Vamos
aqui narrar a história verídica e incrível de um jovem Pastor Belga Malinois a
quem foi posto o nome de Gamin. Este cão foi descoberto por uns turistas em meados
de Janeiro deste ano, amarrado a uma árvore e esquelético, atrás de uma praia
na cidade de Moule, no nordeste de Guadalupe (Guadaloupe em francês),
departamento ultramarino gaulês do Caribe. Os ditos turistas informaram a “Secours
Animaux Guadaloupe” e esta entrou em contacto a SPA independente de Verson,
perto de Caen, no Departamento de Calvados. Preso e amarrado sempre com a mesma
coleira, esta acabou por se enterrar na pele do famigerado Pastor Belga
Malinois, animal quase adulto que pesava apenas 19 kg. Ameio do mês de Janeiro,
praticamente depois de descoberto, membros da Associação de Guadaloupe iniciaram
conversações com o dono do cão no intuito de resgatá-lo, tarefa que não foi
muito fácil já que foram recebidos pelo homem de sabre na mão. Não obstante,
acabou por ser convencido e entregou-lhes o animal.
Como
a Secours Animaux Guadaloupe não tem um verdadeiro refúgio para abrigar a
animais, sempre acaba por confiá-los a famílias de acolhimento. Contudo, não é
fácil levar para casa um cão de trabalho que sofreu abusos, que pode causar
muitos e avultados danos. Sem solução à vista, a associação do Caribe, que
desde 2019 mantinha contacto com a SPA de Verson, pede-lhe ajuda e esta pensa
imediatamente qual a orientação ao dar ao Pastor Belga Malinois – confiá-lo à
unidade canina da polícia de Caen, na Normandia, distante 10 km do refúgio
continental francês. O Gamin é então embarcado com os seus companheiros de
viagem, cruza o Atlântico em voo de carga graças a uma parceria com uma
companhia aérea e ao chegar, dada a sua idade e comportamento, vai directo para
a polícia.
Xavier
e Olivier, adestradores da Unidade Canina Ligeira (UCL) da
polícia de Caen, que têm cada um deles 7 cães ao seu encargo e que treinam cães
para outras unidades, apercebem-se imediatamente do potencial do Malinois vindo
do Caribe. A sua unidade tem como um dos seus parceiros preferidos a SPA de
Vernon, oferecendo aos cães oriundos deste refúgio uma segunda oportunidade,
particularmente para aqueles que, incompatíveis com a integração familiar,
estariam condenados ao abate, como seria o caso do Gamin, que a dupla de
adestradores descobriu ser um cão muito simpático, pouco agressivo e um bom
atleta. Num mês e meio, este Malinois foi habilitado como cão de defesa-intervenção
e irá acompanhar os polícias durante as suas patrulhas. Também ganhou peso ao ser
incorporado na polícia, pesando agora 24 kg e ainda virá a pesar mais.
Ontem,
segunda-feira, 26 de Abril, partiu para o centro de treino da polícia em
Oissel, perto de Rouen, para terminar o seu curso, onde provavelmente virá a
constituir binómio com um adestrador de cães recém-formado que lhe dará uma
nova vida e outras atribuições bem distantes do calvário que passou nos
trópicos. Dizem as más-línguas e “Velhos do Restelo” nunca nos faltaram, que as
polícias de cá e lá, porque não têm verba, “andam aos caídos” e à procura de
cães que mordam velhotas para os recrutar, quando na verdade a sua política
está certa, porque há animais em abrigos que podem ser excelentes cães
policiais e militares, veja-se o caso do Gamin, já que nos meandros do
adestramento, não são os cães que fazem a maior diferença, mas sim os homens,
porque um bom cão nas mãos de um ruim mestre sempre será desaproveitado. A actual
política das polícias está correctíssima, porque livra certos cães da morte e
poupa os bolsos dos contribuintes.