O
Lord, um Weimaraner recém-chegado às nossas fileiras (na foto acima à direita),
aula após aula, tem-se revelado um excelente atleta e manifestado uma
disponibilidade altíssima, ao ponto de a cada momento poder colocar em causa a
sua integridade física, “loucura” há muito reconhecida nos cães caçadores e que
carece de ser regrada e aproveitada visando a sua salvaguarda e uso consensual.
A avidez pela presa, seja ela real ou artificial, pode levar os cães a esforços
físicos extraordinários que a breve trecho poderão comprometer a sua saúde e o
bem-estar, já que partem, correm e saltam na ganância da captura, incapazes de
se aperceberem dos riscos que correm. Mais cedo que o esperado, estes animais atingirão
a ruptura e virão a claudicar, estoiro que obviamente só poderá ser imputado
aos seus donos ou à sua irracionalidade. Como nos calhou em mãos um cão assim e
queremos ter sobre ele absoluto controlo, insistimos na obediência, em
exercícios de travamento, nunca descuidamos o seu aquecimento, evoluímos meta
após meta e usamos de todas as cautelas para que não incorra em acidentes (na
foto seguinte vemo-lo a fazer o “atrás” numa ravina).
Este
cão de aponte, tornado cão familiar, no adestramento convencional que
normalmente dispensa o ofício cinegético, irá ser sujeito a outro tipo de
parceria, evoluindo agora a par e passo com o seu condutor, substituindo a
relação predador-presa pela cumplicidade binomial, o que à partida não será uma
tarefa fácil, porque o cão terá que ser regrado e o dono ter “pernas para andar”.
No
GIF abaixo, perante uma barreira vertical de 130 cm, podemos ver dois Pastores
Alemães a ultrapassá-la, um macho lobeiro adulto e uma cachorra preto-afogueada
que já alcançou a maturidade sexual. Importa dizer que o Pastor Alemão adulto é
um atleta extraordinário. Contudo, quando comparado o seu desempenho com o do
Weimaraner, percebe-se claramente até onde poderá chegar este braco alemão e os
cuidados a haver com ele, porque não queremos que se atire de uma janela por
causa de um vulgar brinquedo ou venha a morrer atropelado ao perseguir outro
por se encontrar viciado nisso. Sim, no adestramento há cães que precisam de
ser refreados e outros que carecem de ser animados para que todos possam
acompanhar-nos satisfatoriamente, o que implica em dizer que não devemos ir
para além dos seus limites. Não se trata aqui de desaproveitar o potencial
genético-individual dos cães, mas de aproveitá-lo para fim útil sem colocar em
risco a sua salvaguarda e bem-estar, enquanto a vida for o melhor dos seus bens.
Ontem
insistimos com o Lord no “à frente” e valemo-nos de umas escadarias para o
efeito, tarefa que executou prontamente e com alegria conforme atesta o GIF
seguinte. Ao chegar ao fim das escadas, o cão mostra-se inquieto e procura novo
trabalho. Na sua frente tem uma muralha que dista do solo 6 metros e que ele
parece querer saltar. Provavelmente saltá-la-ia se evoluísse em liberdade,
animado que ia pela excursão. Para além de ter ido atrelado, porque é um animal
pujante e bastante musculado, no topo das escadas, por prevenção, colocámos
outro condutor para o caso de ser preciso segurá-lo. Virá a fazer estas escadas
em liberdade, quando devidamente obediente e controlado, apto a parar e a
inverter a marcha quando tal lhe for ordenado. Todavia, é um prazer enorme
educar um cão destes, porque necessita apenas de regra e de um condutor
responsável, activo e amigo.
Se
tirarmos do adestramento a preocupação com o bem-estar e a salvaguarda dos cães,
tudo não passará de uma actividade circense, de uma feira de habilidades e
vaidades, onde os cães serão apenas pretexto para as loucuras dos seus donos.
Penso que estamos todos de acordo: mais vale ter um cão que nos abrace do que
ter um estrangulador de um cão que já se foi pendurado num anexo.
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