Antes
de falarmos sobre o cão, como grande é o número de leitores brasileiros deste
blogue, importa explicar-lhes o que se entende por “lobeiro” no português de
Portugal, uma vez que assim tratamos uma variedade cromática presente no Cão de
Pastor Alemão (CPA). “Lobeiro” neste caso significa da cor do lobo, um
variedade bicolor que ao invés de ter “capa preta”, tem-na cinzenta,
conservando por debaixo desta uma côr fulva que lhe faculta regular a pelagem
de acordo relógio biológico. Esta variedade cromática presente nos Pastores Alemães
é a última a deixar-se “estragar”, a abandonar o olfacto como sentido director
e a substituí-lo pela identificação à vista, sendo por causa disso e de muita
ignorância, considerado lerdo, desconfiado e arredio. O facto de demorar a
alcançar a sua maturidade emocional e de ter uma curva de crescimento mais
longa, tem também sido mal interpretado, porque os animais que mais depressa se
fazem são os mais rudimentares. Por causa desta demora, há décadas que esta
variedade é beneficiada com a negra, que como se sabe é precoce. Esta junção
entre negros e lobeiros sustentou durante décadas as chamadas linhas laborais
do Pastor Alemão e parece estar de volta.
O
lobeiro que destacamos esta semana chama-se Lear, tem dois anos de idade e é o
mais recente recruta de Kings District RCMP (Polícia Montada do Distrito de
Kings, Canadá). Este cão veio literalmente de uma longa linhagem de cães
policiais. O seu pai também o foi e a
sua mãe fazia parte do programa de criação da Polícia Montada. Foi treinado em
Alberta e só em Setembro deste no começou a trabalhar na nova Scotia, província
marítima do leste do Canadá, virada para o Oceano Atlântico. O seu treinador e
parceiro é o RCMP Cpl. Jeff Wall, que não poupa elogios ao cão. Lear e Wall
foram treinados como um binómio de serviço policial geral, o que implica rastrear
suspeitos, encontrar pessoas perdidas e ajudar os investigadores na linha de
frente a encontrar pistas, podendo também derrubar suspeitos, se necessário. Tudo
assenta sobre a capacidade do cão rastrear um odor humano fresco. Convém não
esquecer que alguns factores ambientais podem por vezes apresentar desafios
extras. Extremo calor ou frio e ventos fortes podem afectar a capacidade de um
cão de detectar um determinado odor, assim como uma área carregada de múltiplos
odores, o que geralmente acontece quando familiares e outras pessoas
bem-intencionadas estão também à procura duma pessoa desaparecida, como foi o sucedido
na busca do Sunken Lake.
Perguntar-nos-ão: mas afinal o que fez este CPA lobeiro (Lear) de extraordinário para ser considerado um excelente exemplar de trabalho? Apesar de só ter sido dado apto para o serviço 2 meses antes, em setembro, o Lear ajudou a encontrar um homem de 76 anos em Nova Scotia, dado como desaparecido da sua residência, nas cercanias de Sunken Lake, em 26 de novembro deste ano. A operação de busca iniciou-se perto da casa do desparecido e o nariz do Lear foi encontrá-lo ileso 4 quilómetros mais adiante numa floresta, depois de várias horas de busca, façanha pouco comum para um novato, o que de imediato destaca duas coisas: a genética do Lobeiro e o seu superior aproveitamento. Quanto mais medito sobre Pastores Alemães lobeiros, que os há também de pouco préstimo quando mal seleccionados ou parcialmente aproveitados, considerando as suas mais-valias e o seu aproveitamento, acho que mereciam e merecem ter uma escola só para eles, para que não se confundam ou dispersem entre os demais. E sabem que mais, se eu fosse para o mato, que já não tenho idade para isso, considerando a minha sobrevivência e a do animal, preferiria levar um lobeiro comigo do que um cão doutra variedade cromática presente no CPA. Quem é conhecedor de cães sabe que em algumas raças há cães para todas as idades e eu sei-o, por isso tenho agora um ajuizado e convencional CPA negro, um cão que não hesitará em deitar-se na minha frente para que eu não me estatele no chão, o que, diga-se de passagem, poderá vir a dar muito jeito.
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