Segundo um estudo
realizado na Universidade do Porto e
publicado no bioRxiv, site que
rastreia artigos de biologia antes da revisão prevista para a publicação
oficial em revistas científicas, o treino autoritário tende a tornar os cães
mais stressados e pessimistas, com efeitos que persistem ao longo do tempo. Nos
quatro vídeos presentes no estudo, liderado por Ana Catarina Vieira de Castro, os cães com reforços negativos
mostram sinais óbvios de stress, lambendo os lábios amiúde e bocejando. Estes
comportamentos de “espionagem” foram também confirmados no teste de saliva,
realizando antes e depois do treino, verificando-se nos animais um aumento do
hormónio do stress – o cortisol.
Para verificação da
durabilidade desses efeitos, um mês depois, os pesquisadores levaram a cabo um
novo experimento em 79 cães para ver como eles reagiam a uma possível
recompensa. Colocaram-nos primeiro numa sala que tinha duas tigelas, uma com uma
salsicha e a outra vazia. Depois de familiarizarem os animais com a situação,
os cientistas colocaram uma terceira tigela vazia ente as duas iniciais,
medindo depois a rapidez com que os cães de aproximavam. Os cães treinados com
reforços positivos atiraram-se logo à tigela, confiando nela encontrar a
salsicha, enquanto os treinados com reforços negativos vacilavam por mais
tempo, mostrando-se menos entusiasmados (desconfiados).
Louva-se o aparecimento de
estudos destes em território nacional e obra de portugueses, muito embora as
conclusões do estudo não sejam para nós novidade porque outros já as
descobriram há muito. O aumento dos níveis de cortisol não pode ser
compreendido separadamente do animal e das acções a que é sujeito, porque cada
cão é um caso. Um cão treinado só com base no reforço positivo, quando sujeito
a descer de pára-quedas com o seu dono, não verá os seus níveis de cortisol
aumentados? Os cães usados na busca e resgate não manifestarão o mesmo aumento(1)?
E os cães de guarda?
Mas se importar desligar o
cão dos seus serviços, para melhor entendimento do que pretendemos dizer, naturalmente,
qualquer cão sofrerá um aumento do stress quando se vir obrigado a respeitar a
hierarquia da matilha, a lutar pela sua liderança, pela posse de uma fêmea ou
estiver a caçar. O que mais importa não é provar a existência do stress, mas
calcular o nível em que se tornará lesivo para ao animais, ao ponto de
comprometer a sua longevidade e sobrevivência, já que os cães são predadores e há
muito acostumados ao stress, stress que indevidamente é por vezes aproveitado
para determinado tipo de respostas.
Estamos
totalmente de acordo com o “reforço positivo” e reconhecemos as suas vantagens.
Porém, existem determinados trabalhos e circunstâncias em que não podemos
prescindir de um par de comandos inibitórios, que usados excepcionalmente,
visam a salvaguarda dos animais e o cumprimento imediato das ordens. O controlo
de um cão não pode passar só pela aceleração, necessita também de travão! Se os
cães tivessem a nossa clarividência, seria gratuito inibi-los fosse do que
fosse, mas infelizmente não são! A longevidade dos nossos cães, que ronda os 14
anos e meio, havendo alguns que chegam aos 16, tem vindo a dar-nos razão nesta
matéria(2).
As experiências negativas, quer queiramos ou não, são lições de e para a vida.
(1)Muitas vezes, os cães destinados à busca e
ao resgate, mercê do stress, terão que o fazer munidos de um açaime, porque de
outro modo poderão morder os desaparecidos ou resgatados. (2) A
média baixa de vida de um Pastor Alemão é de 10 anos e a alta de 14.
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