Penso
que ninguém duvida que falta objectividade aos centros de treino canino civis,
que normalmente funcionam, quase em exclusivo, como espaços lúdicos, como uma
extensão do gozo e das brincadeiras domésticas havidas entre donos e cães,
esquecendo-se que a opção canina é acima de tudo colectiva, porque os cães
estão entre nós e das duas uma: ou são terapeutas individuais ou um bem
comunitário. A maioria dos donos vai para as escolas caninas fazer aquilo que
deveria ter alcançado em casa, exigindo por isso muito pouco ou quase nada: que
os cães andem ao seu lado sem puxar e que regressem sempre que são chamados. Contudo,
serão muito poucos os que verão incondicionalmente alcançados os seus desejos!
E os “binómios” que alcançam esse “quase nada”, ficam normalmente por isso
mesmo, sem progresso e condenados à estagnação, sentem a pressão e tornam-se
malquistos nas classes, perdem o interesse e alguns ousam fazer, sem o mínimo
de condições para isso, as suas próprias escolas, que padecerão e farão padecer
dos mesmos males na sua origem – estamos perante um círculo vicioso!
Obviamente
que dentro deste projecto pedagógico que caracteriza a Acendura Brava
dificilmente haverá lugar para “reizinhos”, gente que cede à tentação do poder
e que se serve do adestramento para engordá-lo, escravizar os animais,
intimidar e/ou causar dolo a terceiros. Ao invés, são estimados aqueles que chegam
para aprender e servir, os que querem entender e fazer-se compreender pelos
seus cães para que de alguma forma possam valer aos demais, desde o aconselhamento
à prestação de socorro. Como consideram a vida o melhor dos bens e têm a de
outrem em igual consideração, nunca perdem a paciência com os cães e sempre
buscam fazer melhor, não raramente culpando-se pelo desacerto ou insucesso do
binómio a que pertencem, porquanto reconhecem que a maior parte dos desacertos
binomiais resulta de quem emite as ordens e não de quem as cumpre, já que
educar cães não dispensa a reflexão continuada dos condutores que induz ao
progresso, tanto pelo conhecimento erudito como pela evolução prática.
Este fim-de-semana recapitulámos os comandos básicos de controlo e executámos depois exercícios colectivos de endurance, exactamente os constantes como ilustração neste texto, A que ficou a dever-se esta opção? - perguntarão os meus leitores. Tratou-se de agarrar os binómios mais adiantados – “os quase nada” – e transportá-los para “qualquer coisa”, visando o aprimoramento técnico de condutores e cães indispensável à sua evolução, também capaz de levar outros a educar os seus cães e a sentir idêntico prazer. Boas entradas, um feliz 2024!
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