As
pesquisas anteriormente realizadas mostraram que mais de 80% dos proprietários
caninos relataram observar comportamentos de ciúme nos seus companheiros (vocalizações,
comportamento agitado e esticar a trela) quando dão atenção a outros cães. Uma pesquisa
recente publicada na revista “Psychological Science” apóia essas observações e
descobre que os cães também exibem comportamentos de ciúme quando simplesmente
imaginam que o seu dono está a interagir com um potencial rival, neste caso, um
cão artificial altamente realista. "A pesquisa tem apoiado o que muitos
donos de cães acreditam firmemente, que os cães exibem um comportamento
ciumento quando o seu companheiro humano interage com um potencial rival",
disse Amália Bastos (1) da Universidade de Auckland e principal
autora do artigo (na foto seguinte). "Queríamos estudar esse comportamento
mais completamente para determinar se os cães poderiam, como os humanos,
representar mentalmente uma situação que evocasse ciúme." Os cães parecem
ser uma das poucas espécies que podem exibir comportamentos de ciúme de maneira
semelhante a uma criança humana que mostra ciúme quando sua mãe dá afecto a
outra criança. Nos humanos, o ciúme está intimamente ligado à autoconsciência,
que é uma das razões pelas quais os pesquisadores da cognição animal estão tão
interessados em estudar o ciúme e outras emoções secundárias nos animais.
Para
testar como e quando os cães exibem um comportamento de ciúme, os pesquisadores
apresentaram a 18 cães situações em podiam imaginar uma interacção social entre
o seu companheiro humano e um cão artificial altamente real e com um cilindro
de lã. O cão falso servia como um potencial rival para chamar a atenção,
enquanto o cilindro servia como controle. Na experiência, os cães observaram o falso
cão rival ao lado de seu dono. Foi então colocada uma barreira entre o cão e o potencial
rival. Apesar de não verem os seus donos, os cães tentaram vigorosamente alcançá-los
quando pareciam acariciar o falso cão rival atrás da barreira. Num ensaio
repetido, usando-se um cilindro de lã no lugar de um cão falso, os cães acabaram
por puxar a trela com muito menos força. Através deste seu estudo, Amália Bastos
e os seus colegas descobriram que os cães exibiam três sinais de comportamento
ciumento semelhantes aos humanos: O comportamento ciumento emergia apenas
quando seu dono interagia com um rival social percebido e não com um objeto
inanimado; que ocorria como consequência dessa interação e não devido à mera
presença de um potencial rival e que surgia mesmo numa interação invisível
entre seu dono e um rival social.
"Estes resultados apoiam as alegações
de que os cães exibem um comportamento de ciúme, fornecendo em simultâneo a
primeira evidência de que os cães podem representar mentalmente interações
sociais que induzem o ciúme", disse Bastos. "Estudos anteriores
confundiram o comportamento ciumento com brincadeira, interesse ou agressão,
porque nunca testaram as reacções dos cães com o dono e o rival social presentes
na mesma sala. Ainda há muito trabalho a fazer para estabelecer a extensão das
semelhanças entre as mentes dos humanos e as de outros animais, especialmente
em termos de compreensão da natureza das experiências emocionais dos animais
não humanos”, disse a mesma autora. "É muito cedo para dizer se os cães
sentem ciúme como nós, mas agora está claro que eles reagem a situações que
induzem o ciúme, mesmo que ocorram fora da vista." Pode não ser igual ao
nosso, mas que eles têm ciúme, têm, nós sabemos disso e tiramos partido desse
sentimento para que se apeguem mais a nós.
(1)Doutora em Ciências Biológicas pela Universidade de Oxford, onde estudou com bolsa integral do Conselho Nacional de Pesquisa do Brasil. Está agora a fazer um doutoramento em psicologia comparada na Universidade Neozelandesa de Auckland, estudando uma variedade de espécies, incluindo corvos, kea (papagaios da Nova Zelândia) e cães da Nova Caledónia.
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