Anteontem pela madrugada,
no quartel do aeroporto de Wiener Neustadt, na Áustria, quando a maioria dos
soldados Jagdkommando estava em exercício na Estíria, um oficial de serviço
avistou dois Pastores Belgas Malinois daquele aquartelamento soltos. De
imediato chamou um tratador militar para encerrar os animais, facto que
aconteceu por volta das 2 horas da manhã. Enquanto inspeccionava o canil, o
tratador canino deu com um graduado ferido fatalmente, um Sargento-Chefe de 31
anos, do Distrito de Mödling, na Baixa Áustria, que esteve ao serviço do
exército austríaco desde 2005 e que em 2017 se tornou membro da unidade
cinotécnica, homem reconhecido como "um colega muito experiente, prudente
e atencioso", que naquele fatídico dia tinha como missão, a partir das 16
horas, alimentar os cães militares.
Suspeita-se, já foi aberto
um inquérito, que o finado Sargento tenha sido vítima daqueles dois Malinois
que se encontravam soltos, um adulto treinado como cão militar e um cachorro de
apenas 6 meses de idade, recém-chegado ao treino. A causa do ataque canino
letal, não ordenado, ainda está por encontrar e não deixa de causar alguma
estranheza, já que todos os soldados da unidade cinotécnica, apesar de terem o
seu próprio cão distribuído, trabalham a totalidade dos cães da sua unidade,
cumprindo assim os dos objectivos da sua formação (este objectivo tradicionalmente
militar continua a ser respeitado na Acendura Brava, quando procedemos à “Troca
de Condutores”).
O Exército Austríaco tem
cães nas suas fileiras desde 1964 e esta é primeira vez que acontece um
incidente destes. Actualmente, as Forças Armadas da Áustria têm 70 cães
militares: 41 Rottweilers, 15 Pastores Belgas, 5 Pastores Alemães e 9 Labradores,
todos treinados no Centro Militar de Cães das Forças Armadas Austríacas, em
Kaisersteinbruch, Burgenland. Estes cães estão preparados para levar a cabo tarefas
domésticas e no estrangeiro. Segundo o Coronel Michael Bauer, porta-voz do
Exército, “os cães do comando de caça são treinados para neutralizar o inimigo,
quando este invade uma casa. Se o atacante foge, o cachorro impede-o e se o ficar
parado, o cão pára."
Parece não haver dúvidas –
o Sargento-Chefe, que na altura deixou o seu cão trancado no carro, foi morto
pelos dois cães, abatido por fogo amigo! Não há dúvida que o Malinois é um cão
formidável, rústico, bélico como poucos, aparentemente incansável, leve e
também próprio para operações aerotransportadas. Contudo, devido à sua
celeridade, carga instintiva e dissimulação operativa, é até capaz de dispensar
a provocação dos opositores para desferir os seus ataques, o que por vezes chega
a ensurdecê-lo e a retardar o seu travamento, dificultando assim o seu controlo
e impedindo que seja um cão para todo e qualquer tratador.
Hoje, que tanto se fala de
stress e cortisol, seria bom verificar os seus níveis em cães deste calibre, provavelmente
bem altos, desgastantes, atentatórios do bem-estar canino, da sua saúde e
longevidade, também indutores ao seu desnorte, independentemente dos meios ou
métodos utilizados para a sua investidura militar. No caso da morte do
Sargento-Chefe Jagdkommando, o homem estava no sítio errado e na hora errada!
Este incidente deverá obrigar as companhias cinotécnicas como um todo a repensar
os seus critérios de selecção, métodos de ensino e estratégias, antes que o “feitiço
se vire contra o feiticeiro” vezes sem conta.
Sem comentários:
Enviar um comentário