Recuar não é um andamento preferencial em cavalos e cães, que só farão uso dele descontinuadamente nas situações onde não lhes restar outra opção, já que nasceram para andar para a frente. Não obstante, não há cavalo que não recue nem cão que não o faça, dependendo o primeiro das ajudas que lhe derem no solo ou montado e o segundo do condicionamento, muito embora neste caso a tarefa seja facilitada ou dificultada pela morfologia de algumas raças caninas. Fazer recuar continuadamente um cão sobre um tronco estreito e irregular, como se pode ver no GIF acima, apesar da maioria dos cães ter uma visão monocular superior à dos humanos, não é tarefa fácil, porque obrigará o animal a substituir a visão pelo tacto, tornando-o na circunstância sentido director. Se reparamos com atenção no movimento das patas do cão em exercício, vemos que ele se apoia francamente de mãos e tacteia cuidadosamente com os pés, ou seja, que a abertura de anteriores é maior do que a visível nos seus posteriores, coisa própria dos Filas e S. Miguel que são seleccionados por essa flexão para morderem abaixo do úbere das vacas. A substituição momentânea de um sentido director canino por outro, currículo obrigatório para os cães mais concentrados e cúmplices, visa em primeira instância a sua salvaguarda, não havendo nisto qualquer violência, porque trocam quase automaticamente de sentido director, passando naturalmente da visão para o olfacto quando lhes convém. Lamentavelmente, o Cão de Fila de São Miguel continua a ser um livro por abrir para a maioria dos portugueses, um cão rústico, fiel, versátil e valente que nada fica a dever aos seus iguais de génese germânica.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2020
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