terça-feira, 27 de abril de 2021

O RUKY E A PROBLEMÁTICA DOS CÃES GRANDES

 

Quando tiramos partido da precocidade para aproveitar as fases de maior plasticidade dos cachorros com o propósito de aumentar as suas capacidades físicas, psicológicas e cognitivas a partir da experiência feliz, sempre somos confrontados com cachorros grandes ou gigantes em relação à curva de crescimento preconizada pelo seu estalão, indivíduos que irão exigir, tal como os obesos, um quadro de crescimento funcional particular, mais demorado e de acordo com o robustecimento do seu esqueleto e ossatura porque doutro modo, ao invés de melhorá-los ou corrigi-los, estaremos a sujeitá-los a várias lesões transitórias ou permanentes capazes de instalar medos de difícil eliminação que podem levar à aversão pelo treino pela contribuição do abuso, do insucesso e da dor.

Tal é o caso do cachorro CPA Ruky, com o qual temos usado da maior atenção e cuidado, porque este “matulão” aos 6 meses de idade já rasava os 40 kg de peso numa altura em que o seu crescimento longitudinal mal tinha começado. Não querendo agravar o leve abatimento de metacarpos e o jarrete de vaca pouco pronunciado que manifestava, muito menos selá-lo e levá-lo à divergência de mãos, no 1º Ciclo Escolar (dos 4 aos 6 meses), insistimos mais no desenvolvimento da marcha (2º andamento natural equivalente ao trote nos cavalos) do que em obstáculos específicos que poderiam atentar contra a sua saúde e bem-estar. Essa potenciação da marcha foi alcançada pela contribuição do “junto” e hoje o Ruky já o faz em liberdade.

Aquilo que poderíamos, mas não devíamos, fazer com ele aos 6 meses, estamos agora a fazê-lo aos 8 e a resposta do cão tem sido extraordinária, emanando segurança, poder e alegria, como se tivesse “fome” dos obstáculos, sucesso que acontece porque soubemos esperar. Um clínico animal nosso conhecido, também hábil negociante e erudito de raciocínios, tem uma máxima que se aplica ao caso particular do Ruky: “Só os cães bons precisam de ajuda”. Os cães comuns, com um crescimento de peso e altura segundo o seu estalão, são na sua maioria animais medianos e de rendimento expectável, que evoluem satisfatoriamente nos obstáculos e noutras áreas de ensino sem grandes ajudas, muito embora muitos possam surpreender-nos e exceder as nossas expectativas, sendo por isso mesmo e com justiça tratados por “excepcionais”.

Voltemos ao Ruky, cujo futuro nas três disciplinas base do adestramento (pistagem, obediência e guarda) parece assegurado. O cachorro tem uma virtude que importa salientar, é seguro e tardio para se irar, o que facilitará o seu uso e controlo, pelo que a sua responsabilidade em acidentes ou incidentes será praticamente nula, ainda mais porque é resistente à provocação. Se futuramente se vir envolvido em algo desagradável ou indevido, isso ficará certamente a dever-se a um erro de liderança. Conduzir um matulão destes e pô-lo em marcha não é fácil, são precisas praticamente duas passadas de 120 cm por segundo, pormenor que está a devolver ao Noé, seu condutor, a disponibilidade atlética que já teve.

Os obstáculos constantes nas fotos deste texto foram ultrapassados pela primeira vez pelo Ruky. O binómio Tomás/Dingo também participou nos nossos trabalhos de ontem e o Paulo Jorge não compareceu com o CPA Bohr porque foi acometido de uma apendicite laboral, maleita que costuma importuná-lo às segundas-feiras, dia de folga semanal dos sapateiros.

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