Os cientistas tinham até
há bem pouco tempo apenas duas opções para estudarem espécies difíceis de
encontrar, não raramente em vias de extinção: ou tentavam eles mesmo encontrá-las,
trabalho na maioria dos casos moroso e infrutífero ou recorriam ao uso de
armadilhas, opção que eventualmente poderia prejudicar e até matar as criaturas
que pretendiam salvar. Felizmente já podemos falar de uma terceira opção, mais
válida que as anteriores, por ser menos morosa, mais segura e mais eficaz: o
uso de cães na procura de espécies difíceis de encontrar, quer pela sua
ocultação quer pela sua raridade, opção já posta em prática no Great Otway
Nacional Park em Victoria, na Austrália.
Na reserva natural atrás
citada (Great Otway Nacional Park), um grupo de cientistas está a testar o uso
de cães na localização do incrivelmente raro Tiger Quoll, um marsupial
carnívoro do género Dasyurus quoll que é nativo da Austrália, animal muito difícil
de ser avistado e que se julgava já ter sido expulso daquela área, até ter sido
surpreendido por uma câmara em 2012.
Os
cães testados e que agora ajudam os cientistas nas suas buscas, foram treinados
pelos seus próprios donos para detectarem excrementos de Tiger Quoll, sendo no
seu total seis binómios voluntários.
Emma Bennett, candidata ao
doutoramento na Universidade de Monash (edifício na foto abaixo) e líder do
estudo, adiantou que na primeira etapa dos trabalhos 6 cães procuraram o odor
dos excrementos do Quoll, com 9 níveis diferentes, numa área de 25m2. Todos
foram muito rápidos na detecção, com uma precisão de 50 a 70% e quatro dos seis
binómios testados alcançaram 100% de acerto na procura daqueles excrementos.
Ao detectarem os
excrementos dos animais procurados para estudo, os cães estão a auxiliar de
sobremaneira os cientistas, indicando-lhes qual a dieta daqueles animais, o seu
número, território, viver social e distribuição geral. Diante destas
mais-valias, Emma Bennett não tem dúvidas ao dizer que “Os resultados deste
estudo serão essenciais na formação de directrizes para programas voluntários
de adestramento canino. Assim como este estudo foi focado em cães na detecção do
Tiger Quoll, certamente poderá estender-se a outras espécies ameaçadas".
Diante do que fizemos
saber, todo e qualquer cão pode ser de extrema utilidade quando usado de acordo
com o seu potencial, cabendo aos homens saber aproveitá-lo. Como o trabalho
voluntário com cães está a crescer por todo o lado, quem sabe se amanhã não
será a sua vez?
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