terça-feira, 9 de janeiro de 2018

NÓS POR CÁ: O BREXIT E A COLÓNIA INGLESA

Não podemos acusar a Inglaterra e os ingleses de não saberem olhar por si, mas podemos acusá-los de nunca terem entrado num tratado ou aliança sem ser com um pé dentro e outro fora, a História comprova-o e o Brexit é exemplo disso. Desde a Baixa Idade Média que a Inglaterra se opõe sistematicamente à formação de uma potência continental, o que levou inclusive à assinatura da aliança diplomática mais antiga do Mundo ainda em vigor: A Aliança Inglesa, instituída pelo Tratado Anglo-Português de 1373, declaradamente anti-castelhano (espanhol) e percebe-se porquê.
Se se deve a D. Afonso Henriques a ideia de uma nação portuguesa, em alguns dos momentos mais críticos da sua existência, coube aos ingleses mantê-la de pé, quer por via diplomática quer por força de homens, como aconteceu na Crise de 1383-1385, na Restauração da Independência de 1640 e de forma mais descarada durante as Invasões Francesas, onde os homens do Duque de Wellington (Arthur Wellesley) trataram Portugal como uma colónia britânica e os portugueses como seus serviçais, conforma atesta a vergonhosa Convenção de Sintra de 30 de Agosto de 1808 (vale a pena ler o documento).
Nem os reis e rainhas portugueses puderam casar-se sem o aval inglês, porquanto eram casamentos de estado e como tal não podiam pôr em causa a política e os interesses ingleses. Por causa disso, apesar de tantas vezes se apaixonarem e desejarem outros pares, os nossos monarcas viram-se obrigados a dar o nó com princesas e princípes germânicos, como foi o caso do segundo marido da rainha D.ª Maria II, o Duque Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, príncipe consorte de Portugal, que todavia foi de extrema valia para o País. Por tudo isto, se ainda somos portugueses e não espanhóis ou franceses, somo-lo também porque a Inglaterra assim o quis, não tanto pelo respeito à nossa nacionalidade, mas porque tal lhe convinha.
O exemplo português, se o relativo à dita “Irlanda do Norte” não bastar, devia e deverá pôr de sobreaviso os responsáveis europeus pelas negociações do Brexit, já que o Reino Unido entrou na Comunidade Europeia para ser servido e a pensar no dia em que dela sairia, perante os interesses ou ingenuidade de quem aceitou a sua candidatura e adesão. Como dificilmente um negócio satisfará ambas as partes a 100%, quando oiço os responsáveis da Comunidade Europeia e dos ingleses a dizerem que as negociações sobre o Brexit vão bem, logo me questiono acerca de quem estará a passar a perna a quem, provavelmente quem sempre andou com um pé dentro e outro fora!
Entretanto, tal qual abelha operária à procura de néctar, a Chanceler Merkel anda à procura de consensos para formar governo, ciente das responsabilidades de suportar uma Europa que se deseja forte e coesa sem os ingleses ou com eles à perna. Será que iremos enfrentar doravante um “Above all” inglês ou a Inglaterra reconsiderará a sua posição e finalmente verá que sozinha não chega a lado algum? E os portugueses? Sempre na mesma e mais do mesmo, agora com novos patrões na indistinta retaguarda que não se estranha e mais se entranha. Sobra a uma pergunta inquietante: será que no último Século tivemos alguma vez uma política verdadeiramente patriótica e independente, momentos em que fomos donos do nosso próprio nariz?

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