domingo, 21 de junho de 2020

COMEÇAR MAIS CEDO NÃO É PARA ATRAPALHAR MAIS TARDE!

Fomos os pioneiros a iniciar o treino canino aos 4 meses de idade em Portugal, seguindo o Método da Precocidade preconizado por Trumler. Outros, vendo nisso uma oportunidade para ganhar mais dinheiro, seguiram-nos o exemplo, desconhecendo ou desconsiderando Trumler e o seu método. Como resultado disso há por aí quem ande a rebentar cachorros precocemente, sobrecarregando-os com exercícios capazes de virem a comprometer o seu bem-estar, carácter e interacção, tornando-os demasiado submissos, exageradamente receosos dos donos, tristes, arrastados e desinteressados pelo trabalho, tudo devido à sobrecarga da obediência numa altura em que os cachorros começam a escalonar-se socialmente e a respeitar a hierarquia.
Já por diversas vezes nos referimos ao assunto e voltamos a enfatizar: feliz é o cão que nunca ouviu um não! Gente menos pensada, pascácia ou desacostumada a raciocinar, numa altura em que devia pacientemente amparar os seus cachorros, ajudando-os e recompensando-os, acaba indevidamente por bombardeá-los indiscriminadamente com o comando inibitório e como se isso não bastasse, a sujeitá-los a repreensões violentas. Começar mais cedo não é para atrapalhar mais tarde, o que se pretende é exactamente o contrário, é aplainar ou preparar o caminho para as futuras vitórias dos cães. A constituição ou unidade binomial acontece em dois momentos distintos para os donos que podemos considerar com “namoro” e “casamento”.
Dos 4 aos 6 meses o dono do cão deve tudo fazer para que o animal confie em si, adore estar na sua companhia, solicite o seu apoio, desperte o desejo de interagir, queira copiar os seus gestos e segui-lo por toda a parte. Para isso, o mestre do cachorro deverá tornar-se atractivo para o animal, não só porque o recompensa, mas porque está sempre pronto a ajudá-lo, actos que no seu todo lembram um namoro bem-sucedido. Sem ralhos, gestos bruscos e repreensões violentas, os cachorros irão confiar plenamente nos seus donos e crescerão a seu lado alegres fortes, destemidos, decididos, perseguidores de vitórias, gratos e ávidos de agradar, muitas vezes sem nunca terem ouvido um “não”, o que mostra a supremacia do amor sobre a violência.
E quando assim acontece, a fusão de propósitos entre donos e cães elevá-los-á a um patamar operacional excelente, onde não há razão para dúvidas graças à confiança mútua há muito testada e que acabará por transformá-los num só, o que obviamente faz lembrar um matrimónio feliz. Os cachorros dispensam ser vituperados, ofendidos e esganados, preferindo ser acarinhados, elogiados e amparados – ser conquistados ou invés de arrastados. Então o que fazer com os cachorros dos 4 aos 6 meses? Desenvolver os seus índices atléticos, reforçar o seu carácter, potenciar a sua máquina sensorial e estabelecer os necessários vínculos binomiais.
Quem nos dirá quando andar para a frente são os cachorros, nunca os desejos dos donos ou a cegueira dos treinadores, já que não se pode tornar precoce quem o não é, pois corre-se o risco de perder para sempre quase tudo o que animal tinha para dar. O tempo não é inimigo de donos e cachorros, mas um amigo que se estende para depurar o seu relacionamento e torná-los inseparáveis.

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