Hades
(1),
só o nome é pleno de significado, um mestiço de Bull Terrier com 4 anos de
idade, não se sabe bem por que razão, decidiu agregar-se a uma matilha de 3
coiotes e com ela andou desde julho pelo deserto do Nevada, nos Estados Unidos.
A convivência com os coiotes deixou-lhe marcas pelo corpo todo, um dedo do pé
partido e o escroto infectado, mazelas que não foram suficientes para o afastar
dos seus companheiros de viagem (dificilmente outra raça de cão doméstico
conseguiria sobreviver entre eles numa proporção de 3 para 1) (2).
Reparando no cão errante ferido, Susan McMullen da Southern Nevada Trapping
Team e seu parceiro de armadilhas procederam à sua captura, rebaptizando-o de
Ghost, já que o animal aparecia e desaparecia num ápice.
Depois
que o animal foi notícia na televisão, a família Cabada de Las Vegas reclamou-o
como seu e disse que ele se chamava Hades e não Ghost, apesar do animal não se
encontrar identificado ou microchipado. Sandra McMullen, a mulher que procedeu
à sua captura, não se mostrou disposta a entregar o cão àquela família
hispânica de Las Vegas e Christy Cabala jamais admitiria prescindir dele. A
zanga entre estas duas mulheres era inevitável e a polícia viu-se obrigada a
intervir para pacificar a contenda. Enquanto isso, o Hades que por momentos
virou Ghost, ficou aos cuidados da Animal Foundation, um abrigo sem fins lucrativos
que dele cuidou até ser entregue aos seus legítimos donos – à família Cabada.
Finalmente em casa e a responder pelo seu nome original, Hades (2) mostrou-se extremamente feliz ao reencontrar a sua
família.
A história deste cão prova que o
regresso de alguns cães domésticos à vida selvagem é possível, que também podem
vir a constituir-se em matilha com outros cães selvagens, graças ao seu
sentimento gregário, o que no passado já aconteceu com os lobos e que
actualmente nos Estados Unidos tem levado ao tríplice cruzamento entre lobos,
cães e coiotes, gerando híbridos férteis, processo que ao não ser contrariado
acabará por pôr em risco a sobrevivência das espécies selvagens.
(1)Hades no Antigo Testamento grego é uma tradução do Hebraico “Sheol” (שאול) – sepultura ou morada dos mortos. Durante grande parte do período do Antigo Testamento, acreditava-se que todos iam para um só lugar, fossem humanos ou animais, que ninguém poderia evitar o Sheol, que se pensava estar nas partes mais baixas da terra. Ao contrário deste mundo, o Sheol é desprovido de amor, ódio, inveja, trabalho, pensamento, conhecimento e sabedoria. As descrições são sombrias: não há luz, nenhuma lembrança, nenhum louvor a Deus, na verdade, nenhum som. Os seus habitantes são sombras fracas e trémulas que nunca podem esperar escapar de seus portões. O Sheol é como uma besta voraz que engole os vivos sem se saciar. No final do Antigo Testamento, Deus revelou que haverá uma ressurreição dos mortos e que o Sheol não devorará mais. Em vez disso, Deus engolirá a morte e os fiéis serão recompensados com a vida eterna, enquanto os demais experimentarão o desprezo eterno, teologia que mais se desenvolveu no período intertestamentário. É importante não confundir o Hades com o purgatório ou com o inferno como alguns fazem crer. O Hades do nosso relato não chegou a morrer, ainda que por momentos pudesse ter sido dado como desaparecido ou morto. (2) É bem possível que a sobrevivência do Hades naquela matilha de coiotes se tivesse ficado a dever ao seu pequeno número e à escassez de exemplares machos.
Sem comentários:
Enviar um comentário