As escolas caninas
deverão dar mais atenção à sociabilização dos seus alunos de 4 patas e
deixar-se de certas macacadas e costumeiras mentiras, porque a julgar pelos
registos oficiais, muitos são os cães de companhia e raros são os de guarda, o
que de certa forma rotula os últimos de desprezíveis face ao pouco ou nada que alguns
donos têm para guardar, a não ser a cativação do seu lugar no limiar da pobreza
ou abaixo dele. Assim, não deixará de ser estúpido reforçar com cães a sentença:
“em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão!” Embora mais
controlados, os cães escolares tendem a ser mais agressivos e menos sociáveis,
por não serem castrados/esterilizados, pela moral transmitida, pelos acessórios
utilizados, pelos obstáculos vencidos e pelas induções defensivas efectuadas
(há quem transite destas para as ofensivas sem qualquer pejo, o que muitas
vezes acaba por “virar o feitiço contra o feiticeiro”).
Face à actual lei
relativa aos cães perigosos, a sociabilização canina entre iguais e com outras as
espécies é obrigatória, o que à partida parece uma tarefa fácil, mas não é,
porque somos obrigados a sociabilizar os cães com as suas presas e arqui-rivais
(aves, coelhos, ovelhas, furões, répteis, gatos e por aí adiante). Como se
depreende, os maiores disparates nesta área acontecem entre os cães urbanos,
que criados artificialmente e desacostumados da presença doutros animais,
acabam instintivamente por atacá-los impiedosa e fulminantemente ou por fugir
deles a sete pés!
Na cidade de bávara
de Fürstenfeldbruck, na Alemanha, na tarde de Terça-feira, quando uma menina de
5 anos tocava flauta com a sua mãe dentro de casa, um cão, descrito como
próximo de um Border Collie, saltou a cerca e entrou-lhes no quintal,
valendo-se do apoio prestado pela antepara do vizinho. Em décimas de segundo
lançou-se sobre um dos coelhos da menina, cravando-lhe os dentes. Sendo
acossado pelos moradores da casa, fugiu pelo mesmo sítio por onde tinha entrado.
Com o coelho não havia mais nada a fazer, a menina ficou transtornada e
desconhece-se até ao momento a quem pertence o cão. Aqui sucede o mesmo com os
cães soltos ou em fuga quando descobrem capoeiras, coelheiras e bardos alheios,
acabando alguns por receber umas valentes pauladas ou sucumbir inesperada e
tragicamente a tiros de caçadeira.
A reincidência em
casos destes, quando livres das mãos dos seus vingadores, poderá levar ao abate
destes cães pelas entidades oficiais, o que torna a sociabilização no melhor
dos subsídios para a sobrevivência dos nossos amigos de quatro patas. Ainda que
a sobrevivência canina seja o principal objectivo do adestramento, o que muita
gente parece ignorar, ela tende a passar para segundo plano e a ceder lugar ao
fim útil de cada cão, como se cada animal para ser bom precisasse de morrer
primeiro!? Para cúmulo, porque os tolos são como as papoilas, nascem onde menos
se espera, ainda há por aí experts que induzem os seus pupilos ao ataque
servindo-se de gatos e outros animais, o que atenta de uma vez por todas contra
a sociabilização desejada, que para vir a ser alcançada, poderá não dispensar
um moroso processo de reeducação.
Diante
da obrigatoriedade da sociabilização, as escolas caninas terão que estender as
suas aulas para além dos limites dos seus recintos e ir ao encontro de outras
espécies animais, para que os cães se familiarizem com elas, trabalho que
antecede a sociabilização propriamente dita e que é igualmente importante.
Estas excursões escolares deverão acontecer ciclicamente e sempre que possível,
exactamente por serem prioritárias e urgentes, entre gado de abate e toda a
sorte de animais hoje transformados em mascotes (animais de estimação).
Lembra-se aqui, tomando em conta os adeptos das “Guerras de Mirandum”(1), que um cão de guarda não
sociabilizado é somente um caçador inveterado. Dito isto, torna-se imperativo
dar mais horas à sociabilização.
(1)Também conhecida como “Guerra
Fantástica”, ocorrida na segunda metade do Séc. XVIII, no contexto da Guerra
europeia dos 7 Anos e que entre nós foi uma guerra a fingir, uma guerra que
ninguém levou a sério. Não obstante, o Castelo de Miranda do Douro ficou seriamente
destruído pela explosão do paiol da pólvora, que levou consigo 400 milicianos.
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