Na
prática dos obstáculos o que mais importa é o modo como são feitos pelos cães e
não tanto a sua ultrapassagem, porque os animais devem ser convidados e nunca
empurrados para toda a sorte de obstáculos. A ginástica cinotécnica visa a preparação
atlética dos cães, não é um fim em si mesmo, mas uma meta a alcançar a partir
da cumplicidade binomial que procura novos desafios graças alegria que ela
desperta – deve ser um momento lúdico.
E,
se assim não for, o que é uma clara ofensa à inteligência, por provir da violência
e desrespeitar a integridade física dos cães, outra coisa não é que o mais
descarado atentado ao seu bem-estar, não só físico como psicológico, merecendo dos
animais compreensível desinteresse, menor celeridade, resistência e revolta.
Para cúmulo e diante destas situações, como sinal de insensibilidade e
manifestação de maior de incompetência e incapacidade, ainda há quem agrida a
varapau ou a chicote os pobres dos animais, podendo com isso lesioná-los e amedrontá-los
irremediavelmente, comprometendo dessa forma o seu futuro destino ou serviço.
Como se depreende, nada disto é treino, mas uma prática esclavagista do mais malvado
e requintado especismo.
Nada
melhor para se detectar o modo como um cão aprendeu a fazer determinado obstáculo
do que atentar para as suas expressões mímicas, nomeadamente as fornecidas pela
posição das orelhas e pela disposição da cauda, aquando do cumprimento das
ordens, considerando em simultâneo a maior ou menor celeridade de execução (se
o cão evoluir para o obstáculo a passo ou em marcha, é mais do que certo que
foi empurrado; se evoluir e sair dele a galope vivo e alegre, nas restam
dúvidas – foi apresentado correctamente ao obstáculo).
A
resolução de um obstáculo por parte dum cachorro, para que aconteça sem
qualquer tipo de violência, deverá considerar os seguintes factores: os riscos
associados ao obstáculo, a habilidade do condutor; o tipo de motivação/incentivo
que usa; a capacidade de concentração do cachorro (resolução); a idade que
atravessa; a sua robustez; o estado dos seus aprumos e o impacto ao solo na saída
do obstáculo. Torna-se evidente que tudo isto só terá lugar depois avaliados os
vínculos afectivos existentes entre o cão e o dono, o nível de cumplicidade
entre ambos e o seu grau de interacção.
Nunca
é demais relembrar que a prática dos obstáculos tem um tríplice propósito, a
saber: o desenvolvimento atlético dos animais, a familiarização com os
obstáculos que irão enfrentar no seu serviço e o robustecimento do seu
carácter. Os três propósitos dispensam a violência e esta é o pior dos entraves
para a sua aquisição. Assim, não sou eu a dizer quando um cachorro deve fazer
determinado obstáculo, mas sim o animal, depois de confiado no dono, motivado
por ele, apto fisicamente e disposto para o desafio pelo concurso da
recompensa.
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