UM TREINO COM PRINCÍPIO, MEIO E FIM

Ontem trabalhámos muito, apesar da frente polar que nos fustigou. O treino foi concorrido e todos os binómios alcançaram progresso. O ensino da obediência foi intercalado com exercícios de ginástica para evitar a saturação dos cães, que se mostraram particularmente disponíveis face ao frio matinal que se fazia sentir.

Quando na classe temos vários cachorros que se destinam à defesa pessoal ou à guarda de pessoas e bens, visando a excelência da sua futura prestação, logo procuramos um obstáculo ou exercício que simultaneamente se preste ao seu desenvolvimento atlético e ao robustecimento d seu carácter. Desta vez o exercício escolhido foi a ultrapassagem do fosso através de um tronco. Como a maioria dos binómios não seria capaz de executar a tarefa à primeira, viu-se obrigada a recorrer à sua primeira fase – a ensinar os cães a equilibrar-se no tronco. Na foto seguinte vemos em primeiro plano o Rui a fazê-lo com o Weimaraner Lord, cão que nos chegou totalmente desorientado e espavorido, a temer tudo e todos, o que nos obrigou nas duas primeiras lições a colocar-lhe um chocalho ao pescoço para que não ouvisse e não se intimidasse com os pequenos barulhos à sua volta. 

No mesmo trabalho e perante dificuldades idênticas, vemos na foto abaixo o Miguel, um jovem de 17 anos com 1,9 m de altura a ensinar a passagem a uma mestiça de Serra da Estrela, que mal tinha sido atrelada e que nunca se tinha visto em tais assados, sendo nisto marinheira de primeira viagem.

Bem contente anda o nosso amigo Noé, porque o seu cachorro CPA Ruky, para além de ter uma invejável morfologia, é um cão que parece extraordinariamente fadado para a interacção, concentrando-se com facilidade nos exercícios propostos. O cachorro é daqueles cães que consegue acertar mesmo perante os erros do seu condutor. Ambos também foram convidados para o tronco do fosso e venceram-no com naturalidade.

Também o Henrique, filho do José Maria, foi convidado a fazer o tronco com o CPA cinzento Jay, não porque o Pastor necessitasse de retroceder á primeira face, mas por que importava envolver o miúdo nos trabalhos.

O José Maria, desconhecendo-se-lhe “a mosca que lhe mordeu”, tem vindo a melhorar substantivamente as suas prestações escolares. Na foto abaixo vemo-lo a fazer o tronco com o Jay na frente, exalando o binómio concentração e segurança.

Num sábado de manutenção para o binómio José António/Doc, vemo-lo a ultrapassar o tronco com o cão atrás, evolução que espelha o controlo do condutor sobre as acções do Fila, cão com algumas arestas por limar para alcançar o estrelato entre nós e em qualquer lado.

O Rui é um ex-paraquedista (há quem diga que uma vez paraquedista, paraquedista para sempre), dono do Weimaraner Lord, que está agora a pagar pelo seu desconhecimento relativo aos seus deveres enquanto proprietário canino. Não obstante, pôs mãos à obra e conseguiu levar o Lord a atravessar em segurança o tronco sobre o fosso, vitória que é digna de destaque atendendo às múltiplas dificuldades criadas pelo braco.

Também o Noé conseguiu pôr o seu cachorro a atravessar o fosso. É curioso reparar que o cão fê-lo na frente do dono, o que demonstra equilíbrio e segurança, qualidades indispensáveis a um bom cão de guarda que estará de vigia a maior parte do tempo sozinho.

Convém dizer que o cachorro CPA Ruky ainda não tem 4 meses, o que não o impede de ser concentrado, disponível e extraordinariamente apto para a interacção, graças à sua capacidade de aprendizagem e ao amor que nutre pelo dono.

Também o Weimaraner Lord acabou por vencer o tronco com decisão e alegria, pondo a sua disponibilidade atlética ao serviço de fim útil, tudo porque o Rui não deixou de acreditar nele e o Weimaraner percebeu finalmente que tem um líder.

E como a quem muito é dado, é também exigido, pedimos ao mesmo binómio que voltasse a percorrer o tronco, agora com um corpo tombado no seu meio. Conforme o esperado, o Weimaraner nem hesitou. Apesar de ser um Weimaraner e talvez por causa disso, qualquer cão destes pode ser apto para as mais diversas disciplinas cinotécnicas (anda por aí tanto Weimaraner mal aproveitado!)

Há miúdos com um enorme talento e não o sabem, vindo eventualmente a reconhecê-lo por acidente. Tal foi o caso do Miguel, que apesar das dificuldades que a Morggy inicialmente lhe criou, conseguiu fazer com que a cadela atravessasse o fosso com relativa facilidade, apesar haver um corpo a meio do tronco, o do Henrique. Este foi um treino muito profícuo, porque todos os binómios alcançaram progresso – um treino com princípio, meio e fim, considerando as metas e objectivos alcançados.

Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Henrique/Jay; José António/Doc; José Maria/Jay; Luis/Keila; Miguel/Morggy; Noé/Ruky; Paulo/Bohr; Pedro/Luna e Rui/Lord. A reportagem fotográfica e a edição estiveram a cargo do Paulo Jorge. O Xarrôque das Soldaduras ficou entregue aos filhos como é sua obrigação e sentimos a já longa falta do Gonçalo e da Aria. Os binómios encontram-se hoje de estágio e amanhã retomarão os trabalhos.