terça-feira, 1 de dezembro de 2020

QUANTO MAIS SÃO MENOS FAZEM

 

O tempo em que vivemos é caracterizado por aquilo que não queremos sem sabermos muito bem para onde vamos, pleno de indecisões e parco de consensos, apesar de nunca antes termos estado tão unidos. Bad Pyrmont é uma cidade alemã no distrito de Hamelin-Pyrmont, no estado de Niedersachsen, pouco conhecida para além das fronteiras germânicas e que ontem foi notícia por conta do ataque mortal de um American Staffordshire Terrier sobre um pequeno cão rafeiro. Tudo se passou perto de uma farmácia onde os donos do staffie se dirigiram, deixando-o preso e sem açaime ali perto. À passagem de um casal que se fazia acompanhar de um pequeno cão rafeiro, o Staffordshire soltou-se e de imediato atacou o cãozinho. Num instante, segundo a polícia, formou-se uma grande multidão de transeuntes, não sendo nenhum deles capaz de salvar a vida ao infeliz rafeirinho, sendo caso para se dizer “quanto mais são menos fazem”! Tudo se passou com os donos do staffie dentro da farmácia, donos cuja experiência será agora avaliada para legitimar a posse de um cão destes, sendo também investigado se o cão é ou não reincidente nestes actos, uma vez que o Hameln Veterinary Office e o Public Order Office da cidade de Bad Pyrmont receberam relatórios sobre o incidente e serão eles a deliberar sobre o assunto.

Perante a venda a granel de cursos de obediência básica (de eficácia duvidosa) e diante de métodos que só actuam para quem os dispensa, também farto da infodemia que rodeia este assunto, geralmente originária de gente urbana que só tem contacto com animais nas férias de agosto quando se desloca à sua terra natal, vou pronunciar-me sobre o caso enquanto adestrador com razoável experiência. Independentemente dos eventuais cursos em que o Staffie tenha sido aprovado, os seus donos encontram-se claramente desaprovados quando à sua responsabilidade civil, cívica e social, porquanto não pensaram nos demais quando não açaimaram o cão, o que teve como consequência directa a morte do pequeno rafeiro, o que só por si é motivo bastante para perderem a posse do Staffordshire que não quiseram ou não souberam sociabilizar. Valerá a vida do rafeiro menos do que a do molosso de arena? Se as autoridades atrás indicadas entenderem manter a posse do cão aos donos, no mínimo e a pensar no bem-estar de todos, deverão em contrapartida exigir-lhes que o sujeitem a um processo de reeducação, donde obrigatoriamente terá que sair aprovado.

Cães como estes, de ânimo descomunal, grande força física e potente mordedura, não são para toda a gente, por mais interessados e empenhados que se mostrem os seus donos à partida, porque exigem-lhes em simultâneo valentia (o que nunca foi fácil de encontrar), uma disponibilidade imensa e treino aturado. Sem estas condições, primordiais para a inserção harmoniosa destes cães na sociedade, será muito difícil inibir ou cessar os seus ataques à voz (debaixo de comando) e ainda mais à distância. Perante as dificuldades em alcançar este condicionamento, pergunto: “Qual seria o percentual dos binómios aprovados? Não tenho dúvidas, perigosamente baixo!

Por outro lado, por razões que só os instintos podem explicar e eles são difíceis de contrariar por serem acções automáticas, haverá circunstâncias em que seremos obrigados a cessar os seus ataques e a abrir-lhes os maxilares para que não danifiquem seriamente ou matem as suas presas ou opositores, tarefa que exige sangue-frio, treino e prontidão para quem a executa e também o máximo cuidado com o cão agressor, que dispensa ser agredido, ferido ou nocauteado. Apesar desta acção ser duma simplicidade extrema, infelizmente muito poucos, por uma razão ou por outra, conseguirão levá-la a cabo. Este trabalho é uma obrigação escolar que deverá ser sempre endereçada aos donos deste tipo de cães, para que saibam executá-lo diante de necessidade. Escusado será dizer que caberá aos adestradores dar início à tarefa e repeti-la quantas vezes for necessário até que os donos se apropriem dela. O desaproveitamento dos alunos humanos nesta matéria, obrigará os seus cães a sair invariavelmente à rua de açaime posto, como manda a lei.

Como sabemos que a maioria dos donos visados não fará isso ou fá-lo-ão somente nas circunstâncias em que acharem necessário, para evitar males maiores, o melhor que há a fazer é aconselhá-los a castrar os seus cães, independentemente da raça dos animais estar correcta ou não nos seus papéis de identificação, já que não faltam por aí “jacarés” identificados como “libelinhas”, cães de arena alcunhados de rafeiros (vira-latas; guaiopecas, stray dogs; pariah dogs, etc.). Diante do que adiantei, os donos do Staffordshire assassino dificilmente manteriam a sua posse. 

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