segunda-feira, 1 de junho de 2020

NO DIA DA CRIANÇA

Celebra-se hoje o Dia da Criança e no meu país vêem-se tão poucas, o que inevitavelmente levará à agonia deste velho Portugal com quase novecentos anos. Somos velhos na História e nas gentes, falta-nos “sangue na guelra”, somos cada vez mais dependentes e, se a situação se mantiver, a breve trecho deixaremos também de ser uma nação soberana. A sobrevivência desta ditosa Pátria, da sua rica história e da sua cultura díspar, ruirão de uma assentada se entretanto não houver “gente nova” que as sustente. Nesta matéria, aos portugueses de hoje, é lançado um repto com 59 anos de existência e que foi proferido por John Fitzgerald Kennedy em 20/01/1961, aquando da sua tomada de posse como 35º Presidente dos Estados Unidos: “ Não pergunte o que o seu país pode fazer por si. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país.” O nosso já necessitava de mais crianças ontem e todos são agora convocados para presenteá-las à Nação que nos preserva livres e senhores de uma identidade própria.
Tarda a ocasião de trocarmos o narcisismo pelo interesse nacional, de abandonarmos a mentira e o comodismo que todos prejudica e condena, de nortearmos as nossas vidas pelos superiores desígnios de Portugal enquanto Nação livre e soberana que só o será, se os seus filhos não se extinguirem – ter filhos é um valoroso acto patriótico! Oiço dizer constantemente a muita gente que para se ter filhos é preciso ter condições e que a maioria das pessoas não as tem. Curiosamente, contrariando esta teoria, verifico que são os mais pobres que têm mais filhos, o que não deixa de ser um paradoxo. Por outro lado, e falo com conhecimento de causa, conheço muitos donos de cães que gastam mais com eles do que gastariam com um filho. Há também quem diga que não tem filhos por perseguir uma carreira, carreira que inevitavelmente acabará num cemitério depois de uma breve passagem por um lar. Há múltiplos aspectos em Fernando Pessoa com os quais não me identifico, mas estou em perfeita sintonia com ele quando diz no Poema Liberdade: “Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças”.
Para além de entender da sua necessidade, eu adoro crianças e rejubilo quando as vejo passar alegres e traquinas, enchendo de irreverência parques e jardins. Hoje já não me é aconselhável voltar a ser pai, porque os anos avançam perigosamente e a minha disponibilidade geral é cada vez menor, entraves que não me impedem de adestrar cães para acompanhar e valer a crianças, associação que junta o mais belo que há em nós com o animal que melhor nos tem servido. Neste dia da criança, eu quero mais e mais crianças, porque entendo que não há verdadeira felicidade sem elas. Eu sei que um dia vou partir, mas mesmo assim, gostava de ouvir o seu buliço fervilhante no crepúsculo da minha passagem por aqui. Parabéns pais, por terem dado ao País e ao mundo a vida que nos anima. Neste dia da criança faço votos que cada qual veja nos filhos dos outros o bem que representam para todos nós.

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