A maioria dos portugueses não tem a estrutura física visível nos nórdicos, os vikings passaram por aqui meia dúzia de vezes e de surtida, os povos germânicos mesclaram-se com os que já cá estavam, os francos da I Dinastia fizeram mais filhos fora de portas do que dentro dos seus castelos, daí sermos todos, de um modo ou de outro, por portas e travessas, descendentes de D. Afonso Henriques e não só. Prevaleceu o tipo mediterrânico, que como o próprio nome indica, prolifera por todas as suas margens. Não sabemos que tipo prevalecerá no futuro, atendendo às migrações actuais, mas isso também não vem ao caso. Os eugenistas nacionais dos finais do Sec. XIX e do primeiro quarto do Sec. XX, na ânsia de provarem a nossa ascendência germânica, talvez na procura da edelweiss no meio das urzes, omitiram propositadamente a contribuição de muitos povos (a si anteriores ou posteriores), que se fizeram presentes na nossa formação e dos quais somos exemplo vivo. Um português saudável, e agora são cada vez menos, muito por culpa do sedentarismo e da alteração dos hábitos alimentares, tem em média, para a mesma altura, menos 7 quilos que um alemão, um galês ou um sueco, o que lhe confere características próprias, diferentes propensões e outras qualidades, não sendo de espantar as boas prestações que os nossos atletas atingem nas corridas de fundo – o português nasceu para andar e correr!
Todavia, pouquíssimas são as famílias que têm uma tradição desportiva, grande número de miúdos abomina a ginástica escolar, a obesidade infanto-juvenil cresce assustadoramente e neste Pais de rotundas, que parecem crescer sem predadores naturais, somos confrontados com slogans do tipo: “Faça exercício pela sua saúde”. Nunca tivemos tantas pistas para ciclistas, pistas de manutenção ou itinerários pedestres, alguns deles verdadeiramente paradisíacos, como é o caso do passeio marítimo que circunda a Costa do Sol. Apesar de se ver mais gente a mexer-se, o salutar concurso à ginástica ao ar livre é esporádico e parece destinado às mesmas caras. A moda agora é ir para os ginásios, para o step, para os levantamentos e para os pretensos benefícios de toda a casta de máquinas. Dir-se-á: do mal, o menos! A maioria dos seus frequentadores faz dos ginásios um lugar social, um entreposto comercial, um local de encontros e desencontros sentimentais, beneficia dos seus “Spa’s”, usufrui dos seus bares e serve-se deles com pretexto, porque são poucos os que têm ou mantêm um calendário de exercício regular, deslocando-se ali somente como atletas de corpo presente, quiçá, talvez, à imitação do seu pendor histórico-religioso.
Um pequeno número destes atletas confinados acabará por surgir no adestramento, porque tem cães e dificilmente os controla, entendendo a escola como um ginásio e ignorando em simultâneo a necessidade excursionista canina. Quando alertados para a necessidade da sua disponibilidade física, enquanto agentes de ensino e condutores cinotécnicos, logo adiantam o seu currículo ginasial e aceitam sobranceiros o encargo. Normalmente acabam por “não ter pernas” para o cão, descobrindo assim, perplexos, a sua má forma física. Diante de tal logro, alguns deles acabarão por deixar os ginásios, não lhes vendo grande préstimo para a nova função e abraçarão os seus cães como personal trainers. Com eles irão caminhar uma légua diária, subir serras e outeiros, bater charnecas e vales, atravessar rios lado a lado, pernoitar em diferentes ecossistemas e redescobrir o contacto com a mãe natureza. Um condutor cinotécnico zeloso dos seus deveres e apostado no bem-estar binomial chega ao final do ano com 1.800 km andados! Infelizmente são muito poucos, já que a maioria percorrerá somente uma média de 240 km anuais, efectuados exclusivamente no decorrer dos trabalhos escolares, se mantiver uma carga horária mensal de 8 horas, o que nos obriga à procura de diferentes ecossistemas, considerando o interesse dos donos e o aumento da experiência directa dos cães.
O velho conceito pedagógico que restringe o adestramento unicamente ao espaço escolar, transformando-o desse modo numa escola-ginásio, está ultrapassado, porque se encontra dependente da recapitulação doméstica que nem sempre acontece e obriga a um sem número de adaptações para além dos seus muros, condições incómodas, por vezes de difícil resolução, tanto para homens como para cães, considerando a novidade dos desafios. Ademais, a escola não é um fim em si mesmo, senão um recinto para a posterior adaptação ou capacitação dos binómios, algo para além de um amontoado de esconderijos, um monte de pneus, uma taleiga de varas ou um aglomerado de bidons, pintados de cores berrantes e escondidos num campo exíguo, estéril e distante da realidade, geralmente nos subúrbios, rematado por uma estrada ou encostado a uma linha-férrea. Diante do panorama e das necessárias adaptações binomiais, mais depressa se justificaria o ensino porta-a-porta do que o fornecido por uma escola deste tipo. Acresce ainda que a maioria dos centros caninos se encontra mal apetrechada do ponto de vista logístico-didáctico, excepção feita àqueles que se destinam a modalidades específicas e destinadas a provas, onde o grosso dos alunos nem quer ouvir falar delas, porque não tem tempo ou tem mais o que fazer. Ainda que os cães possam confundir a ficção com a realidade, e os homens também, é obrigatório transitá-los da simulação para o dia-a-dia das situações concretas.
