Tenho
uma natural aversão em comentar disparates perpetrados por povos que vivem à
sombra da bandeira da Monarquia Espanhola, porque a minha família ultrapassa as
fronteiras que separam Portugal de Espanha e ao fazê-lo é como se me picasse a
mim mesmo. Não obstante, há casos e casos, e o que vou hoje noticiar envergonha
qualquer um pela sua crueldade e ignorância desusadas, que associadas à
burocracia, acabaram por vitimar um cão num terraço em Torrevieja, na província
de Alicante, na Comunidade Valenciana. Alicante que já era famosa pelos seus
passeios turísticos de burro, passa doravante a sê-lo também pelas suas “burradas”.
Em Torrevieja, um cão tipo lupino morreu depois de ter ficado amarrado à
torreira do sol durante quatro dias, sem água nem comida, no terraço de uma
casa. O grupo dos direitos dos animais PARTY
AGAINST ANIMAL ABUSE (PACMA) diz que o conselho da
cidade e a polícia local estavam cientes da situação e "foram
incapazes" de fazer qualquer coisa para evitar o trágico resultado. A
organização assegurou que em 17 de agosto, os vizinhos informaram a câmara municipal
que um cachorro amarrado pelo pescoço havia sido "extremamente
sufocado" e "exposto ao sol" numa casa situada no complexo de
urbanização Torrevieja Nueva. Tanto os moradores quanto o conselheiro
independente Nacho Torre-Marín informaram a polícia local e o Conselho de
Bem-Estar Animal, chefiado por Concha Sala, sobre o que se estava a passar.
Infelizmente, diante da inoperância das autoridades e instituições contactadas,
os vizinhos anunciaram alguns dias depois a morte do animal (na foto abaixo
ainda vivo).
Concha
Sala confirmou que a polícia elaborou um relatório para o tribunal de
Torrevieja, onde fez saber das suas deslocações ao local e de haver cumprido
com o legalmente estabelecido, uma vez que não conseguiu contactar os proprietários
do terraço onde o cão pereceu. Por sua vez, a vereadora adiantou que os
representantes do seu departamento e da polícia local não conseguiram ter
acesso à casa onde tudo ocorreu porque e nenhuma das pessoas que ali
morava respondeu aos vizinhos, mas aperceberam-se que o animal estava "mal cuidado”.
A polícia, por sua vez, também fez asneira e da grossa, porque ao se abeirar da
casa anunciou que o animal já se encontrava “fora de perigo porque as horas de
sol já haviam passado”, saindo dali sem se inteirar da saúde do pobre cão. Após
a morte do animal, a Câmara Municipal ordenou a transferência do corpo do cão
para uma clínica veterinária com quem tem contrato para levantamento de um
relatório clínico, adiantando que "em nenhuma circunstância o corpo será
queimado sem que sejam feitos os testes julgados necessários". O PACMA e o conselheiro Nacho Torre-Marín pedem agora que o caso seja tratado até ao fim,
que Concha Sala seja demitida e a existência de um protocolo de resgate que “coloque
a vida dos animais à frente dos procedimentos burocráticos necessários”
agilizando assim o resgate para evitar que ocorram mais mortes como aquela.”
Pergunta-se: por que razão a polícia não resgatou o animal? Temeria ser acusada
de invasão domiciliar? Não confiamos na polícia em casos destes? Burradas de
Alicante que por vezes ultrapassam fronteiras.
Em certas partes de Espanha a vida de um cão tem pouco ou nenhum valor, como se esse desrespeito tradicional fosse indispensável à preservação da cultura espanhola. É o futuro quem tem a última palavra a dizer sobre a continuidade ou não das idiossincrasias de um ou mais povos. Por causa disto e porque o mundo está em constante mudança, acredito que no futuro os animais venham a merecer maior respeito em terras de Espanha. Por ora, de Alicante, só quero lembrar-me dos idílicos passeios de burro para turistas, de manhãzinha ou ao final da tarde, muito embora lamente a sorte dos asnos, que se vêem obrigados a carregar volumosas senhoras do norte da Europa, a quem o exercício só lhes faria bem (o dia da redenção dos burros também chegará a Alicante, se calhar mais depressa do que o esperado).
Sem comentários:
Enviar um comentário