Raramente
saio com o meu CPA depois do pequeno-almoço e antes do jantar, porque já não
suporto os bajuladores, os entendidos que já tiveram um Pastor Belga
Groenendael como ele e os “doutos” com os seus sábios conselhos. Mas hoje, com
o sol a bater-me forte na janela, decidi espairecer e sair com o Paco depois de
almoço, porque tinha comido demais e já andava farto de ver ruas vazias e jardins
desertos. Estranhamente, tinha necessidade de ver gente, apesar de me julgar um
eremita, o que de certa forma sou. Há falta de melhor companhia e porque ele é
um excelente confidente, decidi comentar com o cão o que ia vendo, enquanto
ele, esfusiante, marcava todas as esquinas com o seu odor, comentários que passo
a dividir com os meus leitores.
Ao
domingo e ao bom jeito português, pese embora o confinamento decretado pelo
governo, muitos esticam os seus passeios para a orla marítima como se desconhecessem
os limites dos seus concelhos ou aos fins-de-semana, por milagre, todos se
fundissem uns nos outros. Há muita gente a praticar desporto, mais velhos do
que novos e as caminhadas vieram para ficar, muito embora seja desagradável
esbarrar com pessoas atadas atrozmente em licra, com mais pregas que um Sharpei
num show de conformação, no que eventualmente lembram loucos amarrados a
camisas de força. Perguntei para o cão se aquele mau-gosto seria passageiro,
mas ele nem olhou para mim, interessado que estava em dois minúsculos cãezinhos
que não se cansavam de ladrar para ele.
Numa
hora, cruzámo-nos com duas dúzias de cães, na sua maioria miniatura. Com
pedigree só avistámos Buldogues Franceses, Pinschers Chihuahuas e Pugs, sendo
os demais híbridos destas raças, mas todos eles irritadiços, inexplicavelmente
soltos e por demais vulneráveis. Felizmente o Paco é bom ouvinte e depressa
anuiu ao meu conselho, desinteressando-se deles como se de coisa desprezível se
tratasse. Tolerou-os melhor do que eu, que cheguei a casa ainda com os ouvidos
a tinir. Com o aumento da corrida aos cães de abrigo, muitos daqueles que só
tinham um cão passaram a ter dois, o que tem aumentado de sobremaneira a
chinfrineira nos parques e jardins quando se avistam uns aos outros. Inesperadamente
e do meio do pagode, há sempre um ignoto inteligente que diz: “Esse cão é
perigoso, deveria andar com açaime!” – apesar do Paco ser extraordinariamente obediente,
estar bem controlado e ser naturalmente simpático.
Quando isto acontece, eu costumo dizer para o cão: “Conheces o animal de algum lado? Então não lhe ligues nenhuma, que é exactamente aquilo que eu faço.” Verdade seja dita, o Paco é bonito e apelativo como poucos, chama à atenção de quem o vê passar e não falta gente igualmente linda que se acerca dele para o cumprimentar e afagar. Com facilidade daria um excelente cão casamenteiro, muito embora estivesse mais interessado em arranjar uma noiva para si. Terminado este passeio em horário excepcional, o cão cumprimentou com alegria os vizinhos e devorou a marmita toda, por ter andado a meter o nariz onde não era chamado. Eu não vi nada de novo, mas adorei levar o cão a passear - ele não nasceu para estar preso!
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