Todos os anos, com a
aproximação da BONFIRE
NIGHT(1),
também conhecida por Guy Fawkes Night e Firework Night, que se celebra no dia
de hoje, 5 de Novembro, principalmente no Reino Unido, mas também noutros
países da Commonwealth, ocasião em que se comemora o facto do rei James I ter
sobrevivido a uma tentativa de assassinato, comemoração que não dispensa muito
fogo-de-artifício, as SPCA’s(2) repetem
os mesmos conselhos para os proprietários caninos, um conjunto de procedimentos
que a seu ver melhor valerão aos cães que entendem aqueles estrondos como uma
ameaça.
A SPCA britânica adianta
basicamente 8 conselhos, são eles: levar os cães à rua antes do
fogo-de-artifício começar, num passeio mais longo e antes das 18 horas, já
que segundo ela 45% dos cães temem os foguetes; abafar o som dos
fogos-de-artifício, pelo fechar de portas e janelas, correr as cortinas e
ligar a televisão ou o rádio; criar um espaço seguro, um lugar onde os
animais se possam esconder e tenham livre acesso quando o troar começar; condicionar
os cães na procura de um esconderijo; os donos não deverão reagir aos
fogos-de artifício, mas manter a calma para aliviar a ansiedade dos
animais; não castigar os animai por terem medo, o que só iria piorar as
coisas; verificar se os cães se encontram num ambiente seguro, para que
nenhum deles possa fugir de casa (diante da possibilidade de fuga, é bom que
todos tenham microchip) e acostumar os cães a barulhos altos com terapia
sonora, recomendando o SOUND
THERAPY 4 PETS(3), um programa de tratamento gratuito a que
os proprietários caninos podem aceder ao fazer o download online no Dogs Trust.
Segundo fazem saber, também têm programas de preparação canina para o choro de
bebés, trovões e tráfego barulhento.
Na procura de outros
conselhos para o mesmo problema, porque o assunto interessa a todos, fui saber
quais os adiantados pela SPCA neozelandesa, que para além de reafirmar o que
adianta a sua congénere britânica, como é a obrigatoriedade da permanência em
casa com o cão, acrescenta ainda três pontos: nunca deixar
fogos-de-artifício perto dos animais; não esquecer que animais de
estimação como coelhos, cobaias e galinhas sofrem o mesmo impacto e que
as pessoas com animais de estimação que tenham manifestações muito graves ao fogo-de-artifício
deverão conversar com o veterinário.
Ainda que concordemos, em
termos, com algumas das medidas adiantadas para a solução do problema, a
estratégia seguida, para além de não o resolver, parece até perpetuá-lo.
Ninguém duvida, da necessidade de afastamento dos cães em relação às explosões
numa 1ª fase, da importância do acompanhamento do dono como parte da solução,
da não-reacção dos líderes às explosões e da necessidade de acostumar os cães
aos ruídos que os transtornam, mas jamais poderemos concordar em incentivar os
cães a procurar um esconderijo dentro de casa, porque isso outra coisa não seria
do que aceitar o seu medo como facto consumado, ainda por cima nós, que nos
dedicamos aos cães de guarda e que abominaríamos ter um cão assim condicionado,
uma vez que a folgança, o barulho e a paródia são bons aliados para quem
pretende levar a cabo vários crimes. Que préstimo teria um cão destes em
matéria de segurança? E depois, venceria o medo ao esconder-se ou
esconder-se-ia por medo?
Entendemos nós que, ao
invés de ficarmos em casa a consolar e a acalmar um cão escondido, rezando para
que não se esfrangalhe antes que os foguetes se acabem, devemos sair com ele de
carro e levá-lo para um local onde as explosões sejam menos ruidosas, onde o
animal consiga tolerá-las e interagir connosco, sobrepondo gradualmente a
experiência feliz ao medo que o apoquenta. Pouco a pouco e sem pressas,
vamo-nos aproximando do local das explosões até à indiferença total do cão, que
entrará depois em casa sem necessitar de se encafuar num buraco qualquer. O
trinómio “dono, cão e carro” irá fazer, por força da repetição, que o animal
venha a defender valentemente o espaço exíguo da viatura, o que mais reforçará
o policiamento da sua casa. Quem é que disse que a Passagem do Ano não é uma
excelente ocasião para se treinar um cão? Se ele vencer os seus medos não
estará a entrar com o pé direito no Ano Novo? Eu acho que sim.
Na
impossibilidade de se avançar directamente para a interacção, perante o
exagerado medo do animal, convém que primeiro seja conservado dentro carro e preferencialmente
dentro de uma caixa transportadora, saindo dela quando manifestar o desejo de
sair e estar connosco, o que sempre será melhor do que drogá-lo, considerando a
habituação e desmame de algumas drogas usadas para o efeito. Não restando outro
remédio e antes que o trauma se instale, nada melhor do que consultar a
veterinário-assistente do animal. Os animais que já eram medrosos antes de
serem castrados ou esterilizados verão o seu problema agravado e irão
necessitar de maior carinho e cuidado. Diante do que dissemos e fazemos,
podemos afirmar: MEDO
DO FOGO-DE-ARTIFÍCIO? NÃO, OBRIGADO!
(1)Dia e época do ano que os britânicos tradicionalmente
associam a chapéus quentes, vinho quente e fogos-de-artifício. (2) Nome atribuído a organizações sem fins lucrativos
de bem-estar animal em todo o mundo. A organização mais antiga da SPCA é a
RSPCA, fundada na Inglaterra em 1824. As organizações da SPCA operam independentemente
umas das outras e fazem campanha pelo bem-estar animal, ajudando na prevenção
de casos de crueldade contra animais e promovendo a reabilitação e o realojamento
de animais maltratados e indesejados. (3) Alcançar
a indiferença dos cães a determinados sons pode ser-lhes fatal, porque podem
ensurdecer-se e não atentar para os
perigos.
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