terça-feira, 5 de novembro de 2019

MEDO DO FOGO-DE-ARTIFÍCIO? NÃO, OBRIGADO!

Todos os anos, com a aproximação da BONFIRE NIGHT(1), também conhecida por Guy Fawkes Night e Firework Night, que se celebra no dia de hoje, 5 de Novembro, principalmente no Reino Unido, mas também noutros países da Commonwealth, ocasião em que se comemora o facto do rei James I ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato, comemoração que não dispensa muito fogo-de-artifício, as SPCA’s(2) repetem os mesmos conselhos para os proprietários caninos, um conjunto de procedimentos que a seu ver melhor valerão aos cães que entendem aqueles estrondos como uma ameaça.
A SPCA britânica adianta basicamente 8 conselhos, são eles: levar os cães à rua antes do fogo-de-artifício começar, num passeio mais longo e antes das 18 horas, já que segundo ela 45% dos cães temem os foguetes; abafar o som dos fogos-de-artifício, pelo fechar de portas e janelas, correr as cortinas e ligar a televisão ou o rádio; criar um espaço seguro, um lugar onde os animais se possam esconder e tenham livre acesso quando o troar começar; condicionar os cães na procura de um esconderijo; os donos não deverão reagir aos fogos-de artifício, mas manter a calma para aliviar a ansiedade dos animais; não castigar os animai por terem medo, o que só iria piorar as coisas; verificar se os cães se encontram num ambiente seguro, para que nenhum deles possa fugir de casa (diante da possibilidade de fuga, é bom que todos tenham microchip) e acostumar os cães a barulhos altos com terapia sonora, recomendando o SOUND THERAPY 4 PETS(3), um programa de tratamento gratuito a que os proprietários caninos podem aceder ao fazer o download online no Dogs Trust. Segundo fazem saber, também têm programas de preparação canina para o choro de bebés, trovões e tráfego barulhento.
Na procura de outros conselhos para o mesmo problema, porque o assunto interessa a todos, fui saber quais os adiantados pela SPCA neozelandesa, que para além de reafirmar o que adianta a sua congénere britânica, como é a obrigatoriedade da permanência em casa com o cão, acrescenta ainda três pontos: nunca deixar fogos-de-artifício perto dos animais; não esquecer que animais de estimação como coelhos, cobaias e galinhas sofrem o mesmo impacto e que as pessoas com animais de estimação que tenham manifestações muito graves ao fogo-de-artifício deverão conversar com o veterinário.
Ainda que concordemos, em termos, com algumas das medidas adiantadas para a solução do problema, a estratégia seguida, para além de não o resolver, parece até perpetuá-lo. Ninguém duvida, da necessidade de afastamento dos cães em relação às explosões numa 1ª fase, da importância do acompanhamento do dono como parte da solução, da não-reacção dos líderes às explosões e da necessidade de acostumar os cães aos ruídos que os transtornam, mas jamais poderemos concordar em incentivar os cães a procurar um esconderijo dentro de casa, porque isso outra coisa não seria do que aceitar o seu medo como facto consumado, ainda por cima nós, que nos dedicamos aos cães de guarda e que abominaríamos ter um cão assim condicionado, uma vez que a folgança, o barulho e a paródia são bons aliados para quem pretende levar a cabo vários crimes. Que préstimo teria um cão destes em matéria de segurança? E depois, venceria o medo ao esconder-se ou esconder-se-ia por medo?
Entendemos nós que, ao invés de ficarmos em casa a consolar e a acalmar um cão escondido, rezando para que não se esfrangalhe antes que os foguetes se acabem, devemos sair com ele de carro e levá-lo para um local onde as explosões sejam menos ruidosas, onde o animal consiga tolerá-las e interagir connosco, sobrepondo gradualmente a experiência feliz ao medo que o apoquenta. Pouco a pouco e sem pressas, vamo-nos aproximando do local das explosões até à indiferença total do cão, que entrará depois em casa sem necessitar de se encafuar num buraco qualquer. O trinómio “dono, cão e carro” irá fazer, por força da repetição, que o animal venha a defender valentemente o espaço exíguo da viatura, o que mais reforçará o policiamento da sua casa. Quem é que disse que a Passagem do Ano não é uma excelente ocasião para se treinar um cão? Se ele vencer os seus medos não estará a entrar com o pé direito no Ano Novo? Eu acho que sim.
Na impossibilidade de se avançar directamente para a interacção, perante o exagerado medo do animal, convém que primeiro seja conservado dentro carro e preferencialmente dentro de uma caixa transportadora, saindo dela quando manifestar o desejo de sair e estar connosco, o que sempre será melhor do que drogá-lo, considerando a habituação e desmame de algumas drogas usadas para o efeito. Não restando outro remédio e antes que o trauma se instale, nada melhor do que consultar a veterinário-assistente do animal. Os animais que já eram medrosos antes de serem castrados ou esterilizados verão o seu problema agravado e irão necessitar de maior carinho e cuidado. Diante do que dissemos e fazemos, podemos afirmar: MEDO DO FOGO-DE-ARTIFÍCIO? NÃO, OBRIGADO!
(1)Dia e época do ano que os britânicos tradicionalmente associam a chapéus quentes, vinho quente e fogos-de-artifício. (2) Nome atribuído a organizações sem fins lucrativos de bem-estar animal em todo o mundo. A organização mais antiga da SPCA é a RSPCA, fundada na Inglaterra em 1824. As organizações da SPCA operam independentemente umas das outras e fazem campanha pelo bem-estar animal, ajudando na prevenção de casos de crueldade contra animais e promovendo a reabilitação e o realojamento de animais maltratados e indesejados. (3) Alcançar a indiferença dos cães a determinados sons pode ser-lhes fatal, porque podem ensurdecer-se  e não atentar para os perigos.

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