Quem procurar Malinois
para morder a tudo e a todos, desenfreadamente, é melhor deslocar-se à Áustria,
contactar a polícia ou o exército e ali tomar conselho, porque disparates com
estes cães é coisa que lá não falta, o que me deixa boquiaberto ao ver a
Alemanha ali tão perto e praticamente sem incidentes destes. Não sei se os
disparates são advindos do clima austríaco, o que todos sabemos é que dois
Malinois de serviço mataram há pouco tempo um tratador militar e que, volta não
volta, há uma criança que é atacada por um cão destes, independentemente de
pertencer à polícia ou a um particular. De qualquer modo, nego-me a acreditar
que as autoridades austríacas ainda não tenham chegado à conclusão de que os
seus cidadãos são amigos a pôr na ordem e não inimigos a abater.
Um Pastor Belga Malinois
distribuído a um treinador policial que já havia atacado em Janeiro uma criança
de 5 anos no Distrito austríaco de Hermagor, na Carinthia, voltou a atacar esta
segunda-feira em Villach Land, quando passeava com a esposa do seu tratador ao
longo do riacho Gössering, ao morder o antebraço de uma jovem de 15 anos. A
esposa do polícia, que viria a ser denunciada por agressão, confessou que o
animal circulava solto, mas com açaime, que possivelmente tirou contra uns
arbustos. Estaria a esposa do treinador policial autorizada e habilitada para
conduzir aquele cão? Eu penso que não, como penso que o Malinois não é um cão
para toda a gente.
Não é um cão para os
medrosos porque ao sentir a instabilidade do dono poderá varrer à dentada todos
os que se encontrem ao seu redor; não é um cão para justiceiros porque é
predisposto a massacres; não é um cão para gente sociável porque pode ser
anti-social; não é um cão próprio para crianças e idosos porque exige
disponibilidade e liderança forte; não é o melhor cão para quem não tem tempo;
jamais será o cão ideal para quem não tem características de liderança e muito
menos será para os distraídos, porque o aforismo “a distracção é a morte do
artista” ganha particular relevo ao lado destes cães.
Os Malinois são todos
iguais? É evidente que não, mas as características principais da raça fazem-se
presentes em todos os indivíduos, ainda que a potenciação dos impulsos herdados
possa diferir de linha para linha e de indivíduo para indivíduo, como de resto
acontece com todas as raças. Quer queiramos ou não, ainda que alguns insistam
em pô-los a brincar com Barbies, versatilidade ligada ao forte impulso ao conhecimento
de alguns, os Malinois são essencialmente excelentes cães policiais e de guerra
e como tal próprios para vigilantes credenciados, polícias e soldados.
O Malinois, se o deixarem,
pode ser uma arma letal, muito embora o seu “mecanismo de segurança” não esteja
de acordo com o seu extraordinário “poder de fogo”, porque é muito célere nas
acções e tarda na sua cessação, geralmente depois de ter causado algum dano,
problema que está agora a ser gradualmente resolvido com a infusão sanguínea de
um primo seu, do qual já descende. Não é difícil de adivinhar de que cão ou de
que raça estamos a falar, quando importa diminuir a carga instintiva e melhorar
o cumprimento das ordens. Sem o contributo da engenharia genética, todas as
raças caninas, sejam elas quais forem, mais cedo ou mais tarde, devido à
consanguinidade e à endogamia, irão necessitar de ser melhoradas visando a sua perpetuação
e adaptação a novas tarefas.
Nada impede nas sociedades
livres que qualquer um possa ter o cão que desejar, mesmo que não possua as características
indicadas para o ter, o que invariavelmente resulta em tremendos disparates e
contribui para o aumento de vítimas inocentes. Por razões políticas e não
outras, apesar do seu grau de perigosidade, o Malinois não se encontra indexado
à lista dos cães perigosos na esmagadora maioria dos países, o que a acontecer,
entre outras coisas, transformaria estes em cães em carniceiros ao serviço das
polícias, o que seria uma afronta aos valores democráticos que hoje defendemos.
Pelo que disse atrás, até
porque existem outros cães para o mesmo fim com maiores garantias de segurança,
não creio que o Malinois seja um cão para toda a gente e muito menos para
aqueles que não querem ter problemas, porque é um cão que exige do seu dono muita
atenção, destreza de raciocínio, considerável disponibilidade física e mental, uma
liderança forte, treino cíclico, cuidados preventivos na via pública e uma
obediência a todos os títulos inquestionável. E isto porquê? Porque é um cão de
trabalho inesgotável, mas que em simultâneo exige conhecimento e trabalho
aturado. Todavia com uma tremenda vantagem - é o cão mais leve da sua categoria, o que facilita o seu transporte e a sua descida de pára-quedas. Não há dúvidas: o Malinois é um cão extraordinário quando nas mãos certas!
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