Hoje fomos surpreendidos
por uma notícia inesperada: 8 cães que participavam numa montaria ao javali
acabaram mortos, supostamente envenenados. O facto aconteceu na Serra da
Marofa, na zona de Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda. Na aldeia vizinha de Codeceiro
apareceram ainda mais 6 cães mortos e as investigações estão a cabo da GNR.
Segundo o testemunho dos caçadores, os cães “em 2, 3 minutos caíam rijos”.
Teme-se, caso se trate de envenenamento, que o cadáver de algum cão não
encontrado possa provocar ali um desastre ecológico, uma vez que a área é rica
em várias espécies cinegéticas.
Todos os anos há registo de
cães envenenados em Portugal e lamentavelmente continuará a haver até que o
mundo seja mundo. Na impossibilidade de sabermos quem são e de surpreendermos
todos os envenenadores, não nos resta outra opção do que ensinar a recusa de
engodos aos cães, currículo obrigatório do adestramento considerando o seu
objectivo central: a salvaguarda dos animais. No entanto, o número de
adestradores que ensina a recusa de engodos é cada vez menor, o que não deixa
de ser um descarado e gritante contra-senso diante do perigo que ronda os cães.
Nesta saga dos
envenenamentos os cães de caça são os patinhos perfeitos e são-no por culpa do
seu ofício e dos seus proprietários, porquanto são caçadores inveterados e os
seus donos, temendo o enfraquecimento dos seus instintos e desinteresse, não
gostam de vê-los de barriga cheia, sujeitando-os invariavelmente à escassez de
dietas (fome). Acresce ainda o facto de trabalharem distantes dos seus donos,
pormenor que os isenta do seu aviso e protecção. Por outro lado, os caçadores
não podem previamente bater os locais de caçadas e batidas na procura de
engodos, porque se o fizessem avisariam a caça da sua presença.
Contudo, nada impede que
os cães de utilidade arredados do ofício cinegético aprendam a recusar engodos,
ensino indispensável ao seu bem-estar e sobrevivência, sem o qual aumentam
substancialmente a sua vulnerabilidade e ineficácia. Podemos incluir neste
grupo os cães que protegem os parques naturais e dão caça aos caçadores
furtivos, que na ausência deste ensino bem depressa morrerão às mãos de quem
perseguem.
Cães de companhia, de
terapia, de resgate, de guarda e outros devem ser aprovados na recusa de
engodos, porque poderão morrer com “petiscos” endereçados a si ou a outros. Por
que razão a recusa de engodos parece ter saído de moda? Basicamente por má
compreensão do reforço positivo e confusão na sociabilização, onde todos acham
por bem engodar os cães alheios a qualquer hora e em qualquer lugar. E isto
para já não se falar daqueles donos que, à imitação de alguns caçadores, só
lhes dão de comer (pouco) fora de casa, durante o treino ou depois das tarefas
cumpridas. Convém dizer que perante engodos um cão mal alimentado ou com a
barriga vazia é como o “código postal”: meio caminho andado, não para a vida mas
para a morte.
Desejamos que o sucedido
na Serra da Marofa e na localidade vizinha de Codeceiro desperte os
adestradores da nossa praça para a necessidade do ensino da recusa de engodos
(donos e cães agradecem), porque só assim se poderá combater eficazmente quem
envenena. Convém recordar que a vida de um cão vale mais que qualquer desporto
e que sem cão acaba-se a brincadeira. Gostar de cães não é protegê-los? Por
vezes há gente que me confunde!
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