Não podemos acusar a
Inglaterra e os ingleses de não saberem olhar por si, mas podemos acusá-los de
nunca terem entrado num tratado ou aliança sem ser com um pé dentro e outro
fora, a História comprova-o e o Brexit é exemplo disso. Desde a
Baixa Idade Média que a Inglaterra se opõe sistematicamente à formação de uma
potência continental, o que levou inclusive à assinatura da aliança diplomática
mais antiga do Mundo ainda em vigor: A Aliança Inglesa, instituída pelo Tratado
Anglo-Português de 1373, declaradamente anti-castelhano (espanhol) e
percebe-se porquê.
Se se deve a D. Afonso
Henriques a ideia de uma nação portuguesa, em alguns dos momentos mais críticos
da sua existência, coube aos ingleses mantê-la de pé, quer por via diplomática
quer por força de homens, como aconteceu na Crise de 1383-1385, na Restauração
da Independência de 1640 e de forma mais descarada durante as Invasões
Francesas, onde os homens do Duque de Wellington (Arthur
Wellesley) trataram Portugal como uma colónia britânica e os portugueses como
seus serviçais, conforma atesta a vergonhosa Convenção de Sintra de 30
de Agosto de 1808 (vale a pena ler o documento).
Nem os reis e rainhas
portugueses puderam casar-se sem o aval inglês, porquanto eram casamentos de
estado e como tal não podiam pôr em causa a política e os interesses ingleses.
Por causa disso, apesar de tantas vezes se apaixonarem e desejarem outros pares,
os nossos monarcas viram-se obrigados a dar o nó com princesas e princípes germânicos,
como foi o caso do segundo marido da rainha D.ª Maria II, o Duque Fernando de Saxe-Coburgo-Gota,
príncipe consorte de Portugal, que todavia foi de extrema valia para o País. Por
tudo isto, se ainda somos portugueses e não espanhóis ou franceses, somo-lo
também porque a Inglaterra assim o quis, não tanto pelo respeito à nossa
nacionalidade, mas porque tal lhe convinha.
O exemplo português, se o
relativo à dita “Irlanda do Norte” não bastar, devia e deverá pôr de sobreaviso
os responsáveis europeus pelas negociações do Brexit, já que o Reino
Unido entrou na Comunidade Europeia para ser servido e a pensar no dia em que
dela sairia, perante os interesses ou ingenuidade de quem aceitou a sua
candidatura e adesão. Como dificilmente um negócio satisfará ambas as partes a
100%, quando oiço os responsáveis da Comunidade Europeia e dos ingleses a
dizerem que as negociações sobre o Brexit vão bem, logo me questiono acerca de
quem estará a passar a perna a quem, provavelmente quem sempre andou com um pé
dentro e outro fora!
Entretanto, tal qual
abelha operária à procura de néctar, a Chanceler Merkel anda à procura de
consensos para formar governo, ciente das responsabilidades de suportar uma
Europa que se deseja forte e coesa sem os ingleses ou com eles à perna. Será
que iremos enfrentar doravante um “Above all” inglês ou a Inglaterra
reconsiderará a sua posição e finalmente verá que sozinha não chega a lado algum?
E os portugueses? Sempre na mesma e mais do mesmo, agora com novos patrões na
indistinta retaguarda que não se estranha e mais se entranha. Sobra a uma
pergunta inquietante: será que no último Século tivemos alguma vez uma política
verdadeiramente patriótica e independente, momentos em que fomos donos do nosso
próprio nariz?
Sem comentários:
Enviar um comentário