segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

CRÓNICA DO CÃO QUE NÃO GOSTAVA DE GENTE PORCA

 

Muitos dos momentos felizes que tenho passado nesta vida não teriam acontecido sem a companhia dos cães, companheiros que transporto na memória num misto de alegria e saudade. Há dias em que recordo um deles ao acordar e hoje lembrei-me do Faruk, um Collie Barbudo cinzento e branco, inteligente, dócil e simpático, com o qual me estreei a tempo inteiro nas lides do adestramento e que me acompanhou durante 21 anos. Para além de ter sido mestre e servido de inspiração para muitos cães, ele tinha uma particularidade – não gostava de gente porca. Sempre que se cruzava com alguma pessoa com um odor mais intenso, urinava-lhe imediatamente em cima, o que sempre me causava algum embaraço e não me livrava de “encestar” alguns vitupérios dos mais assanhados. 

A vítima mais assídua era uma moradora da minha rua, uma senhora de 50 anos que passava amiúde à minha porta, quer circulasse sozinha ou no meio de uma multidão. Como não podia chamar porca àquela criatura menos asseada, desfazia-me em desculpas até me escangalhar a rir. Farta de ser árvore em movimento, a partir de determinada altura, a mulher passou a trazer consigo um chapéu-de-chuva, mesmo nos dias de sol. Mas como o cão de parvo não tinha nada, sempre conseguiu esquivar-se às chapeladas. O Bearded já morreu há anos, mas eu ainda o vejo a correr com o pêlo a ondular pelos campos – obrigado Faruk!

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