quinta-feira, 29 de abril de 2021

NEW YORK: DIGIDOG OFF

 

No ano transacto o Departamento de Polícia de Nova Iorque adquiriu um cão-robot da Boston Dynamics, anunciando-o como uma ferramenta futurística capaz de substituir agentes em locais por demais perigosos. Na ocasião, o inspector Frank Digiacomo, da Unidade de Assistência Técnica do Departamento, numa entrevista á televisão disse: “Estes cachorro vai salvar vidas, vai proteger as pessoas e vai proteger polícias”. 

Contrariamente ao anunciado, a máquina que a polícia baptizou de “Digidog”, tornou-se numa fonte de acalorados debates, depois que foi vista como parte da resposta policial numa invasão domiciliar no Bronx, em Fevereiro, comparando-a os seus críticos a um drone de vigilância distópico (opressivo e assustador). Quando a polícia usou o cão-robot este mês num prédio de habitação pública em Manhattan, irrompeu uma nova reacção com algumas pessoas a associar o robot com a excessiva agressividade policial contra as comunidades mais pobres. Agora, as acções do Digidog na grande cidade foram interrompidas e silenciadas. Em resposta a uma intimidação do vereador Ben Kallos e do Presidente do Conselho Corey Johnson, que solicitava os registos relacionados com o cão-robot, a polícia respondeu que um contrato no valor aproximado de US $ 94.000 para alugá-lo ao seu criador, a Boston Dynamics, já havia sido rescindido no passado dia 22 de Abril (que conveniente).

John Miller, Subcomissário do departamento de Polícia para a Inteligência e Contraterrorismo, confirmou ontem, quarta-feira, que o contrato foi cancelado e que o cão-robot foi devolvido à Boston Dynamics ou sê-lo-ia em breve. O mesmo Miller disse numa entrevista que o aluguer da máquina estava programado para terminar em Agosto e que a Polícia planeava testar as suas capacidades até esse mês. Segundo ele (Miller), o Departamento da Polícia Nova-Iorquino mudou os seus planos, depois que o Digidog se tornou um alvo para as pessoas que indevidamente o usaram para alimentar discussões sobre racismo e violência. 

Kallos, um democrata que representa o Upper East Side, bairro residencial de gente abastada, restaurantes elegantes, lojas de designer e muitos motivos de interesse cultural, assumiu uma posição diferente ao dizer que a presença do cão-robot em Nova Iorque ressalta o que chamou de “militarização da polícia”, comparando o Digidog aos cães-robots do episódio “Metalhead” de 2017 do programa de televisão “Black Mirror”. “ Numa altura em que deveríamos ter mais polícias nas ruas, relacionando-se com os residentes, eles (a Polícia) estão na verdade a ir noutra direcção ao substituir-se por robots”, disse este representante do Upper East Side. Assim acaba por enquanto e sem glória, vítima também dos problemas raciais actualmente vividos nos Estados Unidos, a participação policial do cão-robot da Boston Dynamics na cidade de Nova Iorque, cuja polícia baptizou de Digidog.

PS: Este texto teve como base um artigo publicado pelo New York Times no dia de ontem.

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