O ataque de um cão a
outros cães não carece de ensino porque é instintivo, pormenor que torna a
sociabilização obrigatória para todos os cães, quer eles sejam bravos ou
dóceis, meros animais de companhia ou cães para os mais diversos serviços, porque
se uns necessitam de controlo, os outros não devem constituir-se em presas para
não comprometerem as suas tarefas. Os cães de maior impulso ao conhecimento são
menos instintivos que os demais, particular que torna possível o seu uso muito para
além dos instintos, que podem ser a primeira barreira à desejável absorção dos
conteúdos de ensino, o que equivale a dizer que quanto mais educado é um cão,
menos se sujeita aos seus instintos.
O facto de um cão atacar
outro não o torna mais valente que os outros, apenas desnuda a sua
individualidade desequilibrada e uma carga genética que obsta à necessária adaptação.
Os cães mais valentes que conhecemos, quiçá por serem seguros, nunca que se
preocuparam em morder outros ou em carregar sobre os mais fracos, sempre
preferiram alvos maiores diante da sua salvaguarda e protecção dos seus, alvos
e nobreza de carácter que os cães mais instintivos não atingem senão pularem do
patamar das acções automáticas.
Os cães têm poucos instintos
e não os seguem cegamente e os poucos que têm, são resquícios atávicos do lobo
seu ancestral, que como é sabido dificilmente atacará um só homem sem o auxílio
da alcateia, ainda que intente intimidá-lo, mais por medo que por valentia. E neste sentido, o que é verdade para os
lobos é-o também para os cães, pois aqueles que atacam os seus iguais
dificilmente atacarão pessoas. E quando isso acontece, diz-se que
estamos diante de um problema de “troca de alvos”, problema que ao não ser
ultrapassado impedirá os seus portadores de alcançarem um sem número de
serviços.
A despeito disto, há por
aí quem atice cães medrosos contra gatos, na esperança de mais tarde carregarem
sobre pessoas, começo de maus augúrios que pode culminar no ataque a crianças e
idosos, que indefesos sofrerão golpes dolosos, imprevistos e de surtida
(nalguns casos até fatais) na procura de vantagens pelos seus agressores. Este “método”
virá a arruinar a sociabilização dos cães para sempre e perpetuará os seus ataques
cobardes. Para melhor compreensão, para quem segue o que se passa diariamente
no Reino Unido acerca de cães, a esmagadora maioria dos ataques caninos, senão
todos, provém de animais que nunca foram objecto de ensino ou treinados para
guarda, sendo por isso ataques instintivos.
Atiçar ou picar um cão
medroso é como tirar o mecanismo de segurança a uma arma e contar que ela
disparará em todas as direcções quando menos se esperar, inclusive contra nós, porque
o medo é instintivo e acciona-se automaticamente. Assim como o robustecimento
dos cães medrosos acontece pelo abandono sistemático dos seus instintos, os
cães que atacam os seus pares deixarão de fazê-lo pelo equilíbrio dado pela
sociabilização. Queremos também com este texto tranquilizar os nossos alunos na
“Troca
de Condutores”, quando se vêem obrigados a conduzir cães que mordem
noutros e que por isso temem pela sua integridade física.
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