quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

CÃES DE CAÇA: OS PATINHOS PERFEITOS!

Hoje fomos surpreendidos por uma notícia inesperada: 8 cães que participavam numa montaria ao javali acabaram mortos, supostamente envenenados. O facto aconteceu na Serra da Marofa, na zona de Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda. Na aldeia vizinha de Codeceiro apareceram ainda mais 6 cães mortos e as investigações estão a cabo da GNR. Segundo o testemunho dos caçadores, os cães “em 2, 3 minutos caíam rijos”. Teme-se, caso se trate de envenenamento, que o cadáver de algum cão não encontrado possa provocar ali um desastre ecológico, uma vez que a área é rica em várias espécies cinegéticas.
Todos os anos há registo de cães envenenados em Portugal e lamentavelmente continuará a haver até que o mundo seja mundo. Na impossibilidade de sabermos quem são e de surpreendermos todos os envenenadores, não nos resta outra opção do que ensinar a recusa de engodos aos cães, currículo obrigatório do adestramento considerando o seu objectivo central: a salvaguarda dos animais. No entanto, o número de adestradores que ensina a recusa de engodos é cada vez menor, o que não deixa de ser um descarado e gritante contra-senso diante do perigo que ronda os cães.
Nesta saga dos envenenamentos os cães de caça são os patinhos perfeitos e são-no por culpa do seu ofício e dos seus proprietários, porquanto são caçadores inveterados e os seus donos, temendo o enfraquecimento dos seus instintos e desinteresse, não gostam de vê-los de barriga cheia, sujeitando-os invariavelmente à escassez de dietas (fome). Acresce ainda o facto de trabalharem distantes dos seus donos, pormenor que os isenta do seu aviso e protecção. Por outro lado, os caçadores não podem previamente bater os locais de caçadas e batidas na procura de engodos, porque se o fizessem avisariam a caça da sua presença.
Contudo, nada impede que os cães de utilidade arredados do ofício cinegético aprendam a recusar engodos, ensino indispensável ao seu bem-estar e sobrevivência, sem o qual aumentam substancialmente a sua vulnerabilidade e ineficácia. Podemos incluir neste grupo os cães que protegem os parques naturais e dão caça aos caçadores furtivos, que na ausência deste ensino bem depressa morrerão às mãos de quem perseguem.
Cães de companhia, de terapia, de resgate, de guarda e outros devem ser aprovados na recusa de engodos, porque poderão morrer com “petiscos” endereçados a si ou a outros. Por que razão a recusa de engodos parece ter saído de moda? Basicamente por má compreensão do reforço positivo e confusão na sociabilização, onde todos acham por bem engodar os cães alheios a qualquer hora e em qualquer lugar. E isto para já não se falar daqueles donos que, à imitação de alguns caçadores, só lhes dão de comer (pouco) fora de casa, durante o treino ou depois das tarefas cumpridas. Convém dizer que perante engodos um cão mal alimentado ou com a barriga vazia é como o “código postal”: meio caminho andado, não para a vida mas para a morte.
Desejamos que o sucedido na Serra da Marofa e na localidade vizinha de Codeceiro desperte os adestradores da nossa praça para a necessidade do ensino da recusa de engodos (donos e cães agradecem), porque só assim se poderá combater eficazmente quem envenena. Convém recordar que a vida de um cão vale mais que qualquer desporto e que sem cão acaba-se a brincadeira. Gostar de cães não é protegê-los? Por vezes há gente que me confunde!

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