Quando já só existem 700
matilhas de cães selvagens africanos (Mabecos), pesquisadores do Botswana
esperam recriar a urina produzida por estes predadores nos seus locais de
identificação de cheiros, para conseguirem mantê-los seguros em áreas
protegidas. Actualmente, os Mabecos encontram-se em algumas dezenas de áreas
fragmentadas entre o Chade e a África do Sul, se acordo com o manifesto pela
União Internacional para a Conservação da Natureza. A maior ameaça que
enfrentam é quando invadem fazendas ou áreas próximas dos assentamentos
humanos, ocasião em que matam o gado e são depois alvo dos ataques de fazendeiros
raivosos, quando não são atropelados ou presos em armadilhas.
De acordo com os
pesquisadores, o uso da urina sintética para criar locais de marcação
artificiais dará aos conservacionistas uma nova ferramenta para ajudar a manter
os cães selvagens em segurança e longe da actividade humana. "A urina e as
fezes depositadas nos seus locais de marcação transmitem sinais químicos que
impedem que as matilhas invadam os territórios umas das outras", disse
Peter RFI, líder da pesquisa de BioBoundary no Botswana Predator Conservation
Trust (BPCT). Este cientista e a sua equipa planeiam "recriar os sinais e
usá-los para criar limites artificiais de território chamados BioBoundaries que
manterão os cães ameaçados em segurança dentro de áreas protegidas da vida
selvagem".
O uso de locais comuns de
marcação de odores por cães selvagens foi descoberto através de um trabalho de
campo minucioso pela pesquisadora do BPCT, Megan Claase, quando ela viu um cão
selvagem empacotar "marcas de cheiro" onde outros cães selvagens já
haviam feito o mesmo. Foram montadas câmaras para monitorar a actividade dos
cães selvagens no local, e foram recolhidas milhares de imagens e horas de
vídeo que revelavam a presença de 4 matilhas diferentes a usar regularmente o
mesmo território. Este comportamento contrasta com a imagem padrão dos cães
selvagens africanos, como animais que vagueiam erraticamente em grandes áreas
domésticas, mas correspondiam ao comportamento de marcação de odor de outros
carnívoros.
Passaram 4 anos e as
matilhas de Botsuana estudadas pelo BPCT ainda estão a usar o mesmo sítio, segundo
afirma a Apps do Botswana Predator Conservation Trust. “Descobrir os locais de
marcação é a chave que desbloqueia o uso de marcas artificiais para manter os
cães selvagens em segurança dentro das áreas protegidas”, explicou ele.
"Se apenas a urina e as fezes depositadas nos locais de marcação contêm
mensagens químicas e as que são deixadas noutros lugares são apenas resíduos, os
resultados das nossas análises químicas fazem todo o sentido", disse ele.
"Isso irá permitir-nos implantar marcas artificiais em padrões espaciais
que imitam o modo dos Mabecos distribuírem as suas marcas de odor
naturais".
No Zimbabué, recentemente,
um grupo de conservação teve que transportar uma matilha de cães selvagens do
Parque Nacional de Hwange, no oeste do país, para outro parque a 400
quilómetros de distância. Os cães estavam a afastar-se de Hwange e a atacar cabras
num distrito agrícola próximo. Em face disso, temia-se pela segurança dos cães.
"É ainda muito cedo para dizer se um BioBoundary de odor artificial
funcionaria em casos particulares", fez saber a Apps. "Mas uma
matilha que sai de uma área protegida e que causa problemas nas áreas vizinhas
de gado, seria o tipo de problema que ele teria como objectivo resolver".
Assim têm sido os últimos esforços em prol dos cães selvagens africanos. Oxalá os
BioBoundaries tenham êxito, antes que seja tarde demais.
Sem comentários:
Enviar um comentário