quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

O PORQUÊ DOS SALTOS DE JANELA E FISCA

Assim como não passa imediatamente pela cabeça das pessoas comuns que os países construtores de automóveis, em caso de necessidade, depressa passarão a fabricar tanques, toda a sorte de blindados, helicópteros e aviões, também a maioria dos meus alunos desconhece grande parte da premência e da utilidade dos conteúdos de ensino presentes nas diversas disciplinas cinotécnicas a que me dedico, executando por isso exercícios que passarão ao desuso e ao esquecimento no dia em que abandonarem a escola. A área da cinotecnia que mais me apaixona e na qual me empenho mais é a da segurança, muita embora pareça que não, que dê maior ênfase à obediência e à ginástica cinotécnica, que a meu ver são requisitos indispensáveis a um cão de guarda bem apetrechado, porquanto promovem a unidade de propósitos dos binómios e robustecem os cães física e psicologicamente para as suas missões. Para melhor se compreender a abrangência da ginástica e dos exercícios que preconizo, vou começar por explicar a razão que me leva a insistir nos “SALTOS DE JANELA”, saltos que não inventei e que continuam a ser executados em várias partes do mundo por treinadores profissionais e de cães de serviço.

Os saltos de janela, que na sua essência são obstáculos tipo alvo, ainda que a partir de determinada altura sejam apenas destinados a cães especiais ou especializados, como o próprio nome indica, são obstáculos verticais encimados por uma janela que pouco a pouco vão ficando mais altos e os lados das suas janelas mais estreitos, pretendendo-se com isso que um cão médio saudável consiga ultrapassar uma janela elevada a 150cm com 40cm de lado.

O objectivo destes saltos é o de capacitar os cães a entrar por janelas ao seu alcance (normalmente as de veículos automóveis e as do rés-do-chão dos prédios) em áreas habitacionais, rurais ou urbanas, onde seja preciso surpreender e varrer um intruso, possibilitando desse modo o seu cerco e captura, diminuindo simultaneamente os riscos para o condutor do animal. Para além desta manobra de intrusão, os saltos de janela preparam ainda os cães para a ocultação e evasão, adiantando-lhes novos subsídios para a sua sobrevivência.

A JANELA na Acendura Brava é um obstáculo táctico cuja área de transposição oscila entre 120 e 140cm, ao qual acoplamos outro obstáculo ou uma pessoa, dificuldade acrescida que visa o aprimoramento técnico dos binómios. E isto porquê? Porque uma janela pode ser antecedida por qualquer obstáculo (bancos, estendais de roupa, vasos, canteiros de flores, motos, bicicletas, brinquedos vários, etc.), e importa que o cão faça um salto limpo para não perder o efeito surpresa.

Os “SALTOS DE FISGA” são transposições executadas sobre troncos de árvores, na sua maioria bifurcados (em forma de fisga), que não visam exclusivamente o salto, mas também o acesso, a permanência, a ocultação e a saída dos cães escondidos nas árvores, em cenários rurais de menor ocultação e onde importa garantir a sua defesa e dar vantagem aos animais, constituindo as árvores em lugares seguros de ocultação e observação.

Como não existem árvores por encomenda, quando uma tem os ramos muito altos, o que impede o salto, e está levemente inclinada, somos também obrigados a ensinar os cães a escalar, tarefa que infelizmente não está ao alcance de todos os cães.

Os saltos de fisga também evoluem das árvores mais baixas para as mais altas, esperando-se que os cães venham a ocultar-se a uma altura de 1,8 m (acima da cabeça de um homem de altura média), o que é óptimo durante a noite por tornar o cão praticamente invisível (deseja-se que não seja branco ou de cor clara).

Para quem ignora a sua aplicação, estes saltos não passam de pitorescos exercícios de ginástica, quando na verdade são parte imprescindível do treino de um bom, multifuncional e versátil cão de guarda, a quem importa dar vantagem para garantir a sua sobrevivência. Nos Saltos de Janela, entre os binómios de maior cumplicidade, os cães poderão alcançar janelas à altura de um primeiro andar, caso se serviam dos seus donos como escada. Sobre o assunto muito mais haveria a dizer, mas hoje ficamos por aqui. Quiçá brevemente retomá-lo-emos.

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