O
estoiro de um cão em matéria de segurança deve-se principalmente a três razões:
à excessiva submissão, à recorrente inibição e ao desaproveitamento do seu
potencial individual, na maior parte dos casos por ignorância ou temor. A
excessiva submissão acontece quando é dada a primazia à disciplina de
obediência, em particular às figuras de imobilização antes e durante a
puberdade do animal, o que terá como consequência directa o peso da inibição,
também ele causador do desequilíbrio do seu potencial. Depois de alguns
trabalhos prévios e como consequência do seu crescimento, o momento que
assinala o despertar do cão para a defesa do seu território, enquanto indivíduo
próprio para defendê-lo, é quando começa a ladrar para quem passa ou se
aproxima dos limites do seu lar. Como o ladrar do animal pode ser incómodo para
os donos da casa e principalmente para os vizinhos, indevidamente há quem passe
a vida a mandá-lo calar! Com o tempo, tal inibição acabará por surtir efeito,
desinteressando-se o cão por estranhos e aceitando-os como parte do de quotidiano,
o que poderá vir a colocar a sua vida e dos seus donos em risco.
Bufar
e ladrar são duas vozes caninas de aviso e apenas isso, quando usadas pelo
animal no desempenho da sua tarefa guardiã. Ele irá fazer uso do bufar perante
alguma incerteza, desconfiança ou perigo longínquo, virando a cabeça para o
local do som ou odor parcialmente detectados. Usará o ladrar consecutivo e alto
perante a aproximação de alguém desconhecido. Ainda que o ladrar assinale o
despertar do cão para guardar uma propriedade, enquanto voz de aviso, não causará
dolo a terceiros e exporá de sobremaneira o cão, não conseguindo por isso
demover os possíveis intrusos das suas intenções. Já o rosnar é uma ameaça,
quando hostil e profundo, solto entre a garganta e os dentes, que é por vezes
acompanhado do seu ranger. Com o cachorro a ladrar aos portões, urge apoiá-lo
nas acções para que transite do aviso para a ameaça, do ladrar para o rosnar e daí
para o que for necessário. Enquanto o ladrar de um cão pouco assusta e
vulnerabiliza-o, o seu rosnar é por norma dissuasor! A seqüência ideal preconizada
pelos que se dedicam à guarda desportiva - detectar (D), sinalizar (S), ameaçar
(A) e finalmente atacar/defender, debaixo
de ordem (A/D) - DSAA/D - é óptima para os cães que
sabem aquilo que os espera, mas pode ser fatal para os cães que são
surpreendidos e que se encontram sós, que normalmente ficam confusos pela ausência
dos protocolos, demorando por isso a reagir, com os olhos na sua retaguarda,
esperando que dali venha a ordem ou o socorro necessário.
A partir de circunstâncias favoráveis, com engenho e alguma ajuda, todos os cães que ladram poderão passar a usar outras vozes e experimentar as diferentes acções a que induzem, desde que os animais saiam sempre vencedores e não estejam acostumados a render-se, coisa fácil de acontecer quando são abusados pelos donos, que ao invés de incentivá-los, sempre acabam por inibi-los e subjugá-los gratuitamente por razões que a própria razão desconhece. O bom aproveitamento do potencial individual de um cão em matéria de segurança poderá fazê-lo transitar de “cão de alarme” para “cão de guarda” e o contrário também é possível. Todo o cão que ladra, protegido pelo seu portão e incentivado pelo dono, mediante o condicionamento e o contributo das suas 3 principais memórias (mecânica, afectiva e associativa), depressa aprenderá a evoluir calado como convém e a surpreender quem indevidamente se encosta ou tenta saltar os seus muros. Por outro lado, cão que desusa o rosna ou que não se sente cómodo ao fazê-lo, dificilmente conseguirá vir a capturar um invasor ou intruso, por partir para a acção já vencido. Se o seu cachorro já ladra ao portão da sua moradia quando alguém passa por perto e pretende fazer dele um bom guarda, desafie-o para rosnar, que o resto virá por acréscimo, naturalmente.
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