O futebol vale o que vale.
Porém, graças a visibilidade que oferece, um português tem-se destacado em
Terras de Vera Cruz e também em Portugal, trata-se de um cidadão chamado JORGE FERNANDO PINHEIRO DE JESUS,
treinador de futebol, aqui conhecido como Jorge Jesus (JJ) e agora alcunhado no
Brasil por “Mister”, um saloio messiânico e passional dos arrabaldes de Lisboa,
a rondar os 65 anos de idade, de olhar vivo e astuto, descuidado com a
gramática (por vezes bronco), rijo de métodos, e um observador perspicaz, que
vive, respira e transpira futebol por tudo quanto é poro, ao ponto de não ter
para ele qualquer segredo. Homem que se erigiu a si próprio, o que lhe granjeou
um número infindo de invejosos e detractores, mas também de seguidores e
plagiadores (nem todos confessos), Jorge Jesus é o mais fino remanescente da “esperteza
saloia”. E, caso o filme “A
ALDEIA DA ROUPA BRANCA”, feito em 1939, da autoria de
Chianca de Garcia, necessitasse de um réplica actual, a vida de Jorge Jesus,
enquanto relato étnico e épico, seria a mais excelente das opções.
Apesar do seu palmarés
futebolístico enquanto treinador não ser de menosprezar, confesso que nunca vi
um jogo completo com ele no banco, fosse em que equipa fosse, mas raramente
falhei alguma das suas flash interviews depois dos jogos, por achar piada às
suas declarações, aos problemas de sintaxe, ao despropósito de algumas afirmações,
ao carácter brejeiro das suas conclusões e às suas posturas, incessantemente informais
e provocatórias. Quando foi para a Arábia Saudita treinar o Al-Hilal, as minhas
noites de Domingo nunca mais voltaram a ser as mesmas, porque ia para a cama
menos bem-disposto e adormecia com maior dificuldade (quem disse que o homem
não é um animal de hábitos?).
Em boa
hora, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, no início de Junho deste ano, contratou
Jorge Jesus por um ano como treinador deste emblema carioca. A chegada do
português, que não é padeiro e nem se chama Manuel ou Joaquim, não foi do
agrado de muitos comentadores e treinadores de futebol brasileiros, que
instalados no feudo do “futebol maravilha”, escudados na xenofobia e engalanados
na soberba, não souberam ter a humildade para acompanhar a evolução do futebol
mundial, mesmo depois do “Mineiraço”, quando a selecção canarinha perdeu com a
alemã por 7 a 1. Cinco meses depois de ter chegado e contracorrente, o “Mister”
consegue vencer quase em simultâneo a Taça dos Libertadores e o Brasileirão, dando
uma bofetada de luva branca aos seus críticos e detractores, e uma alegria
imensa para os torcedores do “Mengão”, que esperavam há 38 anos pela reconquista
do prestigiado troféu interamericano
Sem saber muito bem porque
é que o pão produzido pelos portugueses, que tem matado a fominha a muitos
brasileiros ao longo de um século, se chama francês, Jorge Jesus, que entende
de futebol “às carradas”, devolveu à alegria ao povão, enchendo-o de euforia
quando agonizava em profunda depressão. Homem do povo e agora também herói
daquele que o acolheu, Jesus está a deixar-se contagiar pela doçura emocional
dos brasileiros ao seu redor, que por tudo e por nada soltam frases do tipo “eu
amo” e “eu adoro”, exclamações que os portugueses de Portugal evitam usar por se
sentirem demasiado comprometidos e envergonhados. Não obstante, o “Mister” sente-se
agora mais português do que nunca e espera que algum clube dos grandes
campeonatos europeus o contrate, certo de que também ali irá vencer.
Oiço para aí dizer que
Jesus está a revolucionar o futebol brasileiro e não sei até que ponto isso é
verdade. Se for verdade, desta vez os “bandeirantes do futebol” sairão do Rio
de Janeiro. Do que não tenho dúvidas é da reabilitação dos portugueses operada
por este treinador de futebol perante os brasileiros, mostrando-lhes que os
portugueses são mais do que imaginam e que estão mais próximos do que julgam,
apesar do mar que simultaneamente os une e separa. Obrigado Jorge Jesus!
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