terça-feira, 2 de junho de 2020

PARA A POLÍCIA TALVEZ, MAS NÃO PARA TODOS

Quem procurar Malinois para morder a tudo e a todos, desenfreadamente, é melhor deslocar-se à Áustria, contactar a polícia ou o exército e ali tomar conselho, porque disparates com estes cães é coisa que lá não falta, o que me deixa boquiaberto ao ver a Alemanha ali tão perto e praticamente sem incidentes destes. Não sei se os disparates são advindos do clima austríaco, o que todos sabemos é que dois Malinois de serviço mataram há pouco tempo um tratador militar e que, volta não volta, há uma criança que é atacada por um cão destes, independentemente de pertencer à polícia ou a um particular. De qualquer modo, nego-me a acreditar que as autoridades austríacas ainda não tenham chegado à conclusão de que os seus cidadãos são amigos a pôr na ordem e não inimigos a abater.
Um Pastor Belga Malinois distribuído a um treinador policial que já havia atacado em Janeiro uma criança de 5 anos no Distrito austríaco de Hermagor, na Carinthia, voltou a atacar esta segunda-feira em Villach Land, quando passeava com a esposa do seu tratador ao longo do riacho Gössering, ao morder o antebraço de uma jovem de 15 anos. A esposa do polícia, que viria a ser denunciada por agressão, confessou que o animal circulava solto, mas com açaime, que possivelmente tirou contra uns arbustos. Estaria a esposa do treinador policial autorizada e habilitada para conduzir aquele cão? Eu penso que não, como penso que o Malinois não é um cão para toda a gente.
Não é um cão para os medrosos porque ao sentir a instabilidade do dono poderá varrer à dentada todos os que se encontrem ao seu redor; não é um cão para justiceiros porque é predisposto a massacres; não é um cão para gente sociável porque pode ser anti-social; não é um cão próprio para crianças e idosos porque exige disponibilidade e liderança forte; não é o melhor cão para quem não tem tempo; jamais será o cão ideal para quem não tem características de liderança e muito menos será para os distraídos, porque o aforismo “a distracção é a morte do artista” ganha particular relevo ao lado destes cães.
Os Malinois são todos iguais? É evidente que não, mas as características principais da raça fazem-se presentes em todos os indivíduos, ainda que a potenciação dos impulsos herdados possa diferir de linha para linha e de indivíduo para indivíduo, como de resto acontece com todas as raças. Quer queiramos ou não, ainda que alguns insistam em pô-los a brincar com Barbies, versatilidade ligada ao forte impulso ao conhecimento de alguns, os Malinois são essencialmente excelentes cães policiais e de guerra e como tal próprios para vigilantes credenciados, polícias e soldados.
O Malinois, se o deixarem, pode ser uma arma letal, muito embora o seu “mecanismo de segurança” não esteja de acordo com o seu extraordinário “poder de fogo”, porque é muito célere nas acções e tarda na sua cessação, geralmente depois de ter causado algum dano, problema que está agora a ser gradualmente resolvido com a infusão sanguínea de um primo seu, do qual já descende. Não é difícil de adivinhar de que cão ou de que raça estamos a falar, quando importa diminuir a carga instintiva e melhorar o cumprimento das ordens. Sem o contributo da engenharia genética, todas as raças caninas, sejam elas quais forem, mais cedo ou mais tarde, devido à consanguinidade e à endogamia, irão necessitar de ser melhoradas visando a sua perpetuação e adaptação a novas tarefas.
Nada impede nas sociedades livres que qualquer um possa ter o cão que desejar, mesmo que não possua as características indicadas para o ter, o que invariavelmente resulta em tremendos disparates e contribui para o aumento de vítimas inocentes. Por razões políticas e não outras, apesar do seu grau de perigosidade, o Malinois não se encontra indexado à lista dos cães perigosos na esmagadora maioria dos países, o que a acontecer, entre outras coisas, transformaria estes em cães em carniceiros ao serviço das polícias, o que seria uma afronta aos valores democráticos que hoje defendemos.
Pelo que disse atrás, até porque existem outros cães para o mesmo fim com maiores garantias de segurança, não creio que o Malinois seja um cão para toda a gente e muito menos para aqueles que não querem ter problemas, porque é um cão que exige do seu dono muita atenção, destreza de raciocínio, considerável disponibilidade física e mental, uma liderança forte, treino cíclico, cuidados preventivos na via pública e uma obediência a todos os títulos inquestionável. E isto porquê? Porque é um cão de trabalho inesgotável, mas que em simultâneo exige conhecimento e trabalho aturado. Todavia com uma tremenda vantagem - é o cão mais leve da sua categoria, o que facilita o seu transporte e a sua descida de pára-quedas. Não há dúvidas: o Malinois é um cão extraordinário quando nas mãos certas!  

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