Quando
tiramos partido da precocidade para aproveitar as fases de maior plasticidade
dos cachorros com o propósito de aumentar as suas capacidades físicas, psicológicas
e cognitivas a partir da experiência feliz, sempre somos confrontados com cachorros
grandes ou gigantes em relação à curva de crescimento preconizada pelo seu
estalão, indivíduos que irão exigir, tal como os obesos, um quadro de
crescimento funcional particular, mais demorado e de acordo com o robustecimento
do seu esqueleto e ossatura porque doutro modo, ao invés de melhorá-los ou
corrigi-los, estaremos a sujeitá-los a várias lesões transitórias ou permanentes
capazes de instalar medos de difícil eliminação que podem levar à aversão pelo
treino pela contribuição do abuso, do insucesso e da dor.
Tal
é o caso do cachorro CPA Ruky, com o qual temos usado da maior atenção e
cuidado, porque este “matulão” aos 6 meses de idade já rasava os 40 kg de peso
numa altura em que o seu crescimento longitudinal mal tinha começado. Não
querendo agravar o leve abatimento de metacarpos e o jarrete de vaca pouco
pronunciado que manifestava, muito menos selá-lo e levá-lo à divergência de
mãos, no 1º Ciclo Escolar (dos 4 aos 6 meses), insistimos mais no
desenvolvimento da marcha (2º andamento natural equivalente ao trote nos
cavalos) do que em obstáculos específicos que poderiam atentar contra a sua
saúde e bem-estar. Essa potenciação da marcha foi alcançada pela contribuição
do “junto” e hoje o Ruky já o faz em liberdade.
Aquilo
que poderíamos, mas não devíamos, fazer com ele aos 6 meses, estamos agora a
fazê-lo aos 8 e a resposta do cão tem sido extraordinária, emanando segurança,
poder e alegria, como se tivesse “fome” dos obstáculos, sucesso que acontece porque
soubemos esperar. Um clínico animal nosso conhecido, também hábil negociante e
erudito de raciocínios, tem uma máxima que se aplica ao caso particular do Ruky:
“Só os cães bons precisam de ajuda”. Os cães comuns, com um crescimento de peso
e altura segundo o seu estalão, são na sua maioria animais medianos e de
rendimento expectável, que evoluem satisfatoriamente nos obstáculos e noutras
áreas de ensino sem grandes ajudas, muito embora muitos possam surpreender-nos
e exceder as nossas expectativas, sendo por isso mesmo e com justiça tratados por
“excepcionais”.
Voltemos
ao Ruky, cujo futuro nas três disciplinas base do adestramento (pistagem,
obediência e guarda) parece assegurado. O cachorro tem uma virtude que importa
salientar, é seguro e tardio para se irar, o que facilitará o seu uso e controlo,
pelo que a sua responsabilidade em acidentes ou incidentes será praticamente
nula, ainda mais porque é resistente à provocação. Se futuramente se vir
envolvido em algo desagradável ou indevido, isso ficará certamente a dever-se a
um erro de liderança. Conduzir um matulão destes e pô-lo em marcha não é fácil,
são precisas praticamente duas passadas de 120 cm por segundo, pormenor que
está a devolver ao Noé, seu condutor, a disponibilidade atlética que já teve.
Os obstáculos constantes nas fotos deste texto foram ultrapassados pela primeira vez pelo Ruky. O binómio Tomás/Dingo também participou nos nossos trabalhos de ontem e o Paulo Jorge não compareceu com o CPA Bohr porque foi acometido de uma apendicite laboral, maleita que costuma importuná-lo às segundas-feiras, dia de folga semanal dos sapateiros.
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