Deveremos abandonar o recinto escolar? Não! De maneira nenhuma! Isso seria a mais insana das loucuras, violaria os mais elementares princípios pedagógicos, causaria maior delonga no processo de aprendizagem e obrigaria a alterações que não estariam ao alcance de todos (instrutores, instruendos e cães). Todavia, a escola também deverá fornecer estágios para os seus alunos fora de portas, minimizando dessa forma os riscos do seu insucesso, transitando para o exterior a aplicação dos códigos e exercícios que valerão para o quotidiano dos binómios. Não estamos a falar de duas ou três saídas esporádicas anuais, de curta duração, pouca aplicação, dedicadas à galhofa e à pança cheia, que também são importantes para a unidade do grupo, mas da execução prática dos conteúdos de ensino em ambientes mais tangíveis aos lares de adopção e para além da segurança oferecida pela escola, que deverão acontecer sistematicamente e que complementarão o ensino ministrado – a escola enquanto meta deve rumar ao objectivo. A opção tem-se revelado um contributo alegre para os cães, porque a sua percepção não abrange o futuro e acabam por absorver a liderança como meio para a sua sobrevivência. A escola em excursão acaba por dotar os condutores para a excursão diária, revestindo-os da experiência que necessitam prà tarefa, tornando-lhes alcançável a recapitulação doméstica que garantirá um maior desenvolvimento do processo pedagógico comum. Não somos tolos ao ponto de pensarmos que todos os alunos a executam, ao invés temos a certeza que muito poucos a fazem, o que nos obriga a aumentar o quadro experimental dos cães e a irmos para o olho da rua, em abono do seu bem-estar, capacitação e posterior adaptação. Alcançar a sociabilização na escola é mais fácil do que alcançá-la em parques e jardins densamente concorridos. Mas onde iremos necessitar mais dela? Parece mentira mas é verdade, já tivemos alunos que compraram casa nas imediações da escola para minorarem os riscos da excursão diária! Escola que não sai é como um candidato a piloto que não descola da cadeira simuladora!
A paz sem pernas, visível nos maus frequentadores dos ginásios, porque sossegam a sua cabeça pelo simples acto de se inscreverem, não deverá estender-se à cinotecnia, debicar a sua dinâmica ou comprometer os seus objectivos. Ensinar é uma acção continuada para produzir resultados, um subsídio para a vida e para a sobrevivência. Nós estamos cá para que os cães tenham vida em abundância! E como o adestramento é também desporto, poucas actividades desportivas são tão abrangentes, próprias para todas as idades, sexos e tipos físicos. O ensino canino é feito em movimento e não pode ser só travamento, aumenta com a experiência e procura vencer a novidade. A escola-ginásio só serve para os cães que nunca saem de casa, papagaios desengonçados em gaiolas de betão.
Todavia, pouquíssimas são as famílias que têm uma tradição desportiva, grande número de miúdos abomina a ginástica escolar, a obesidade infanto-juvenil cresce assustadoramente e neste Pais de rotundas, que parecem crescer sem predadores naturais, somos confrontados com slogans do tipo: “Faça exercício pela sua saúde”. Nunca tivemos tantas pistas para ciclistas, pistas de manutenção ou itinerários pedestres, alguns deles verdadeiramente paradisíacos, como é o caso do passeio marítimo que circunda a Costa do Sol. Apesar de se ver mais gente a mexer-se, o salutar concurso à ginástica ao ar livre é esporádico e parece destinado às mesmas caras. A moda agora é ir para os ginásios, para o step, para os levantamentos e para os pretensos benefícios de toda a casta de máquinas. Dir-se-á: do mal, o menos! A maioria dos seus frequentadores faz dos ginásios um lugar social, um entreposto comercial, um local de encontros e desencontros sentimentais, beneficia dos seus “Spa’s”, usufrui dos seus bares e serve-se deles com pretexto, porque são poucos os que têm ou mantêm um calendário de exercício regular, deslocando-se ali somente como atletas de corpo presente, quiçá, talvez, à imitação do seu pendor histórico-religioso.
