segunda-feira, 25 de novembro de 2019

NÓS POR CÁ: JESUS REABILITOU-NOS

O futebol vale o que vale. Porém, graças a visibilidade que oferece, um português tem-se destacado em Terras de Vera Cruz e também em Portugal, trata-se de um cidadão chamado JORGE FERNANDO PINHEIRO DE JESUS, treinador de futebol, aqui conhecido como Jorge Jesus (JJ) e agora alcunhado no Brasil por “Mister”, um saloio messiânico e passional dos arrabaldes de Lisboa, a rondar os 65 anos de idade, de olhar vivo e astuto, descuidado com a gramática (por vezes bronco), rijo de métodos, e um observador perspicaz, que vive, respira e transpira futebol por tudo quanto é poro, ao ponto de não ter para ele qualquer segredo. Homem que se erigiu a si próprio, o que lhe granjeou um número infindo de invejosos e detractores, mas também de seguidores e plagiadores (nem todos confessos), Jorge Jesus é o mais fino remanescente da “esperteza saloia”. E, caso o filme “A ALDEIA DA ROUPA BRANCA”, feito em 1939, da autoria de Chianca de Garcia, necessitasse de um réplica actual, a vida de Jorge Jesus, enquanto relato étnico e épico, seria a mais excelente das opções.
Apesar do seu palmarés futebolístico enquanto treinador não ser de menosprezar, confesso que nunca vi um jogo completo com ele no banco, fosse em que equipa fosse, mas raramente falhei alguma das suas flash interviews depois dos jogos, por achar piada às suas declarações, aos problemas de sintaxe, ao despropósito de algumas afirmações, ao carácter brejeiro das suas conclusões e às suas posturas, incessantemente informais e provocatórias. Quando foi para a Arábia Saudita treinar o Al-Hilal, as minhas noites de Domingo nunca mais voltaram a ser as mesmas, porque ia para a cama menos bem-disposto e adormecia com maior dificuldade (quem disse que o homem não é um animal de hábitos?).
Em boa hora, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, no início de Junho deste ano, contratou Jorge Jesus por um ano como treinador deste emblema carioca. A chegada do português, que não é padeiro e nem se chama Manuel ou Joaquim, não foi do agrado de muitos comentadores e treinadores de futebol brasileiros, que instalados no feudo do “futebol maravilha”, escudados na xenofobia e engalanados na soberba, não souberam ter a humildade para acompanhar a evolução do futebol mundial, mesmo depois do “Mineiraço”, quando a selecção canarinha perdeu com a alemã por 7 a 1. Cinco meses depois de ter chegado e contracorrente, o “Mister” consegue vencer quase em simultâneo a Taça dos Libertadores e o Brasileirão, dando uma bofetada de luva branca aos seus críticos e detractores, e uma alegria imensa para os torcedores do “Mengão”, que esperavam há 38 anos pela reconquista do prestigiado troféu interamericano
Sem saber muito bem porque é que o pão produzido pelos portugueses, que tem matado a fominha a muitos brasileiros ao longo de um século, se chama francês, Jorge Jesus, que entende de futebol “às carradas”, devolveu à alegria ao povão, enchendo-o de euforia quando agonizava em profunda depressão. Homem do povo e agora também herói daquele que o acolheu, Jesus está a deixar-se contagiar pela doçura emocional dos brasileiros ao seu redor, que por tudo e por nada soltam frases do tipo “eu amo” e “eu adoro”, exclamações que os portugueses de Portugal evitam usar por se sentirem demasiado comprometidos e envergonhados. Não obstante, o “Mister” sente-se agora mais português do que nunca e espera que algum clube dos grandes campeonatos europeus o contrate, certo de que também ali irá vencer.

Oiço para aí dizer que Jesus está a revolucionar o futebol brasileiro e não sei até que ponto isso é verdade. Se for verdade, desta vez os “bandeirantes do futebol” sairão do Rio de Janeiro. Do que não tenho dúvidas é da reabilitação dos portugueses operada por este treinador de futebol perante os brasileiros, mostrando-lhes que os portugueses são mais do que imaginam e que estão mais próximos do que julgam, apesar do mar que simultaneamente os une e separa. Obrigado Jorge Jesus!

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