Não procuro aplausos nas minhas
publicações pelo recurso ao “politicamente correcto”, porque procuro a verdade
e o que parece ser certo hoje poderá ser desprezado amanhã. Pactuar com o
presente não será certamente o melhor dos caminhos na senda do progresso, seja
lá para o que for, porque o contentamento é efémero diante do caminho a
percorrer. Depois deste esclarecimento em forma de exórdio, vamos ao tema.
Os
cães também “esticam a corda”, particularmente os mais sólidos de carácter e
fazem-no para levar a sua vontade avante. Como se calcula, de pouco préstimo serão
os cães destinados à segurança que não alcançarem o cumprimento imediato das
ordens, atendendo à sua sobrevivência e serviço. Sempre que se inicia o
condicionamento de um cão destes, considerando o seu carácter dominante,
assiste-se a uma dualidade de vontades: à do dono e à do animal.
Cães
dominantes, por mais amigos e dedicados que sejam aos seus donos, não se subordinarão
gratuitamente e não obedecerão sem dar alguma luta, por via da potenciação dos
seus impulsos herdados, mormente os de à luta e ao poder, pelo que não deverão
ser confiados a donos inexperientes, receosos e coléricos. Como predadores, os
cães são naturalmente manhosos e vivem em constante aprendizagem, ávidos que andam
na procura da vantagem. A primeira coisa que fazem é ensurdecer-se
deliberadamente para as ordens dos donos, estratégia que usam para garantir a
sua liberdade de propósitos e movimento – a sua autonomia. Se porventura, como
é comum acontecer, os seus donos repetirem duas e mais vezes um comando para
que o animal obedeça, estarão involuntariamente a ir ao encontro das pretensões
do cão e a comprometer a sua prontidão e operacionalidade.
Contrariamente
ao que vai pela cabeça de alguns, os cães destinados à segurança de pessoas e
bens, por força do seu serviço, não são cães comuns e como tal carecem de maiores
exigências quando comparados com os seus congéneres destinados somente a
animais de companhia, porque são armas capazes de deter, derrubar, ferir e até de
eliminar pessoas quando treinados para isso. Assim, em matéria de obediência, o
limite de tolerância de um cão destinado à segurança deverá ser igual a “0”,
ainda mais porque subsiste a a possibilidade da ocorrência de acidentes.
Felizmente que os cães treinados para guarda em Portugal, pelo menos na sua
esmagadora maioria, jamais o serão e nunca poderão sê-lo, porque doutro modo
seriam justificadamente considerados como perigosos, no que lembram “ferozes”
guardiões em tudo iguais aos encontrados na “Guerra de Mirandum”, guerra também
alcunhada de “Fantástica”, por ter sido mais fantasiosa do que real.
De qualquer modo, o que aqui disse sobre os cães de segurança é também válido para cães de outras especialidades (quando houver necessidade disso), porque em todos a repetição das ordens suscita a manha canina. E como ninguém deseja isso, ao invés de se repetir uma ordem, depois de constatada a desobediência do animal, dever-se-á de imediato proferir um comando ou procedimento de atenção e só depois o comando desejado. Os cães, tal como nós, aprendem e muito com o mundo que os rodeia, tanto para o melhor e como para o pior.
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