Um pequeno número destes atletas confinados acabará por surgir no adestramento, porque tem cães e dificilmente os controla, entendendo a escola como um ginásio e ignorando em simultâneo a necessidade excursionista canina. Quando alertados para a necessidade da sua disponibilidade física, enquanto agentes de ensino e condutores cinotécnicos, logo adiantam o seu currículo ginasial e aceitam sobranceiros o encargo. Normalmente acabam por “não ter pernas” para o cão, descobrindo assim, perplexos, a sua má forma física. Diante de tal logro, alguns deles acabarão por deixar os ginásios, não lhes vendo grande préstimo para a nova função e abraçarão os seus cães como personal trainers. Com eles irão caminhar uma légua diária, subir serras e outeiros, bater charnecas e vales, atravessar rios lado a lado, pernoitar em diferentes ecossistemas e redescobrir o contacto com a mãe natureza. Um condutor cinotécnico zeloso dos seus deveres e apostado no bem-estar binomial chega ao final do ano com 1.800 km andados! Infelizmente são muito poucos, já que a maioria percorrerá somente uma média de 240 km anuais, efectuados exclusivamente no decorrer dos trabalhos escolares, se mantiver uma carga horária mensal de 8 horas, o que nos obriga à procura de diferentes ecossistemas, considerando o interesse dos donos e o aumento da experiência directa dos cães.
O velho conceito pedagógico que restringe o adestramento unicamente ao espaço escolar, transformando-o desse modo numa escola-ginásio, está ultrapassado, porque se encontra dependente da recapitulação doméstica que nem sempre acontece e obriga a um sem número de adaptações para além dos seus muros, condições incómodas, por vezes de difícil resolução, tanto para homens como para cães, considerando a novidade dos desafios. Ademais, a escola não é um fim em si mesmo, senão um recinto para a posterior adaptação ou capacitação dos binómios, algo para além de um amontoado de esconderijos, um monte de pneus, uma taleiga de varas ou um aglomerado de bidons, pintados de cores berrantes e escondidos num campo exíguo, estéril e distante da realidade, geralmente nos subúrbios, rematado por uma estrada ou encostado a uma linha-férrea. Diante do panorama e das necessárias adaptações binomiais, mais depressa se justificaria o ensino porta-a-porta do que o fornecido por uma escola deste tipo. Acresce ainda que a maioria dos centros caninos se encontra mal apetrechada do ponto de vista logístico-didáctico, excepção feita àqueles que se destinam a modalidades específicas e destinadas a provas, onde o grosso dos alunos nem quer ouvir falar delas, porque não tem tempo ou tem mais o que fazer. Ainda que os cães possam confundir a ficção com a realidade, e os homens também, é obrigatório transitá-los da simulação para o dia-a-dia das situações concretas.
Deveremos abandonar o recinto escolar? Não! De maneira nenhuma! Isso seria a mais insana das loucuras, violaria os mais elementares princípios pedagógicos, causaria maior delonga no processo de aprendizagem e obrigaria a alterações que não estariam ao alcance de todos (instrutores, instruendos e cães). Todavia, a escola também deverá fornecer estágios para os seus alunos fora de portas, minimizando dessa forma os riscos do seu insucesso, transitando para o exterior a aplicação dos códigos e exercícios que valerão para o quotidiano dos binómios. Não estamos a falar de duas ou três saídas esporádicas anuais, de curta duração, pouca aplicação, dedicadas à galhofa e à pança cheia, que também são importantes para a unidade do grupo, mas da execução prática dos conteúdos de ensino em ambientes mais tangíveis aos lares de adopção e para além da segurança oferecida pela escola, que deverão acontecer sistematicamente e que complementarão o ensino ministrado – a escola enquanto meta deve rumar ao objectivo. A opção tem-se revelado um contributo alegre para os cães, porque a sua percepção não abrange o futuro e acabam por absorver a liderança como meio para a sua sobrevivência. A escola em excursão acaba por dotar os condutores para a excursão diária, revestindo-os da experiência que necessitam prà tarefa, tornando-lhes alcançável a recapitulação doméstica que garantirá um maior desenvolvimento do processo pedagógico comum. Não somos tolos ao ponto de pensarmos que todos os alunos a executam, ao invés temos a certeza que muito poucos a fazem, o que nos obriga a aumentar o quadro experimental dos cães e a irmos para o olho da rua, em abono do seu bem-estar, capacitação e posterior adaptação. Alcançar a sociabilização na escola é mais fácil do que alcançá-la em parques e jardins densamente concorridos. Mas onde iremos necessitar mais dela? Parece mentira mas é verdade, já tivemos alunos que compraram casa nas imediações da escola para minorarem os riscos da excursão diária! Escola que não sai é como um candidato a piloto que não descola da cadeira simuladora!
A paz sem pernas, visível nos maus frequentadores dos ginásios, porque sossegam a sua cabeça pelo simples acto de se inscreverem, não deverá estender-se à cinotecnia, debicar a sua dinâmica ou comprometer os seus objectivos. Ensinar é uma acção continuada para produzir resultados, um subsídio para a vida e para a sobrevivência. Nós estamos cá para que os cães tenham vida em abundância! E como o adestramento é também desporto, poucas actividades desportivas são tão abrangentes, próprias para todas as idades, sexos e tipos físicos. O ensino canino é feito em movimento e não pode ser só travamento, aumenta com a experiência e procura vencer a novidade. A escola-ginásio só serve para os cães que nunca saem de casa, papagaios desengonçados em gaiolas de betão.
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