terça-feira, 20 de setembro de 2022

O DESPERTAR: DO AVISO PARA A INTIMIDAÇÃO

 

O estoiro de um cão em matéria de segurança deve-se principalmente a três razões: à excessiva submissão, à recorrente inibição e ao desaproveitamento do seu potencial individual, na maior parte dos casos por ignorância ou temor. A excessiva submissão acontece quando é dada a primazia à disciplina de obediência, em particular às figuras de imobilização antes e durante a puberdade do animal, o que terá como consequência directa o peso da inibição, também ele causador do desequilíbrio do seu potencial. Depois de alguns trabalhos prévios e como consequência do seu crescimento, o momento que assinala o despertar do cão para a defesa do seu território, enquanto indivíduo próprio para defendê-lo, é quando começa a ladrar para quem passa ou se aproxima dos limites do seu lar. Como o ladrar do animal pode ser incómodo para os donos da casa e principalmente para os vizinhos, indevidamente há quem passe a vida a mandá-lo calar! Com o tempo, tal inibição acabará por surtir efeito, desinteressando-se o cão por estranhos e aceitando-os como parte do de quotidiano, o que poderá vir a colocar a sua vida e dos seus donos em risco.

Bufar e ladrar são duas vozes caninas de aviso e apenas isso, quando usadas pelo animal no desempenho da sua tarefa guardiã. Ele irá fazer uso do bufar perante alguma incerteza, desconfiança ou perigo longínquo, virando a cabeça para o local do som ou odor parcialmente detectados. Usará o ladrar consecutivo e alto perante a aproximação de alguém desconhecido. Ainda que o ladrar assinale o despertar do cão para guardar uma propriedade, enquanto voz de aviso, não causará dolo a terceiros e exporá de sobremaneira o cão, não conseguindo por isso demover os possíveis intrusos das suas intenções. Já o rosnar é uma ameaça, quando hostil e profundo, solto entre a garganta e os dentes, que é por vezes acompanhado do seu ranger. Com o cachorro a ladrar aos portões, urge apoiá-lo nas acções para que transite do aviso para a ameaça, do ladrar para o rosnar e daí para o que for necessário. Enquanto o ladrar de um cão pouco assusta e vulnerabiliza-o, o seu rosnar é por norma dissuasor! A seqüência ideal preconizada pelos que se dedicam à guarda desportiva - detectar (D), sinalizar (S), ameaçar (A) e finalmente atacar/defender, debaixo de ordem (A/D) - DSAA/D - é óptima para os cães que sabem aquilo que os espera, mas pode ser fatal para os cães que são surpreendidos e que se encontram sós, que normalmente ficam confusos pela ausência dos protocolos, demorando por isso a reagir, com os olhos na sua retaguarda, esperando que dali venha a ordem ou o socorro necessário.

A partir de circunstâncias favoráveis, com engenho e alguma ajuda, todos os cães que ladram poderão passar a usar outras vozes e experimentar as diferentes acções a que induzem, desde que os animais saiam sempre vencedores e não estejam acostumados a render-se, coisa fácil de acontecer quando são abusados pelos donos, que ao invés de incentivá-los, sempre acabam por inibi-los e subjugá-los gratuitamente por razões que a própria razão desconhece. O bom aproveitamento do potencial individual de um cão em matéria de segurança poderá fazê-lo transitar de “cão de alarme” para “cão de guarda” e o contrário também é possível. Todo o cão que ladra, protegido pelo seu portão e incentivado pelo dono, mediante o condicionamento e o contributo das suas 3 principais memórias (mecânica, afectiva e associativa), depressa aprenderá a evoluir calado como convém e a surpreender quem indevidamente se encosta ou tenta saltar os seus muros. Por outro lado, cão que desusa o rosna ou que não se sente cómodo ao fazê-lo, dificilmente conseguirá vir a capturar um invasor ou intruso, por partir para a acção já vencido. Se o seu cachorro já ladra ao portão da sua moradia quando alguém passa por perto e pretende fazer dele um bom guarda, desafie-o para rosnar, que o resto virá por acréscimo, naturalmente.

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