quarta-feira, 31 de julho de 2019

ISTO É QUE É GOSTAR REALMENTE DE CÃES!

Hoje, como sempre faço, ao passar os olhos pela imprensa online alemã dedicada aos cães, o título de uma notícia vinda no AUGSBURGER ALLGEMEINE despertou-me a atenção: “ZUCKERKRANKE FRAU PFLEGT ZUCKERKRANKEN HUND” (Mulher diabética cuida de cão diabético). Pela notícia fiquei a saber da história de Hilde Führmann, uma senhora de 75 anos de idade e da sua cadela Ronja, uma mestiça de Retriever do Labrador, assim como da amizade que nutrem uma pela outra (ambas na foto acima).
Quando jovem e durante a gravidez, já Hilde tinha diabetes e desde então teve que aprender a viver com a doença, o que a obrigou a injectar insulina regularmente. Graças à moderna tecnologia médica, o tratamento é hoje muito mais confortável pelo contributo da “Bomba de Insulina”, um pequeno dispositivo electrónico que liberta pequenas quantidades de insulina durante o dia, conforme as necessidades da pessoa e que tem aproximadamente o tamanho de um telemóvel, podendo usar-se numa bolsa, preso à cintura, dentro de um bolso e até no sutiã. De qualquer modo é necessário verificar os níveis de açúcar no sangue num dispositivo de medição digital. Hilde tem tudo sob controlo, de tal maneira que consegue comer sorvete, devaneio fortuito que não a demove a abandonar o combate contra a hipoglicemia. Como se depreende, esta senhora de Augsburg está muito bem informada acerca desta doença metabólica crónica.
A Ronja, hoje bonita, confiante e de natureza amigável, não há muito tempo atrás, parecia vir a ser um caso perdido, porque se encontrava magra, era diabética e encontrava-se cega por causa da doença, quando foi entregue num abrigo em Augsburg pelos donos, por ocasião do nascimento de uma criança, provavelmente debaixo da infundada suspeita de transmitir as suas mazelas ao bebé. Depois de uma longa série de derrotas, a Ronja, com seis anos de idade, acabou por ter sorte na vida e ser adoptada por outra diabética - a Sr.ª Hilde Führmann, que teve conhecimento do seu caso através de um anúncio posto na Internet pelo abrigo, onde a cadela estava a ser oferecida como animal de estimação.
Entregue aos cuidados da sua nova dona, que tem que a injectar duas vezes por dia, a Ronja já recuperou o seu peso normal, o seu manto apresenta-se magnífico e isto apesar de comer uma dieta especial. Hilde está muito feliz por ter a companhia de Ronja, com a qual forma uma equipa excelente que pretende conservar, já que os passeios diários mantêm ambas em forma, a cadela mostra-se extrovertida, simpática e obediente, merecendo por isso o apreço da vizinhança. Ronja, no dizer da sua dona, “ pula nos campos como um bode cheio de alegria.”
Depois de conhecer esta história de vida, estou cada vez mais convencido que a esmagadora maioria dos proprietários caninos tem cães pelos mais variados motivos e não tanto por gostar deles, fenómeno que também se verifica na procura de cães nos abrigos, onde os mais novos, os saudáveis e os bonitinhos são os mais procurados, junto com aqueles que mais se aproximam das raças com pedigree, que de um momento para o outro, devido à vaidade e mentira presente na boca dos seus donos, vêem ocultada a sua procedência e eliminada a sua bastardia. O amor não é o primeiro sentimento que leva alguém a procurar um cão para determinado fim e a escolha de uma raça específica obedece invariavelmente a outros critérios que se sobrepõem ao bem-estar dos animais.
Gostar de cães, tal como demonstrou Hilde Führmann, é valer aos mais necessitados e optar pelo realojamento dos doentes, deficientes, fracos e idosos, suavizar a sua desgraçada caminhada com o conforto possível e com a restituição do bem-estar a que todos é devido. Não há dúvida: o Homem é o primeiro responsável pela infelicidade dos cães.

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