PREÂMBULO: Antes de divulgar a notícia, urge
dizer que repudio veementemente o genocídio dos índios-norte-americanos operado
pelos colonos europeus, por considerá-lo uma monstruosidade e um hediondo crime
contra a humanidade. O facto dos poucos sobreviventes das nações indígenas
serem hoje tratados com o pomposo nome de “First Nations”, não esconde e não
cala os crimes perpetrados contra os seus antepassados. Exactamente pelas
mesmas razões, não posso concordar com o extermínio dos índios na Amazónia,
extermínio que sou obrigado a denunciar e a acusar os seus actuais responsáveis.
Se tenho em conta estes crimes, não me posso congratular com o sucedido a
grande parte dos aborígenes australianos. Tradicionalmente, porque a
história é escrita pelos vencedores (cedo a Inglaterra se fez senhora dos
mares, os espanhóis perderam a guerra hispano-americana e o Brasil foi uma
colónia portuguesa), se ouve dizer que os portugueses foram os introdutores
e os primeiros responsáveis pela escravatura dos negros, inverdades que para os
brasileiros menos informados, são verdades insofismáveis e que muito bem servem
aos descendentes de outros colonos europeus em Terras de Vera Cruz. Quando os portugueses aportaram
às costas de África, já os africanos se escravizavam entre si e os árabes
procediam ao seu tráfico. Ainda que a globalização do comércio de escravos se
deva aos portugueses por estar associada aos Descobrimentos, a sua riqueza
ficou a dever-se à procura de mão de obra escrava para todas as Américas, em
particular para a América do Norte. E, como se diz em bom português - “é tão ladrão
o que vai à vinha, como que fica a porta!” Não quero com isto justificar ou
ocultar a contribuição portuguesa para a expansão da escravatura, apenas enumerar
todos os seus responsáveis, inclusive alguns que ainda se encontram vivos, que fomentam
algumas das suas formas ou que procuram a sua perpetuação, sendo nisto lobos
devoradores da dignidade humana.
Lá pela Primeira Nação Attawapiskat, Nação isolada no distrito de Kenora, ao norte de Ontário, no Canadá, situada na foz do rio com o mesmo nome, em James Bay reserva que se estende até à costa da Baía de Hudson e a centenas de quilómetros para o interior ao longo dos afluentes do rio Attawapiskat, os lobos andam a rondar as habitações e não hesitam em atacar os cães. Jack Linklater, vice-chefe de Attawapiskat, disse que os anciãos da comunidade atribuem o problema a uma maior queda de neve na região, o que obrigou os lobos a procurar comida ao redor da comunidade nas últimas três semanas.
“Com
a quantidade de neve que temos, eles não podem correr e estão à procura de
presas fáceis, sendo essas os nossos animais de estimação”, disse. O mesmo
Linklater disse que até ao momento nenhum cão foi dado como morto pelos lobos,
mas que alguns deles foram feridos nos ataques e que outros foram dados como desaparecidos. A comunidade alertou os seus membros para conservarem os seus
animais dentro de casa à noite, contratando em simultâneo dois caçadores com
ordens para abater os lobos que entrarem na Primeira Nação, contratados que têm
vindo a armar armadilhas ao redor de toda a comunidade.
Até
ao momento foram abatidos 5 lobos e 3 deles foram testados para se ver se
tinham contraído raiva. Contudo, o resultado dos seus testes foi negativo.
Linklater disse que alguns lobos pareciam bem alimentados, mas que outros
estavam subnutridos. De acordo com este Cree, a altura da neve acabou por
dificultar a caça de presas selvagens para os lobos, o que fez com que se
tornassem mais ousados. “Eles já não têm medo. Normalmente andavam ocultos
pelas redondezas, nos arredores e nos subúrbios das cidades, mas agora aparecem
com a maior naturalidade pelas estradas.”
Os caçadores contratados pela Primeira Nação continuarão a deter todos os lobos até que todos os membros da comunidade se sintam seguros. Genise Okimaw, uma residente da comunidade, realizou um vídeo de um ataque de lobo através do seu telemóvel na manhã de terça-feira, dia 3 de janeiro, onde se pode ver o lobo a atacar um cão chamado Parker e o Husky Alaska, pertença de Genise. O lobo acabou por recuar e o Parker está a recuperar das dentadas no pescoço. Testemunha do sucedido, esta senhora disse que nunca tinha visto lobos tão agressivos como aqueles na sua comunidade. Pelo que foi dito, fica claro que a “ousadia” dos lobos outra coisa não é do que a luta pela sua sobrevivência face ao excesso de neve que impossibilita a caça das suas presas habituais. Excesso de neve no Canadá; fogo nunca visto no Perú e um terramoto avassalador e jamais experimentado na Turquia – assim vai o nosso mundo – cujas alterações climáticas são uma séria ameaça para todos.
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