Fomos
os pioneiros a iniciar o treino canino aos 4 meses de idade em Portugal, seguindo
o Método da Precocidade preconizado por Trumler. Outros, vendo nisso uma
oportunidade para ganhar mais dinheiro, seguiram-nos o exemplo, desconhecendo
ou desconsiderando Trumler e o seu método. Como resultado disso há por aí quem
ande a rebentar cachorros precocemente, sobrecarregando-os com exercícios capazes
de virem a comprometer o seu bem-estar, carácter e interacção, tornando-os
demasiado submissos, exageradamente receosos dos donos, tristes, arrastados e
desinteressados pelo trabalho, tudo devido à sobrecarga da obediência numa
altura em que os cachorros começam a escalonar-se socialmente e a respeitar a
hierarquia.
Já
por diversas vezes nos referimos ao assunto e voltamos a enfatizar: feliz é o
cão que nunca ouviu um não! Gente menos pensada, pascácia ou desacostumada a
raciocinar, numa altura em que devia pacientemente amparar os seus cachorros,
ajudando-os e recompensando-os, acaba indevidamente por bombardeá-los
indiscriminadamente com o comando inibitório e como se isso não bastasse, a
sujeitá-los a repreensões violentas. Começar mais cedo não é para atrapalhar mais
tarde, o que se pretende é exactamente o contrário, é aplainar ou preparar o
caminho para as futuras vitórias dos cães. A constituição ou unidade binomial
acontece em dois momentos distintos para os donos que podemos considerar com “namoro”
e “casamento”.
Dos
4 aos 6 meses o dono do cão deve tudo fazer para que o animal confie em si,
adore estar na sua companhia, solicite o seu apoio, desperte o desejo de
interagir, queira copiar os seus gestos e segui-lo por toda a parte. Para isso,
o mestre do cachorro deverá tornar-se atractivo para o animal, não só porque o
recompensa, mas porque está sempre pronto a ajudá-lo, actos que no seu todo
lembram um namoro bem-sucedido. Sem ralhos, gestos bruscos e repreensões
violentas, os cachorros irão confiar plenamente nos seus donos e crescerão a seu
lado alegres fortes, destemidos, decididos, perseguidores de vitórias, gratos e
ávidos de agradar, muitas vezes sem nunca terem ouvido um “não”, o que mostra a
supremacia do amor sobre a violência.
E
quando assim acontece, a fusão de propósitos entre donos e cães elevá-los-á a
um patamar operacional excelente, onde não há razão para dúvidas graças à
confiança mútua há muito testada e que acabará por transformá-los num só, o que
obviamente faz lembrar um matrimónio feliz. Os cachorros dispensam ser
vituperados, ofendidos e esganados, preferindo ser acarinhados, elogiados e
amparados – ser conquistados ou invés de arrastados. Então o que fazer com os
cachorros dos 4 aos 6 meses? Desenvolver os seus índices atléticos, reforçar o
seu carácter, potenciar a sua máquina sensorial e estabelecer os necessários
vínculos binomiais.
Quem
nos dirá quando andar para a frente são os cachorros, nunca os desejos dos
donos ou a cegueira dos treinadores, já que não se pode tornar precoce quem o
não é, pois corre-se o risco de perder para sempre quase tudo o que animal
tinha para dar. O tempo não é inimigo de donos e cachorros, mas um amigo que se
estende para depurar o seu relacionamento e torná-los inseparáveis.
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