Adestrar é um processo pedagógico
continuado que não pode restringir-se a um determinado número de lições ou “truques”
ocorridos em algum momento da vida dos cães, porque importa reavivar-lhes os
códigos assimilados e aperfeiçoá-los, considerando o seu controlo, salvaguarda
e sobrevivência. Também por causa da sua sobrevivência, diante de novos
desafios e perigos, os cães deverão ser convidados para um aprendizado
constante, para que consigam ultrapassar ilesos a novidade dos problemas e
obstáculos colocados à sua frente, o que poderá não dispensar a aquisição e
instalação de novos códigos. Hoje optámos por recapitular os comandos de “quieto”
e “aqui” nas passadeiras para peões com os cães soltos e fizemo-lo por três
razões: para acostumarmos os animais ao trânsito urbano; para condicioná-los a procurar
as passadeiras (a atravessá-las) e para reforço dos comandos de “quieto” e “aqui”
com os donos momentaneamente invisíveis e pouco distantes (do outro lado da
estrada).
Não se pode ir para um
exercício destes na incerteza da resposta dos cães, porque doutro modo
estaríamos a convidá-los para uma “roleta russa”. Ao optarmos desde a nossa
fundação pelas aulas colectivas, transformámos as dificuldades individuais de
cada cão num problema a resolver pela matilha espontânea escolar, já que o
melhor exemplo para um cão é outro cão, todos aprendem por observação e todos
são animais sociais. Assim, os cães recém-chegados começam a aprender o “quieto”
(fica) lado a lado com os cães mais velhos, que graças à sua serenidade levam
os iniciados a seguir-lhe o exemplo, primeiro em ambiente protegido e depois
nos mais variados lugares e situações.
Depois de algum tempo, o
julgado necessário e de acordo com as respostas positivas dos animais, o “quieto”
será exigido a cada cão sem o apoio dos demais, primeiro dentro do perímetro
reservado às lições e depois nos mais variados locais, aumentando-se
gradualmente o grau de dificuldade para o cão, algo que não deverá acontecer depressa
demais, pois corre-se o risco de stressá-lo e de criar maiores delongas na
aquisição desta figura de travamento.
Em paralelo, importa que a
sociabilização do cão seja alcançada, mais-valia que começa na escola pela “Troca
de Condutores” e que se estende aos eventuais transeuntes que connosco se
cruzam nos passeios exteriores, que voluntariamente se dispõem para tal e que
são escolhidos de acordo com o seu tipo e grau de ensino do cão. Na fase final
da sociabilização canina, os cães terão que demonstrar profunda indiferença por
indivíduos que à partida despertariam a sua curiosidade e instinto de presa
devido à estranheza da sua apresentação, carga genética, comportamento ou
actividade. Que ninguém duvide: sem sociabilização o “quieto” nunca deixará de
ser condicional.
Sempre que nos propomos realizar
um exercício destes, manda a cautela que primeiro verifiquemos a
operacionalidade dos comandos e a pronta resposta dos animais, porque vamos
trabalhá-los soltos e qualquer desatenção, distracção ou hesitação poderá ser-lhes
fatal. Só depois desta certificação avançaremos confiantes para as passadeiras.
Nas passadeiras para peões
e no início dos exercícios, para maior segurança dos binómios e em particular do
cão, o “quieto” deverá ser tirado com o animal na posição de “deita”, figura de
imobilização mais confortável, que apresenta menor risco e de mais difícil
abandono.
Depois do acerto do cão na
posição de “deita”, que espelha uma experiência feliz, passamos para a posição
de “senta”, eventualmente numa estrada mais movimentada. Por detrás disto tudo,
como “alma do negócio” e exaltação do trabalho do cão está a recompensa, como
não podia deixar de ser.
Participaram nos trabalhos
os seguintes binómios: Adestrador/Blaze e Paulo/Bohr. A Família do João Afonso
não compareceu, porque partiu de véspera para o Alentejo onde foi caçar javalis
criados à mão. O Jorge ficou a celebrar o aniversário da sua esposa, a Liliana,
à qual enviamos sinceros votos de parabéns, na esperança que só seja
aniversariante uma vez por ano, porque doutro modo envelhecerá mais depressa. As
fotografias estiveram a cargo do Paulo Jorge e do José Maria nem tivemos rasto.
Para a semana cá estaremos com mais novidades e subsídios. Bom fim-de-semana.
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