quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O CAROLINA DOG: O DINGO NORTE-AMERICANO?

O Carolina Dog é uma raça nativa dos Estados Unidos. Comprovou-se cientificamente que descende directamente dos cães nativos americanos que acompanharam os primeiros habitantes no Hemisfério Ocidental. Reconhecido principalmente pela sua morfologia primitiva, este cão é altamente inteligente, interactivo e único. Nos últimos 40 anos optou por viver selvagem nos Estados da Carolina do Sul e da Geórgia, em bosques de pinheiros e de ciprestes à beira de pântanos, sendo recentemente domesticado. O Carolina Dog é também conhecido como Dingo-Norte-Americano, Dingo-Dixie, Dindo do Sul, Dingo da Carolina, Cão Nativo da América do Norte, Cão Nativo Americano, Cão Índio, Cão Amarelo, Cão Yeller e Ol 'Yeller.
Há medida que a sua domesticação aumentou e se tornou popular, o Carolina Dog, que apresenta misturas com outros cães, foi classificado pelo United Kennel Club como um cão doméstico do Grupo Pária e do Tipo Spitz. Uma das primeiras publicações que documentou o Carolina Dog foi o artigo “Dogs of the American Aborigines”, da autoria de Glover Morrill Allen, publicado em 1920 pelo Museum of Comparative Zoology at Harvard College, onde o autor adiantou: “que os cães índios maiores ou comuns descendiam dos primitivos cães asiáticos” e “que o cão doméstico originário da Ásia foi carregado pelo homem primitivo tanto para o Leste como para o Oeste em todas as partes do mundo habitado. Parece altamente provável que essa migração aconteceu nos tempos do Pleistoceno tardio”.
Mais tarde, mais precisamente em 2013, mediante testes de ADN mitocondrial, levados a cabo para se saber se o Carolina Dog se encontrava ligado aos cães primitivos, verificou-se que 58% dos cães apresentavam haplotipos universais que poderiam ser encontrados em todo o mundo (haplótipos A16, A18, A19 e B1), 5% apresentavam haplótipos associados à Coreia e ao Japão (A39) e 37% apresentavam um único haplotipo que não foi registado antes (A184) e que se relaciona com o sub-haplogrupo de mDNA a5 com origem no Leste Asiático, enquanto o Dingo Australiano e o Cão Cantor da Nova Guiné pertencem ao haplotipo A29 que se relaciona com o sub-haplogrupo a2, não existindo assim uma relação genética de mDNA. Estas comprovações científicas vieram ratificar o que Glover Morrill Allen havia dito em 1920.
Os estudos do Dr. I. Lehr Brisbin Jr., um especialista em ecologia vertebrada, rádio ecologia, ecotoxicologia e comportamento animal, particularmente o relacionado ao olfacto canino, mostraram que o Carolina Dog tem um comportamento único na natureza: o de defecar e urinar em rios, riachos e ribeiros, para esconder o seu odor de lobos e coiotes que são seus predadores. As fêmeas têm três cios anuais, quiçá por causa da Dirofilariose que mata muitos cachorros. 
Algumas fêmeas quando estão grávidas cavam verdadeiros e elaborados abrigos para parirem, trabalho que nenhum outro canídeo faz. Após o parto ou durante a gravidez, as cadelas tapam os seus excrementos empurrando areia com o nariz, manobra que dificulta a sua detecção por de lobos e coiotes e que demonstra uma adaptação comportamental adicional à natureza. Somente o Dingo Australiano e antiga raça coreana de cães fazem o mesmo.
O Carolina Dog é altamente proficiente na localização das suas presas, fazendo a sua localização ao ouvido graças às suas orelhas erectas e giratórias. A sua técnica de caça é semelhante à das raposas, já que confunde o seu odor com outros mais fortes para não ser detectado, esfregando-se inclusive nos excrementos do animal a caçar. Este cão prefere áreas escassamente povoadas, mas é por vezes encontrado em áreas arborizadas junto de auto-estradas e unidades industriais. A redescoberta do Carolina Dog ficou a dever-se ao interesse e dedicação do Dr. I. Lehr Brisbin Jr., ecologista sénior no Savannah River Ecology Lab do Savannah River Site, a partir da década de 70 do século passado.
Estes cães medem entre 45 e 61cm de altura e pesam entre 14 e 20kg. Morfologicamente lembram um pequeno lobo ou chacal com características lebréis, de orelhas erectas, stop pouco pronunciado, dorso paralelo ao solo, mais quadrados que rectangulares e com a cauda enrolada em forma de peixe. A cor preferida, de acordo com o padrão UKC, é o gengibre vermelho escuro com marcas pálidas sobre os ombros e ao longo do focinho. 
Não obstante, outras variações de cor são também consideradas aceitáveis, incluindo a cor de palha de trigo até ao amarelo pálido. Os Carolina Dogs também podem ser pretos e fígado, apresentar o dorso negro e manchas piadas. Freqüentemente os cachorros apresentam uma máscara escura que normalmente desaparece à medida que o manto definitivo avança. A densidade do seu manto é ditada pelas estações do ano, sem maior nos meses mais frios.
O Carolina Dog exige um nível de actividade alto e não apresenta dificuldades na obediência, no Agility (onde se tem vindo a destacar), nos concursos de frisbee e noutras actividades físicas, não apresentando também dificuldades de interacção. Como estamos na presença de um genuíno cão-caçador, é de todo conveniente não deixar um Carolina Dog num quintal sem cerca. Devido às suas origens, a raça pode ser tímida e suspeita, especialmente com estranhos, mas afectuosa a seu modo com as pessoas familiares, sendo própria para famílias activas, o que não impede que seja também silenciosa, reservada e um pouco distante.
Apesar de ser uma raça extremamente activa, não necessita de grandes exercícios anaeróbicos, reclamando apenas por uma simples caminhada diária e alguns jogos de interacção. Este cão também possui distintivas e emocionantes vocalizações. Quanto à saúde, o Carolina Dog é considerado uma raça de cães geralmente saudável. Quando não-domesticado e entregue a si próprio, vive da caça de pequenos roedores e também de algumas plantas e frutos, não sendo por isso dispendioso alimentá-lo. Mais, como por vezes come pequenas quantidades de terra, convém que o chão que pisa se encontre livre de químicos e pesticidas. Exige-se um cuidado especial com as plantas não-nativas do seu habitat, que ao serem desconhecidas e tóxicas, podem causar-lhe graves problemas.
Eis em síntese o Carolina Dog, um amigo que carrega o passado para o futuro, um cão que liga a ancestralidade ao presente sem perder as suas características únicas, uma agradável surpresa para quem não o conhece e um manancial de interesse para quem o estuda e aprecia. 

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