regresso ao passado, que transportado para o presente, irá perpetuá-lo no
futuro, como um apanhar de um fio à meada, no retorno aos tempos bíblicos e
anteriores à diáspora hebraica, quando os israelitas chegaram à Terra Prometida
acompanhados pelos seus cães, numa caminhada milenar que continua até aos dias
de hoje. Para além da história, da religião, do nacionalismo e da política, o
Canaan Dog emergiu da necessidade, porque a maioria das raças caninas modernas,
mesmo as mais eleitas e resistentes, sentia grande dificuldade perante as
amplitudes térmicas mensuráveis em
Israel. A recuperação desta raça, com 10.000 anos às costas, na
sua génese pastora e caçadora, ficou a dever-se ao trabalho e ao cuidado de
Rudolphina Menzel, uma especialista em comportamento animal, oriunda da
Áustria, que por volta de 1930, foi buscar os primeiros exemplares ao deserto,
junto dos beduínos (seus primeiros caçadores), onde sobreviviam como cães
párias, com o objectivo inicial de fazer deles cães de trabalho. Apesar de ter
demorado 6 meses para capturar o primeiro cão, que se encontrava semi-selvagem,
o seu esforço foi recompensado, porque os cães capturados não apresentaram dificuldades
na domesticação, mostrando-se adaptáveis e fáceis de treinar. Na foto abaixo
vemos Rudolphina com o seu marido, o Dr. Rudolph Menzel.
Finalmente, em 1934, a Sr.ª Menzel iniciou o seu programa de reprodução
selectiva da raça, entregando cães para fins militares, para guarda e para as
famílias. Em 1949 fundou o “Instituto de Orientação e Mobilidade dos Cegos”,
ousando em 1953, treinar Canaan Dogs para cães-guia, ideia que não foi avante
devido à falta de tamanho da raça e à sua natureza independente. Não obstante,
alguns deles obtiveram sucesso junto de crianças invisuais. O plano de
melhoramento da raça evoluiu ao redor do Instituto e alguns anos mais tarde
sofreu grande incremento, mercê duma fundação em prole dos Canaan Dogs (B’nei
Habitachon), por detrás do actual canil “Shaar Hagai Kennels”, de Myrna
Shibolet, que ainda hoje mantém as directrizes adiantadas por Rudolphina
Menzel, falecida em 1973, mas que antes de partir, lavrou o estalão da raça.
Ontem como hoje, é muito difícil encontrar estes cães no seu habitat
natural e em regime semi-selvagem, porque vivendo a céu aberto, grande número
deles foi vítima do combate contra a raiva, empreendido pelo governo israelita.
O aumento das populações para áreas antes isoladas, que carregaram consigo toda
a sorte de cães, resultou na perca do seu habitat e na sua hibridação,
circunstâncias que mais agravam a sua proliferação. Sempre que se torna
necessário sangue novo, há que ir junto dos beduínos do Deserto de Negev, onde
têm sido encontrados alguns excelentes exemplares, posteriormente usados para
reprodução.
O Canaan Dog (Kelef Kanani), apesar de ser um cão primitivo, foi dos
primeiros a ser usado na detecção de minas terrestres, detecta componentes
explosivos com facilidade, mostra especial aptidão nas áreas da busca e
salvamento, desempenha muito bem as funções de cão mensageiro, presta-se aos
serviços de guarda e de patrulha, pode tornar-se num cão-guia e é um excelente
companheiro para as crianças. Mostrou as suas aptidões na II Guerra Mundial e
continua a ser usado pelo Exército israelita como cão de resgate e salvamento.
É um cão extremamente territorial que vive em constante alerta, reage
prontamente a provocações e é cão de um só dono. Contudo, necessita de ser
sociabilizado desde muito novo. Apesar de já ter ultrapassado as fronteiras de
Israel há quase 50 anos, o seu número no Mundo não ultrapassará os 2.000
exemplares.
Cão extremamente veloz e necessitado de exercício, rústico como poucos,
o Canaan Dog “come” a trote bastante terreno, apesar transitar para o galope
sem qualquer dificuldade. Com uma altura a oscilar entre os 51 e 61cm e com um
peso entre os 18 e 25kg, este cão quadrado, de dorso paralelo ao solo, orelhas
erectas e cauda enrolada, próprio para suportar grandes amplitudes térmicas,
apesar de por vezes ser glutão, não é muito exigente em termos de alimentação.
Ainda que o branco seja a cor maioritária na raça, são admitidos exemplares
castanhos, cremes, cor de areia, dourados, pretos e vermelhos, assim como os
bicolores de vermelho e branco, vermelho e preto e preto e branco.
De origem comum aos nossos podengos, daí o título deste artigo, podendo
nalguns casos confundir-se com eles, mostra a mesma independência, igual
disponibilidade atlética e resistência, uma máquina sensorial idêntica, a mesma
biomecânica e os mesmos perfis psicológicos, o que obriga ao trabalho pela
memória afectiva e prova o primitivismo dos nossos podengos, ausentes da
exagerada de manipulação humana, mais por mérito dos caçadores do que dos
criadores oficias da raça. Os israelitas souberam aproveitar o Canaan Dog,
apesar de terem que o caçar no deserto, aproveitando o silvestre para fim útil.
E os portugueses, como têm aproveitado os podengos? Será que só se prestam para
caçar coelhos e não alcançam outros usos? Perante cães similares, de origem
comum e igual potencial, a diferença terá que residir nos homens e no
desaproveitamento dos cães!
Ao falarmos do Canaan Dog e mencionarmos Rudolphina Menzel (a seguir
vamos falar de Dorothy Eustis), queremos prestar homenagem às senhoras que têm
enriquecido as nossas fileiras, muitas delas excelentes adestradoras, umas já
avós e outras com idade de serem suas netas, companheiras de jornada que
edificaram a nossa história e dignificaram o nosso trabalho. Para elas vai o
nosso sincero “muito obrigado”.
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