quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A RESPONSABILIDADE DE TER UM LORD

 

O Lord, um Weimaraner recém-chegado às nossas fileiras (na foto acima à direita), aula após aula, tem-se revelado um excelente atleta e manifestado uma disponibilidade altíssima, ao ponto de a cada momento poder colocar em causa a sua integridade física, “loucura” há muito reconhecida nos cães caçadores e que carece de ser regrada e aproveitada visando a sua salvaguarda e uso consensual. A avidez pela presa, seja ela real ou artificial, pode levar os cães a esforços físicos extraordinários que a breve trecho poderão comprometer a sua saúde e o bem-estar, já que partem, correm e saltam na ganância da captura, incapazes de se aperceberem dos riscos que correm. Mais cedo que o esperado, estes animais atingirão a ruptura e virão a claudicar, estoiro que obviamente só poderá ser imputado aos seus donos ou à sua irracionalidade. Como nos calhou em mãos um cão assim e queremos ter sobre ele absoluto controlo, insistimos na obediência, em exercícios de travamento, nunca descuidamos o seu aquecimento, evoluímos meta após meta e usamos de todas as cautelas para que não incorra em acidentes (na foto seguinte vemo-lo a fazer o “atrás” numa ravina).

Este cão de aponte, tornado cão familiar, no adestramento convencional que normalmente dispensa o ofício cinegético, irá ser sujeito a outro tipo de parceria, evoluindo agora a par e passo com o seu condutor, substituindo a relação predador-presa pela cumplicidade binomial, o que à partida não será uma tarefa fácil, porque o cão terá que ser regrado e o dono ter “pernas para andar”.

No GIF abaixo, perante uma barreira vertical de 130 cm, podemos ver dois Pastores Alemães a ultrapassá-la, um macho lobeiro adulto e uma cachorra preto-afogueada que já alcançou a maturidade sexual. Importa dizer que o Pastor Alemão adulto é um atleta extraordinário. Contudo, quando comparado o seu desempenho com o do Weimaraner, percebe-se claramente até onde poderá chegar este braco alemão e os cuidados a haver com ele, porque não queremos que se atire de uma janela por causa de um vulgar brinquedo ou venha a morrer atropelado ao perseguir outro por se encontrar viciado nisso. Sim, no adestramento há cães que precisam de ser refreados e outros que carecem de ser animados para que todos possam acompanhar-nos satisfatoriamente, o que implica em dizer que não devemos ir para além dos seus limites. Não se trata aqui de desaproveitar o potencial genético-individual dos cães, mas de aproveitá-lo para fim útil sem colocar em risco a sua salvaguarda e bem-estar, enquanto a vida for o melhor dos seus bens.

Ontem insistimos com o Lord no “à frente” e valemo-nos de umas escadarias para o efeito, tarefa que executou prontamente e com alegria conforme atesta o GIF seguinte. Ao chegar ao fim das escadas, o cão mostra-se inquieto e procura novo trabalho. Na sua frente tem uma muralha que dista do solo 6 metros e que ele parece querer saltar. Provavelmente saltá-la-ia se evoluísse em liberdade, animado que ia pela excursão. Para além de ter ido atrelado, porque é um animal pujante e bastante musculado, no topo das escadas, por prevenção, colocámos outro condutor para o caso de ser preciso segurá-lo. Virá a fazer estas escadas em liberdade, quando devidamente obediente e controlado, apto a parar e a inverter a marcha quando tal lhe for ordenado. Todavia, é um prazer enorme educar um cão destes, porque necessita apenas de regra e de um condutor responsável, activo e amigo.

Se tirarmos do adestramento a preocupação com o bem-estar e a salvaguarda dos cães, tudo não passará de uma actividade circense, de uma feira de habilidades e vaidades, onde os cães serão apenas pretexto para as loucuras dos seus donos. Penso que estamos todos de acordo: mais vale ter um cão que nos abrace do que ter um estrangulador de um cão que já se foi pendurado num anexo.

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