sexta-feira, 15 de novembro de 2019

ABATIDO POR “FOGO AMIGO”

Anteontem pela madrugada, no quartel do aeroporto de Wiener Neustadt, na Áustria, quando a maioria dos soldados Jagdkommando estava em exercício na Estíria, um oficial de serviço avistou dois Pastores Belgas Malinois daquele aquartelamento soltos. De imediato chamou um tratador militar para encerrar os animais, facto que aconteceu por volta das 2 horas da manhã. Enquanto inspeccionava o canil, o tratador canino deu com um graduado ferido fatalmente, um Sargento-Chefe de 31 anos, do Distrito de Mödling, na Baixa Áustria, que esteve ao serviço do exército austríaco desde 2005 e que em 2017 se tornou membro da unidade cinotécnica, homem reconhecido como "um colega muito experiente, prudente e atencioso", que naquele fatídico dia tinha como missão, a partir das 16 horas, alimentar os cães militares.
Suspeita-se, já foi aberto um inquérito, que o finado Sargento tenha sido vítima daqueles dois Malinois que se encontravam soltos, um adulto treinado como cão militar e um cachorro de apenas 6 meses de idade, recém-chegado ao treino. A causa do ataque canino letal, não ordenado, ainda está por encontrar e não deixa de causar alguma estranheza, já que todos os soldados da unidade cinotécnica, apesar de terem o seu próprio cão distribuído, trabalham a totalidade dos cães da sua unidade, cumprindo assim os dos objectivos da sua formação (este objectivo tradicionalmente militar continua a ser respeitado na Acendura Brava, quando procedemos à “Troca de Condutores”).
O Exército Austríaco tem cães nas suas fileiras desde 1964 e esta é primeira vez que acontece um incidente destes. Actualmente, as Forças Armadas da Áustria têm 70 cães militares: 41 Rottweilers, 15 Pastores Belgas, 5 Pastores Alemães e 9 Labradores, todos treinados no Centro Militar de Cães das Forças Armadas Austríacas, em Kaisersteinbruch, Burgenland. Estes cães estão preparados para levar a cabo tarefas domésticas e no estrangeiro. Segundo o Coronel Michael Bauer, porta-voz do Exército, “os cães do comando de caça são treinados para neutralizar o inimigo, quando este invade uma casa. Se o atacante foge, o cachorro impede-o e se o ficar parado, o cão pára."
Parece não haver dúvidas – o Sargento-Chefe, que na altura deixou o seu cão trancado no carro, foi morto pelos dois cães, abatido por fogo amigo! Não há dúvida que o Malinois é um cão formidável, rústico, bélico como poucos, aparentemente incansável, leve e também próprio para operações aerotransportadas. Contudo, devido à sua celeridade, carga instintiva e dissimulação operativa, é até capaz de dispensar a provocação dos opositores para desferir os seus ataques, o que por vezes chega a ensurdecê-lo e a retardar o seu travamento, dificultando assim o seu controlo e impedindo que seja um cão para todo e qualquer tratador.
Hoje, que tanto se fala de stress e cortisol, seria bom verificar os seus níveis em cães deste calibre, provavelmente bem altos, desgastantes, atentatórios do bem-estar canino, da sua saúde e longevidade, também indutores ao seu desnorte, independentemente dos meios ou métodos utilizados para a sua investidura militar. No caso da morte do Sargento-Chefe Jagdkommando, o homem estava no sítio errado e na hora errada! Este incidente deverá obrigar as companhias cinotécnicas como um todo a repensar os seus critérios de selecção, métodos de ensino e estratégias, antes que o “feitiço se vire contra o feiticeiro” vezes sem conta.

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