terça-feira, 8 de dezembro de 2020

CONHEÇA A ESTRANHA TIA WEN DE CHONGQING?

 

Há vinte anos atrás, Wen Junhong salvou um cão abandonado das ruas de Chongqing, no sudoeste da China, hoje divide sua casa com mais de 1.300 e eles continuam a chegar. Depois de resgatar aquele primeiro cão, um pequinês a quem chamou de Wenjing - "gentil e quieto" em chinês - Wen descobriu que não conseguia parar, movida por preocupações relativas às dificuldades que os cães enfrentam nas ruas da China, desde acidentes a raptos para o comércio de carne de cão. "É importante cuidar desses cães", disse ela. "Cada um de nós deve respeitar a vida, e a Terra não é apenas para os humanos, mas para todos os animais." A posse de cães era anteriormente considerada um passatempo burguês e proibida sob a liderança do fundador da China comunista - o Presidente Mao.

As opiniões sobre os animais de estimação mudaram drasticamente desde então e a posse disparou, mas o país ainda não tem uma lei nacional de bem-estar animal e existem dezenas de milhões de cães e gatos vadios, de acordo com a instituição de caridade “Animals Asia”. Os animais abandonados raramente são esterilizados, agravando o problema e colocando mais pressão sobre os centros de resgate de animais superlotados e com poucos recursos. Além dos animais de estimação abandonados e vadios que regularmente são deixados no seu jardim, Wen diz que recebe ligações "todos os dias para ajudar mais cães". E não são só os cães que cativam a senhora de 68 anos, porque também vive com 100 gatos, 4 cavalos, alguns coelhos e pássaros. “Algumas pessoas dizem que sou psicopata”, admite ela. O seu dia começa às 4 da manhã com uma tarefa nada invejável, a de limpar 20-30 barris de dejectos de cães durante a noite e cozinhar mais de 500 kg de arroz, carne e vegetais para os animais. Os resíduos são queimados no quintal, enviando uma nuvem contínua de fumo para o céu. Um punhado de cães corre solto ao redor do prédio, enquanto um Pitbull Terrier amarrado na porta das traseiras rosna e ladra para os estranhos que passam.

Todos os quartos da casa de dois andares estão cheios de gaiolas, empilhadas umas sobre as outras. Cercada por cercas e portões trancados, a sua localização na encosta é a mais recente de uma série de casas, depois que as reclamações dos vizinhos a forçaram ao afastamento. Wen financia a sua operação com o produto da venda do seu apartamento, empréstimos de até 60.000 yuans (9.100 dólares), com a sua pensão e com economias de uma carreira anterior como técnica ambiental. Ela também recebe doações depois de chamar a atenção nas redes sociais, onde foi apelidada de "Tia Wen de Chongqing". Wen espera que a atenção leve a adopções, mas os recém-chegados superam em muito os que estão a ser realojados. Wen tem sofrido ataques online, depois que algumas fotos dos seus dos animais foram postadas. “Viver em uma gaiola tão pequena não é melhor do que ser um cachorro de rua?”, questionou um crítico nas redes sociais. Os cães grandes são mantidos do lado de fora e os pequenos em gaiolas dentro de casa. "Se todos os cães forem soltos, eles lutarão", disse Wen.

Alguns cães tentam roer as barras, enquanto outros ladram implacavelmente e lutam uns com os outros. Um rafeiro ladra com qualquer um que passe até que Wen cubra a sua gaiola com um casaco. Ela tem seis funcionários, que dormem num quarto sobre uma pilha alta de sacos de ração. Um deles, Yang Yiqun, mostra braços e as mãos cobertos de cicatrizes e arranhões. "Gosto dos cães, mesmo que me mordam", diz o estóico empregado de Sichuan que trabalha com Wen há cinco anos. Apesar do seu amor pelos animais e de uma equipa sempre pronta para ajudá-la, a Tia Wen está sob muita pressão para lidar sozinha com tamanho problema. Ela espera em vencer o desafio, mas admite vir a perdê-lo. Se entretanto não receber mais apoios, nomeadamente internacionais, o trabalho que desenvolveu ao longo de duas décadas poderá esfumar-se e ter sido em vão.

Sem comentários:

Enviar um comentário