domingo, 10 de dezembro de 2023

CONCILIAR O INCONCILIÁVEL

 

Chega a ser confrangedor ver o desempenho dos cães-lobo nas actuais classes de adestramento, ao ponto de terem desaparecido das fileiras dos cães de serviço. A praga dos cães-lobo aconteceu maioritariamente na segunda metade do século passado, dando origem a umas quantas raças cujo rendimento laboral raramente alcançou a mediania quando comparado com o de outras raças exclusivamente caninas. O híbrido de lobo, relembrando aqui o falecido António Variações e a canção Além, é um animal “que só está bem aonde não quer estar”, porque é produto de dois “mundos” e não pertence a nenhum deles. Se o lobo reclama autonomia e é na maioria dos casos capaz de resolver sozinho os problemas que enfrenta, o cão senta-se e espera a nossa ajuda, sendo por isso dependente. Assim, a parte lobo impede a interacção com o homem e a parte cão impede a autonomia e as mais-valias do lobo. O uso benéfico do lobo e de outros canídeos selvagens na construção de raças caninas aponta para uma melhoria da sua carga instintiva que geralmente tem como consequência uma máquina sensorial mais apurada. Fora isso népias! Este fim-de-semana conduzi um Cão-Lobo Checo e tive a impressão de ter tido um fantasma como parceiro. Estes híbridos, quando integrados em matilhas exclusivas de cães, esperam delas o que elas não têm para lhes dar, acabando de um jeito ou de outro ostracizados. Peguei no cão, condoí-me e reneguei os seus inventores por terem “fabricado” um bando de inadaptados.

PS: A recorrência à hibridação do cão com o lobo no leste europeu ficou também a dever-se à procura do super-cão para fins militares e este bebeu a ideia na procura ao tempo do super-soldado, caindo hoje no esquecimento e dando lugar às máquinas.

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