Cada maluco tem a sua
mania, poderão dizer, mas quanto mais conheço os Pastores Alemães negros, maior
é o meu apreço por eles, porque não param de surpreender-me ao ultrapassarem os
limites naturalmente impostos aos cães. Hoje coabito e convivo apenas com um, o
PACO,
um descendente do KYRIOS-SCHWARTZ
que é um pouco maior que o seu ascendente, um camarada ao mesmo tempo sensível
e valente, tendente a ter vontade própria e a alcançar os desejos que não
dispensa.
Eu adoro de tal maneira a música
clássica que gostaria de ter sido contemporâneo dos grandes compositores. Todos
os dias oiço trechos das obras dos mais variados autores clássicos, em
particular alemães e italianos. Não sei se por força de tanto ouvir, o Paco
aproxima-se da janela do meu quarto e acompanha as peças que ouve com as
sofríveis vozes que tem, normalmente resultantes de emoções que julgo captar
através da música. Há momentos em que vai para além disso, em que acompanha os
diferentes trechos musicais com díspares expressões mímicas ou com movimentos
aparentemente alusivos.
E o mais engraçado disto
tudo é que ele reage de maneira diferente às obras dos vários compositores,
agradando-se mais de uns do que de outros. Quando ouve Bach, mormente as suas “fugas”,
tende a relaxar-se de tal maneira que parece ter-se despedido deste mundo.
Wagner excita-o, tornando-o alerta e vigilante; Vivaldi fá-lo correr e saltar;
Mozart torna-o obstinado e põe-no a ladrar; Beethoven torna-o desconfiado e por
vezes agressivo e vá-se lá saber porquê, sofre horrores com Schubert, em
particular quando ouve as “Schwanengesang”, começando de imediato a ganir e a
uivar como faz com outros sons que detesta, o que sempre me faz dar voltas à
cabeça – conseguirá o artista do cão abstrair os múltiplos sentimentos transmitidos
pelas melodias?
Eu ia jurar que sim, porque
uso esta “terapia” da música para extrair dele comportamentos consonantes com a
coabitação harmoniosa que garante a nossa boa ordem e a paz dos vizinhos, gente
que não quer saber da genialidade do cão, bastando-lhe que ele exista sem ser
notado, o que infelizmente nem sempre é possível, atendendo a um punhado de
tontos que se põe a chamá-lo do lado exterior do muro. Este cão que canta e
dança ao som da música, sem nunca ter sido condicionado nisso, é o meu “boche”
de eleição, um cão que parece querer ser homem para melhor poder dialogar comigo.
Quem tem cães desta linha, do WARRIOR e
do KYRIOS SCHWARTZ,
nota neles uma curiosidade extrema e uma interacção incondicional advindas
indubitavelmente de um excelente impulso ao conhecimento. O meu deu-lhe para as
cantorias, os outros hão-de ser ases noutras áreas, serviços e prestações, provavelmente
exímios em fazer os seus donos felizes.
Sem comentários:
Enviar um comentário