Terão os cães do passado
ter sido menos interventivos, interactivos e úteis quando comparados com os do
presente ou fomos nós que mudámos a nossa atitude em relação a eles? Levanto a
questão porque antigamente não se divulgava e não se ouvia falar dos feitos
caninos, como se fossem banais ou triviais - coisa já esperada - enquanto hoje
só se ouve falar dos seus actos heróicos. Sim, fomos nós que mudámos de atitude
ao pensar no seu bem-estar, porque se os cães em algum momento deixassem de ter
préstimo, já teriam desaparecido há muito ou entrado em vias de extinção (assim
aconteceu com os burros de 4 patas). Hoje o País acordou, via Correio da Manhã,
com uma notícia bombástica: “Cadela salva casal e filho bebé da morte”. Façanha
que teve lugar na ignota aldeia de Teixelo, pertencente ao Concelho de Tarouca,
no Distrito de Viseu.
Tudo aconteceu na madrugada
do passado Sábado, dia 28 de Fevereiro, quando um casal e um filho com quatro
anos se encontravam a dormir. De acordo com o relato da dona da cadela, a
Estrela, assim se chama a rafeira do tipo bassetóide, de orelhas erectas e com
o seu quê de podengo cerdoso (na foto de pormenor abaixo), começou a ganir até
acordar a família e alertá-la para algo anómalo, salvando-a de morrer
intoxicada com monóxido de carbono, possivelmente com origem numa fuga de gás de
um esquentador. Apesar trôpega pela inalação tóxica, foi a matriarca da
família, Andreia Lourenço, que pediu socorro a um primo seu e este ligou para o
112, acabando o casal e filho por rumar ao Hospital de Vila Real. A acção da cadela
foi decisiva, porque o seu dono tem problemas cardíacos e a médica que o
assistiu disse que se ele tivesse mais 10 minutos a inalar o gás, não teria
sobrevivido.
A pequena rafeira, de olhar sério e vivaço, está com casal que salvou há 7 meses, foi resgatada de um canil na Serra da Estrela e todos na aldeia querem agora conhecê-la por ter evitado uma tragédia. “À Estrela agradeço-lhe a minha vida, agradeço a vida do meu filho e a do meu marido. Enquanto estive no hospital perguntei sempre por ela, até porque ainda vomitou e terá sido também a sorte dela. Quando voltei para casa parecia uma criança, a mimar-me e a querer também ela carinho”, afirmou a sua dona em lágrimas. Certamente no passado ocorreram muitos episódios semelhantes a este que não foram noticiados e que não mereceram qualquer destaque, a que poderemos chamar “façanhas dos tempos de ingratidão”. O acontecido na aldeia de Teixelo (o nome da localidade é tão raro que aparece como erro ortográfico no corrector do texto), é possivelmente um caso de reciprocidade amorosa há muito retratado no aforismo que diz: “amor com amor se paga”.
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