Assim
como não passa imediatamente pela cabeça das pessoas comuns que os países
construtores de automóveis, em caso de necessidade, depressa passarão a
fabricar tanques, toda a sorte de blindados, helicópteros e aviões, também a
maioria dos meus alunos desconhece grande parte da premência e da utilidade dos
conteúdos de ensino presentes nas diversas disciplinas cinotécnicas a que me
dedico, executando por isso exercícios que passarão ao desuso e ao esquecimento
no dia em que abandonarem a escola. A área da cinotecnia que mais me apaixona e
na qual me empenho mais é a da segurança, muita embora pareça que não, que dê
maior ênfase à obediência e à ginástica cinotécnica, que a meu ver são
requisitos indispensáveis a um cão de guarda bem apetrechado, porquanto
promovem a unidade de propósitos dos binómios e robustecem os cães física e
psicologicamente para as suas missões. Para melhor se compreender a abrangência
da ginástica e dos exercícios que preconizo, vou começar por explicar a razão
que me leva a insistir nos “SALTOS
DE JANELA”, saltos que não inventei e que continuam a ser
executados em várias partes do mundo por treinadores profissionais e de cães de
serviço.
Os
saltos de janela, que na sua essência são obstáculos tipo alvo, ainda que a
partir de determinada altura sejam apenas destinados a cães especiais ou
especializados, como o próprio nome indica, são obstáculos verticais encimados
por uma janela que pouco a pouco vão ficando mais altos e os lados das suas
janelas mais estreitos, pretendendo-se com isso que um cão médio saudável
consiga ultrapassar uma janela elevada a 150cm com 40cm de lado.
O
objectivo destes saltos é o de capacitar os cães a entrar por janelas ao seu
alcance (normalmente as de veículos automóveis e as do rés-do-chão dos prédios)
em áreas habitacionais, rurais ou urbanas, onde seja preciso surpreender e
varrer um intruso, possibilitando desse modo o seu cerco e captura, diminuindo simultaneamente
os riscos para o condutor do animal. Para além desta manobra de intrusão, os
saltos de janela preparam ainda os cães para a ocultação e evasão, adiantando-lhes
novos subsídios para a sua sobrevivência.
A JANELA
na Acendura Brava é um obstáculo táctico cuja área de transposição oscila entre
120 e 140cm, ao qual acoplamos outro obstáculo ou uma pessoa, dificuldade
acrescida que visa o aprimoramento técnico dos binómios. E isto porquê? Porque uma
janela pode ser antecedida por qualquer obstáculo (bancos, estendais de roupa, vasos,
canteiros de flores, motos, bicicletas, brinquedos vários, etc.), e importa que
o cão faça um salto limpo para não perder o efeito surpresa.
Os
“SALTOS DE FISGA”
são transposições executadas sobre troncos de árvores, na sua maioria
bifurcados (em forma de fisga), que não visam exclusivamente o salto, mas também
o acesso, a permanência, a ocultação e a saída dos cães escondidos nas árvores,
em cenários rurais de menor ocultação e onde importa garantir a sua defesa e
dar vantagem aos animais, constituindo as árvores em lugares seguros de
ocultação e observação.
Como
não existem árvores por encomenda, quando uma tem os ramos muito altos, o que
impede o salto, e está levemente inclinada, somos também obrigados a ensinar os
cães a escalar, tarefa que infelizmente não está ao alcance de todos os cães.
Os
saltos de fisga também evoluem das árvores mais baixas para as mais altas,
esperando-se que os cães venham a ocultar-se a uma altura de 1,8 m (acima da
cabeça de um homem de altura média), o que é óptimo durante a noite por tornar
o cão praticamente invisível (deseja-se que não seja branco ou de cor clara).
Para
quem ignora a sua aplicação, estes saltos não passam de pitorescos exercícios
de ginástica, quando na verdade são parte imprescindível do treino de um bom, multifuncional e versátil cão de guarda, a quem importa dar vantagem para garantir a sua
sobrevivência. Nos Saltos de Janela, entre os binómios de maior cumplicidade,
os cães poderão alcançar janelas à altura de um primeiro andar, caso se serviam
dos seus donos como escada. Sobre o assunto muito mais haveria a dizer, mas
hoje ficamos por aqui. Quiçá brevemente retomá-lo-emos.