Estou farto de ouvir falar em crianças mortas
e cães abatidos, lamentando-se o desaparecimento das primeiras e aceitando-se
com a maior naturalidade deste mundo o assassínio dos últimos, como se essa
fosse a melhor forma de fazer justiça, os cães fossem os únicos culpados, a sua
morte servisse de lição para alguém ou contribuísse decisivamente para a
diminuição de incidentes destes. Um bebé de 5 semanas que se encontrava a
dormir, Mia Riley, foi atacado fatalmente sem ninguém se aperceber disso por
dois cães tipo Rottweiler na costa sul de New South Wales, na Austrália. A bebé
foi levada pelos seus pais à pressa para o Hospital Moruya, no passado sábado,
dia 18 de fevereiro, pelas 22h40, apresentando ferimentos graves na cabeça,
vindo a morrer pouco depois da meia-noite. De acordo com o que a polícia fez
saber, os cães pertenciam à casa onde tudo aconteceu e foram apreendidos por
guardas florestais locais (Eurobodalla Shire Council) e deverão ser abatidos.
Apesar do incidente estar a ser objecto de investigação, crê-se que não haverá
lugar a qualquer acusação?!
Ainda está para vir o primeiro caso destes em
que os pais ou os responsáveis pelas crianças sejam acusados de homicídio por
negligência. O comum de acontecer é abaterem-se os cães e já está! Não caberá
aos pais ou a outros no seu lugar zelar pelo bem-estar e vida das crianças? E
se nas suas casas houver cães, deixá-los-emos soltos com os bebés isolados e ao
seu alcance? Que gravíssima negligência será perante o que poderá vir a
acontecer e que infelizmente se vem repetindo! Quanto mais pequenas são as
crianças, maior é a sua vulnerabilidade aos olhos dos cães, que estranhando a
novidade, movidos por ciúme ou atraídos pela urina e dejectos dos bebés,
começam por lambê-los e num ápice podem começar a mordê-los e a comê-los, como
procedem com outros dejectos, não precisando para isso de serem nenhumas feras.
Quase todos os dias, em qualquer lugar do mundo, temos notícia de uma criança
que foi morta por um cão! Mas teria sido mesmo ou teria morrido em consequência
da ignorância e negligência dos seus responsáveis? Sempre será mais prático, melhor
aceite, menos trabalhoso e barato abater um cão ou dois do que acusar alguém!
Como a origem do problema é humana e resulta das inverdades que geram falsas crenças, convidativas ao descuido e à negligência, a morte dos cães nestes casos é absolutamente gratuita, porque os pais continuarão a negligenciar a segurança dos filhos e a sujeitá-los ao juízo dos cães. Por mais que insistam em mudar-lhes o estatuto, os nossos companheiros de 4 patas jamais deixarão de ser cães, animais de companhia pouco instintivos mas sem o discernimento próprio dos seres humanos, o que os induz a acções próprias da sua espécie. Penso, e não sou dado a juízos temerários, que a maioria dos bebés que perecem à boca dos cães, morrem porque os seus pais não souberam cuidar deles. Como adestrador canino não posso ser confiado, procuro identificar e conhecer os diferentes cães e os seus comportamentos para que não venha a ser surpreendido e a induzir outros ao engano, sempre aconselhando os pais a não deixarem sozinhos os seus filhos com os cães, particularmente os de idade sem manifesto senso de responsabilidade (com idade inferior aos 6 anos), independentemente dos animais nunca se terem mostrado agressivos ou tenham sido alvo de prévio ensino, pois se há coisas de que não podemos abdicar, uma delas será a protecção dos nossos filhos.
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